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ARGENTINA
Ex-general, preso em 9 de junho, deve continuar detido até ser julgado; bens do ex-presidente são embargados
Juiz estende prisão do ex-ditador Videla
AUGUSTO GAZIR
de Buenos Aires
O ex-general Jorge Rafael Videla,
72, presidente da Argentina entre
1976 e 81, continuará preso na penitenciária de Caseros (Buenos Aires) até a data de seu julgamento,
segundo decisão tomada ontem
pelo juiz Roberto Marquevich.
Videla é acusado em quatro processos por sequestro, substituição
de identidade e falsificação de documentos de cinco recém-nascidos, filhos de desaparecidas políticas do regime militar (1976-83).
Além da prisão preventiva, o juiz
Marquevich ordenou o embargo
de bens do ex-militar até a soma
de US$ 5 milhões. A medida é preventiva para o caso de Videla ter
de pagar indenizações às famílias
das vítimas.
Para Marquevich, Videla ordenou a execução de plano sistemático para apropriação de recém-nascidos, filhos de presas políticas que deram à luz em centros
de detenção clandestinos mantidos pelo governo militar.
Os advogados de Videla entraram com recurso na Câmara Federal para que o ex-militar cumpra
prisão domiciliar por ter mais de
70 anos. O juiz Marquevich já recusou esse pedido, pois exames
realizados no ex-presidente não
constataram nenhum problema
de saúde.
As Avós da Praça de Maio, entidade que iniciou os processos contra Videla, comemoraram a prisão
preventiva do ex-general.
"Queremos encontrar nossos
netos. Achamos bom que um dos
responsáveis fique preso. Videla é
apenas um", disse Rosa Rosemblit, vice-presidente da entidade.
Justiça militar
Jorge Rafael Videla foi detido em
9 de junho, por ordem do mesmo
juiz Roberto Marquevich. Na ocasião, o ex-general se negou a depor
e exigiu ser julgado por um tribunal militar. Alguns membros da
Justiça argentina e advogados do
ex-general afirmam que as acusações que mantêm Videla preso já
foram julgadas em 1985.
Naquele ano, os comandantes
do regime ditatorial perderam a
condição de militar e foram condenados a prisão perpétua pelos
crimes cometidos pelo Estado no
período. Cinco anos depois, o presidente Carlos Menem os indultou. Na interpretação do juiz Roberto Marquevich, o sequestro dos
recém-nascidos é um crime ainda
em prática, já que as vítimas ainda
não recuperaram sua verdadeira
identidade.
Segundo os arquivos da Conadep -comissão governamental
que investigou na década de 80 os
crimes cometidos pelos militares-, há uma estimativa de que
500 bebês tenham sido sequestrados em todo o país pelo regime. Já
foram localizados 59.
O juiz Adolfo Bagnasco também
investiga processos sobre sequestro de recém-nascidos. Ele está na
Europa para ouvir depoimentos
de ex-presos da ditadura.
Bagnasco e Marquevich não descartam citar ou ordenar a prisão
de outros militares.
Nesta semana, o ex-capitão da
Marinha Alfredo Astiz depôs na
Justiça argentina sobre o tema dos
menores desaparecidos, citado
pela juíza María Servini de Cubría.
Astiz negou conhecer realização
de partos na Esma (Escola de Mecânica da Marinha).
'Meu general'
Jorge Videla está preso em cela
de um setor especial da penitenciária de Caseros. Acorda às 5h,
toma chá e lê os jornais. Pela manhã, caminha no pátio. Ele é chamado por alguns funcionários do
presídio de "meu general".
O ex-militar é sempre visitado
por seus filhos. A mulher de Videla ainda não foi a Caseros. O controle de visitas ficou mais rígido
depois da chegada do líder do movimento militar de 1976.
Na semana passada, circulou a
notícia de que o ex-general foi atacado por um preso jovem, armado
com uma faca, no ginásio da penitenciária. A direção do presídio
negou a versão.
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