São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2005

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BÁLCÃS

Promotora da ONU declara que não irá a Srebrenica em "respeito às vítimas"

Cerimônia marca massacre na Bósnia

DA REDAÇÃO

Carla Del Ponte, promotora do Tribunal Penal Internacional para a ex-Iuguslávia, da ONU, disse ontem ao jornal francês "Le Monde" que não participará das cerimônias em memória aos dez anos do massacre de Srebrenica -cidade da Bósnia em que sérvios assassinaram 8.000 homens e meninos muçulmanos, em julho de 1995- , que ocorre hoje na cidade, "por respeito às vítimas".
O genocídio, orquestrado pelo ex-líder político dos sérvios da Bósnia Radovan Karadzic e por seu braço-direito militar, Ratko Mladic, é considerado o pior massacre da Guerra da Bósnia (1992-95) e a maior atrocidade cometida na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-45).
Del Ponte afirmou que se sente impedida de participar da cerimônia. "Tenho um mandato para trazer Radovan Karadzic e Ratko Mladic diante da Justiça", disse. Ela ainda não conseguiu fazê-lo. Embora tenha afirmado depender de outras forças para capturá-los e levá-los a julgamento, a promotora afirmou que "aos olhos das vítimas", ela é a responsável.
A Guerra da Bósnia opôs bósnios, de maioria muçulmana, que queriam a independência da Sérvia, a sérvios.
Ao mesmo tempo, o comandante da força de paz da União Européia na Bósnia, general David Leakey, disse ontem que "o cerco está se fechando" em torno a Karadzic e Mladic. Ele afirmou que há crescentes dados de inteligência sobre o paradeiro dos dois. "É um pouco como pegar Osama bin Laden", comparou.
Após assassinar os 8.000 muçulmanos, as tropas sérvias da Bósnia depositaram os corpos em valas comuns, que ainda estão sendo descobertas, dez anos depois.
Restos mortais redescobertos e identificados por testes de DNA serão enterrados em covas individuais na cerimônia de hoje. Cerca de 2.000 vítimas do massacre já foram identificadas e enterradas novamente, mas a maioria dos demais corpos ainda espera para serem analisados -e outras 20 valas comuns ainda devem ser analisadas. Ontem, uma procissão de 610 caixões de vítimas do massacre, identificadas por testes de DNA, que serão enterradas hoje, atravessou Sarajevo, na Bósnia.
O atual presidente da Sérvia, Boris Tadic, que também deve participar da cerimônia, afirmou ontem que seu país deve demonstrar "distância" dos criminosos de guerra. "Nós não apoiamos aqueles crimes", declarou.
Tadic enfrenta críticas de ultranacionalistas sérvios por ter decidido comparecer a Srebrenica. Muitos deles consideram Karadzic e Mladic heróis e afirmam que tropas sérvias nunca cometeram crimes de guerra. Uma manifestação nacionalista reuniu 5.000 pessoas, anteontem, em Belgrado.


Com agências internacionais

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