São Paulo, sábado, 10 de junho de 2006

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ARGENTINA

Filha de presos políticos é identificada contra a vontade

DE BUENOS AIRES

Depois de 20 anos de processo e baseado numa decisão inédita da Justiça argentina, as Avós da Praça de Maio anunciaram ter identificado, por meio de teste de DNA, uma mulher de 28 anos como filha de um casal de desaparecidos na ditadura argentina (1976-1983).
A mulher se recusava a doar sangue para fazer a prova genética, requerida pela associação na Justiça. A alternativa usada pelo juiz da ação foi ordenar que oficiais cumprissem ordem de busca e apreensão na casa da suposta filha de presos políticos. Uma escova de dentes e cabelos coletados foram usados no teste de DNA. Foi a primeira vez que se tomou esse tipo de medida no país.
O exame permitiu comprovar a identidade biológica da mulher: ela é filha de María Elena Corvalán e Mario Suárez, seqüestrados por um grupo da Marinha argentina em junho de 1977.
É o 83� caso de pessoas identificadas pelas Avós da Praça de Maio como filhos de desaparecidos. A associação recebe verba do governo argentino, da União Européia e de outros organismos para investigar o paradeiro de crianças nascidas em cativeiro na ditadura. Estima-se que 500 bebês foram ilegalmente adotados durante o regime militar.
A decisão de fazer o teste de DNA à revelia causou polêmica entre juristas argentinos. Para especialistas, a Justiça violou o direito de privacidade ao ordenar busca e apreensão de objetos.
O grupo se defendeu, afirmando que "foi uma ferramenta válida para aliviar os jovens do peso de submeter-se a esse tipo de análises".
A ação para a identificação da filha do casal Corvalán e Suárez está na Justiça desde 1985. Foi instalada com base na suposta apropriação indevida de um bebê por um casal da cidade de La Plata (70 km de Buenos Aires). Embora registrada como filha natural, vizinhos afirmaram que a suposta mãe da criança nunca havia estado grávida. O casal se refugiou no Paraguai levando a criança, em 1986, e o processo se arrastou até agora.


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