São Paulo, sábado, 10 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

opinião

Manobras militares na questão nuclear

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Num tom desafiador comum em Teerã, o chefe da Guarda Revolucionária, general Yahia Safasi, afirmou, após manobra militar no golfo Pérsico, que o Irã tem condição de enfrentar qualquer invasão "extra-regional".
Há movimento militar na questão nuclear iraniana.
Antes, um colunista americano com boas fontes no Pentágono informara sobre exercícios de tropas dos EUA e do Reino Unido no mar Cáspio. Já no golfo Pérsico, veio a público o "Hoot", torpedo com dispositivos de precisão de última geração. A lista feita por um jornalista europeu inclui barcos de alta velocidade e avançados sistemas de radar em condições de neutralizar foguetes de lançamentos subaquáticos.
O Pentágono minimizou o treino, que levou o emblema religioso de "Grande Profeta". Já os institutos internacionais que acompanharam os "jogos de guerra" realizados abertamente no golfo os viram como importantes.
Isso não significa que seja menor a diferença abismal entre o poder das armas dos respectivamente US$ 550 bilhões e US$ 4 bilhões anuais. Mas a massa humana em uniforme, a maior arma na guerra contra o Iraque nos anos 80, pode ser um trunfo.
Eram hordas que se jogavam contra os inimigos. O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres, contou 350 mil soldados, mais 125 mil nas filas da Guarda Revolucionária.
De nada valeriam em caso de ataques cirúrgicos a instalações nucleares, uma opção do Pentágono. Ganha força, no entanto, outra questão: é no Iraque, hoje, a disputa maior entre EUA e Irã.
Ambos cortejam os mesmos aliados, xiitas e curdos, cada um com seu projeto, o iraniano com ancoragem mais sólida (líderes dos dois maiores partidos xiitas, perseguidos por Saddam Hussein, se asilaram no Irã). Os iranianos querem que uma onda xiita cubra o Oriente Médio, a partir do Iraque, onde os americanos atolariam, sem condições de se lançar em novas aventuras militares. Já os EUA pensam num Iraque "ocidental", capaz de reavivar a doutrina dos ataques preventivos, com o Irã na alça de mira.
Qualquer ação futura depende do Iraque, onde EUA e Irã travam uma guerra de conteúdo sobretudo político.


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais

Texto Anterior: Irã tem "semanas, e não meses" para decidir, diz Bush
Próximo Texto: Estudantes acabam greve e mudam discurso no Chile
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.