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Primos de João Paulo 2� na Polônia se enternecem ao contar passagens da vida do papa, descrito como preocupado com os familiares
Família Wojtyla lembra parente "santo"
ROZANE MONTEIRO
ENVIADA ESPECIAL A WADOWICE
Os olhos azuis de Alojzy Wojtyla, 80 anos na semana que vem,
brilham, e ele morre de rir quando se apresenta, maroto: Eu sou o
filho de Karol Wojtyla. Não é
mentira. Seu pai tem o mesmo
nome do papa João Paulo 2�, nascido em família de vários homens
batizados como Karol.
Alojzy mora em Czaniec, cidadezinha a pouco mais de 20 km de
Wadowice, a terra do papa, no sul
da Polônia. E seu avô era irmão de
outro Karol, o pai de João Paulo
2�. Para ele e a família Wojtyla, o
papa será sempre Lolek (apelido
para quem é Karol), um grande
sujeito: "A melhor coisa dele é que
veio de família pobre, como eu.
Um homem bom, como eu".
Alojzy passou a vida construindo alicerces para casas. Ele diz
que, em toda a sua vida, já fez 120
mil. A mulher, Ludwika, 78, desconfia do número e faz cara feia.
Ele devolve a cara feia e jura que é
verdade. E assim os dois, ao contar histórias de família, vão brigando e disputando para ver
quem tem a melhor. Os dois só
concordam em uma coisa: o papa
era um típico Wojtyla, sempre
preocupado com a família. O Karol que nasceu para entrar para a
história sempre queria saber como seus parentes estavam. E sempre se manifestava, por carta ou
pessoalmente; no Vaticano e em
suas visitas a Wadowice.
"Uma vez Lolek perguntou ao
meu pai porque ele não tinha me
deixado ir para a escola para virar
professor. Meu pai não respondeu. Hoje, eu posso dizer que eu,
não, mas um dos meus dois filhos
é professor", conta Alojzy, orgulhoso, mostrando a foto de um
deles, Jan, e da nora, Janina, no
Vaticano, com o papa.
Ludwika lembra de uma outra
visita que alguns parentes do papa e o padre Kazimierz Hanzlig,
da paróquia local, fizeram ao Vaticano -o casal não chegou a nenhuma conclusão quanto à data.
O fato é que Kazimierz, homem
de seus 30 e poucos anos na ocasião, estava ficando calvo. "Ele
perguntou onde é que estava o cabelo do padre e disse que ele era
muito novo para ficar careca. Coitado do padre. Ficou vermelho."
Dessas visitas, os dois guardam
até hoje os crachás de visitante do
Vaticano para as audiências privadas dos parentes de João Paulo
2� com ele, onde se lê, em polonês:
"Em que outro lugar alguém pode
se sentir tão bem quanto quando
está em família?".
É só quando decidem contar o
dia em que o papa se viu numa situação absolutamente embaraçosa que os dois param de brigar.
Segundo os dois ouviram de amigos de João Paulo 2�, ele tinha acabado de assumir o comando da
Igreja Católica quando visitou Zakopane, também no sul da Polônia. Na ocasião, ele era esperado
para celebrar uma missa. Mas estava sem seu relógio e resolveu
pedir ajuda à primeira pessoa que
viu: uma mulher que tomava banho de sol e que já estava cansada
de responder à mesma pergunta,
feita por cavaleiros interessados
em puxar conversa. "Você sabe
quantos homens já me perguntaram a hora hoje?", perguntou a
mulher, brava. Contam os amigos
que João Paulo 2� não perdeu a
calma e disse apenas: "Mas eu sou
um padre". Piorou. "Sei, sei. Essa
é nova", disse a mulher.
E acham graça do caso que o
próprio papa contou, na praça
João Paulo 2�, em 1999. Qualquer
cidadão de Wadowice sabe a história de cor. Ele estava especialmente bem-humorado naquele
dia e começou a falar de sua infância e de um certo bolo tradicional
na Polônia, o kremówka -feito
de massa folheada recheada com
creme. Todos ouviam atentamente quando ele começou a rir, sem
explicar o que havia de tão engraçado sobre o bolo. Ele acabou
contando. Em seu tempo de menino, o kremówka era feito com
doses caprichadas de vodca, e a
diversão de sua turma de amigos,
já que não podiam beber, era comer vários pedaços do bolo. Desde então, o doce virou tradição na
praça João Paulo 2�. Só não é mais
feito com as doses generosas de
vodca do tempo de Lolek.
Alojzy e Ludwika moram numa
típica paisagem do sul da Polônia,
numa região cercada por montanhas e bosques. Na mesma casa,
mora um dos filhos com a família.
Na casa ao lado, moram Jan e Janina, que foram para o funeral do
papa. Da vila de 5.000 habitantes,
cerca de 120 moradores, em três
ônibus, foram para Roma. Alojzy
e Ludwika ficaram. Ele achou que
estava muito velho para uma viagem tão longa. Mas não sofre por
isso. Prefere guardar na lembrança a imagem de João Paulo 2� caminhando pelas montanhas de lá
há 35 anos, última visita dele à casa de Alojzy.
Os olhos de Alojzy só perdem o
brilho quando ele fala do sábado
retrasado. Estava dormindo
quando o papa morreu. Foi acordado pela neta. Ligou a televisão e
confirmou. Entristeceu-se demais, embora já estivesse, como
todos, esperando a notícia. "Foi
muito difícil para ele. Ele sofreu
muito. Como Jesus Cristo." Convencido de que João Paulo 2� vai
virar santo, ele diz que não faz a
menor idéia de qual será o primeiro milagre de Lolek: "Só ele sabe".
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