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Panelaço contra o governo Cristina mobiliza milhares
Protesto, que começou com ato de líder ruralista detido no sábado, se espalha além de bairros nobres de Buenos Aires
Governo e campo medem força em manifestações amanhã; desabastecimento causado por bloqueios se agrava e economia sofre
Juan Mabromata - 14.jun.08/France Presse
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Caminhões parados em um bloqueio de produtores rurais em estrada argentina
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
Os panelaços contra o governo de Cristina Kirchner, que se
concentravam em bairros mais
nobres de Buenos Aires, tomaram ontem à noite as ruas da
capital e se espalharam por regiões mais simples e por outras
cidades, como Córdoba, Rosário, Mendoza e Bariloche.
A senha para o movimento
de milhares de pessoas foi a
transmissão, pela televisão, de
uma marcha liderada em Gualeguaychú, 200 km ao norte de
Buenos Aires, pelo líder da ala
mais radical dos produtores rurais, Alfredo De Angeli, que foi
detido no sábado por bloquear
uma estrada e liberado sete horas depois.
A detenção de De Angeli e de
outros 19 ruralistas, que se recusavam a liberar o tráfego, levou o setor agrário a decretar o
quarto locaute desde 11 de março, quando o governo aumentou os impostos sobre a exportação de grãos para garantir o
abastecimento interno, conter
o preço dos produtos e redistribuir os lucros do setor.
O conflito entre o campo e o
governo argentino promete se
acirrar ainda mais amanhã,
com a realização de dois grandes atos rivais. A base de apoio
do governo convocou uma manifestação na praça de Maio,
em frente à Casa Rosada, em
Buenos Aires, em defesa do governo de Cristina Kirchner, enquanto o setor agropecuário
promoverá um dia de protestos
em todo o país.
Do primeiro ato, participarão
o ex-presidente Néstor Kirchner, sindicatos, piqueteiros e
movimentos sociais que
apóiam o governo; o segundo
deve ter apoio da população do
interior e da classe média e alta
das grandes cidades.
Desabastecimento
Diante da falta de diálogo, a
mobilização mostra que a crise,
que já dura quase cem dias, está
longe de terminar. Os locautes
dos ruralistas, que impedem a
venda e a passagem de alimentos e combustíveis nas estradas, vêm provocando desabastecimento no país. Nos últimos
dias, donos de caminhões que
transportam grãos se somaram
aos bloqueios -argumentam
que estão sem trabalho.
Os bloqueios de estradas causam desabastecimento de combustíveis e falta de alimentos.
Em La Plata, capital da Província de Buenos Aires, metade
dos postos de combustível teve
de fechar por falta de gasolina.
Nos supermercados de todo
o país, faltam alimentos como
azeite e laticínios, e várias padarias tiveram sua produção
afetada pela escassez de farinha. Por não ter como dar vazão à produção de leite, empresas do setor têm distribuído ou
jogado fora centenas de milhares de litros por dia.
A falta de produtos agrava
ainda mais o aumento de preços, que já era fator de crise antes do conflito, e freia o consumo. As vendas do Dia dos Pais,
no domingo, caíram pelo menos 10% em relação a 2007.
Em vez de aproveitar o
"boom" do preço das commodities agrícolas no mercado internacional, estima-se que o país
tenha perdido US$ 1,6 bilhão
em vendas ao exterior com a
paralisação da comercialização
de grãos para a exportação.
Operadores do setor imobiliário, um dos que mais cresce
no país, afirmam que as vendas
caíram entre 20% e 30% durante a crise. Diante desse cenário, especialistas afirmam
que a economia argentina, que
cresce a mais de 8% anuais há
cinco anos, pode sofrer um esfriamento em 2008 e avançar
apenas entre 5,5% e 6%. A economia não é o único setor afetado. A imagem positiva de
Cristina caiu 30 pontos, de 56%
para 26% durante a crise, segundo o instituto Poliarquia.
Caminhoneiros brasileiros
estiveram envolvidos em conflitos porque queriam passar
pelos piquetes rurais.
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