São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2005

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Polícia multiplica ações após ataques

DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

DE LONDRES

A normalidade com que os britânicos seguem a vida depois dos atentados tem contrastado nos últimos dias com ações frenéticas da polícia. Ontem, vários ônibus foram esvaziados próximos à área de Angel, zona leste da cidade. O rumor ouvido pelos passageiros era de que um pacote suspeito havia sido deixado no chão de um ônibus da linha 341.
Um porta-voz do departamento de transporte de Londres confirmou à Folha que passageiros tiveram de abandonar vários ônibus e algumas ruas foram fechadas na região por conta de um "alerta de segurança". A ação durou 50 minutos e, como a suposta ameaça não foi confirmada, o movimento voltou ao normal.
Ainda segundo ele, várias ações desse tipo ocorreram em diferentes pontos da cidade, na maior parte das vezes motivadas por ligações do próprio público sobre algo suspeito, como pacotes desacompanhados.
A polícia de Londres chegou a prender na manhã de ontem três homens de nacionalidade britânica no aeroporto internacional de Heathrow, o maior da cidade, evocando as leis antiterror do país. Os suspeitos-ninguém sabe exatamente de qual crime, já que a polícia não divulgou essa informação- foram interrogados e acabaram sendo soltos sem nenhuma acusação formal no fim da noite.
Mais cedo, o vice-comissário da polícia metropolitana, Brian Paddick, já havia dito que a ação não tinha ligação direta com os atentados da última quinta-feira.
Mas na falta da avanços mais concretos nas investigações, a imprensa chegou a se apegar à notícia como um possível primeiro passo à frente na caçada aos culpados.
Carros de polícia com sirenes ligadas têm cruzado as ruas da cidade sem parar, durante todo o dia. Pelo menos, 100 alarmes de segurança falsos já ocorreram. Há um enorme reforço de policiais em toda Londres.
Anteontem à noite, a polícia chegou a retirar 20 mil pessoas do centro de Birmingham-segunda maior cidade do Reino Unido-e a explodir quatro pacotes suspeitos no local.
Todas essas ações indicam que ou uma certa paranóia tomou conta das autoridades policiais britânicas desde os ataques ou, de fato, têm havido outras ameaças à segurança da população.
Em relação ao caso de Birmingham, pelo menos, a polícia disse, claramente, que se trata da segunda hipótese. Ontem, autoridades afirmaram que os moradores e turistas que circulavam na área evacuada estiveram sob "uma ameaça real e muito crível".
As reações do governo britânico também passam uma sensação de insegurança e chance de novos ataques.
O ministro do Interior do país, Charles Clarke, advertiu a população, em uma entrevista ao canal de notícias 24 horas da BBC, que novos ataques podem ocorrer se os terroristas não forem presos:
"Nosso medo é, claro, que ocorram mais ataques até que consigamos encontrar a gangue que cometeu as atrocidades na quinta-feira (...) É por isso que nossa prioridade número um tem de ser prender os autores".
Segundo a imprensa britânica, a polícia tem se concentrado agora na investigação do que se passou no ônibus da linha 30-no qual morreram 13 pessoas nos ataques da semana passada. Uma das teorias que circulava era de que a bomba foi deliberadamente estourada no ônibus mais tarde que nos metrôs, já que este estaria lotado devido ao fechamento das estações de trem.
Outra suposição é que a bomba tenha explodido acidentalmente, mas seu destino final fosse também o metrô. Está, praticamente, descartada a possibilidade de que se tratasse de terroristas em missão suicida.
Na busca pelos presos, a polícia fez um apelo à população britânica: que entrem em contato com a polícia caso tenham fotos ou vídeos, feitos com celulares ou equipamentos tradicionais, nas áreas próximas às explosões.
Segundo Paddick, 1,7 mil pessoas já procuraram a linha de telefone "antiterrorismo" da polícia nos últimos quatro dias e algumas teriam passado informações muito relevantes.
A suposição de que muçulmanos radicais possam estar por trás dos atentados levaram a um aumento de ataques contra as comunidades muçulmanas nos últimos dias.
Segundo a polícia, além de pichações em mesquitas, uma ação teria deixado pessoas feridas.
Em uma tentativa de evitar manifestações racistas deste tipo, líderes de diferentes religiões-como anglicana, muçulmana e judaica- religiões divulgaram um comunicado conjunto, anunciando uma frente unida contra o terrorismo. (CR E EF)

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