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opinião
Manobras militares na questão nuclear
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Num tom desafiador comum em Teerã, o chefe da
Guarda Revolucionária, general Yahia Safasi, afirmou,
após manobra militar no golfo Pérsico, que o Irã tem condição de enfrentar qualquer
invasão "extra-regional".
Há movimento militar na
questão nuclear iraniana.
Antes, um colunista americano com boas fontes no
Pentágono informara sobre
exercícios de tropas dos EUA
e do Reino Unido no mar
Cáspio. Já no golfo Pérsico,
veio a público o "Hoot", torpedo com dispositivos de
precisão de última geração. A
lista feita por um jornalista
europeu inclui barcos de alta
velocidade e avançados sistemas de radar em condições
de neutralizar foguetes de
lançamentos subaquáticos.
O Pentágono minimizou o
treino, que levou o emblema
religioso de "Grande Profeta". Já os institutos internacionais que acompanharam
os "jogos de guerra" realizados abertamente no golfo os
viram como importantes.
Isso não significa que seja
menor a diferença abismal
entre o poder das armas dos
respectivamente US$ 550 bilhões e US$ 4 bilhões anuais.
Mas a massa humana em
uniforme, a maior arma na
guerra contra o Iraque nos
anos 80, pode ser um trunfo.
Eram hordas que se jogavam
contra os inimigos. O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres, contou 350 mil soldados, mais 125 mil nas filas da
Guarda Revolucionária.
De nada valeriam em caso
de ataques cirúrgicos a instalações nucleares, uma opção
do Pentágono. Ganha força,
no entanto, outra questão: é
no Iraque, hoje, a disputa
maior entre EUA e Irã.
Ambos cortejam os mesmos aliados, xiitas e curdos,
cada um com seu projeto, o
iraniano com ancoragem
mais sólida (líderes dos dois
maiores partidos xiitas, perseguidos por Saddam Hussein, se asilaram no Irã).
Os iranianos querem que
uma onda xiita cubra o
Oriente Médio, a partir do
Iraque, onde os americanos
atolariam, sem condições de
se lançar em novas aventuras
militares. Já os EUA pensam
num Iraque "ocidental", capaz de reavivar a doutrina
dos ataques preventivos,
com o Irã na alça de mira.
Qualquer ação futura depende do Iraque, onde EUA e
Irã travam uma guerra de
conteúdo sobretudo político.
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de
questões internacionais
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