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"Gostaria de um papa romano", diz censurado
DA REPORTAGEM LOCAL
"Pessoalmente, não quero um
papa brasileiro. Quero um papa
romano, italiano, mas que respeite as igrejas locais. Que não seja
um superbispo, o chefe de uma
igreja multinacional. A igreja não
é uma Volkswagen", diz o monge
beneditino Marcelo Barros, 60.
No seu entender, "o papa é o bispo de Roma, e é melhor que seja
romano do que brasileiro".
O monge diz que sofreu censura
no pontificado de João Paulo 2�
pela liberdade com que se expressa e por ser acusado de sincretismo. "Eu acredito que seja uma
missão da igreja essa comunhão
de todas as culturas. Eu me insiro
na religião afro-brasileira, pois
acredito nesse ecumenismo."
Pernambucano, ex-assessor de
d. Hélder Câmara, teólogo com 26
livros publicados, Barros também
é alvo de críticas dos conservadores pelo trabalho que realiza com
comunidades do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem-Terra) em Goiás.
"Eles [os conservadores] não estão acostumados com a liberdade", diz. Quando o papa escreveu
uma epístola dizendo que os divorciados não podiam comungar,
Barros enviou uma "carta aberta"
em que tratava João Paulo 2� por
"caríssimo irmão". "Foi considerado um desrespeito. Mas eu acho
que o maior respeito é chamar alguém de irmão", diz o monge.
Quando o cardeal Joseph Ratzinger defendeu que a Igreja Católica era a única verdadeira, na
carta "Dominus Iesus", o monge
pernambucano fez trocadilho que
custou censura. Disse que o cardeal "estava dominando Jesus e
controlando os bispos católicos".
"Não sou a favor de uma internacionalização maior do papado.
João Paulo 2� criou a diocese em
que ele é o único bispo. Tudo era
centrado na figura dele, com seu
carisma, suas qualidades e também com todas as suas limitações.
Isso não é bom para a igreja."
Para Barros, "o Concílio Vaticano 2� decidiu que a igreja é local, e
que a Igreja Católica é a comunhão de todas as igrejas". No seu
entender, o papa tem a função de
coordenar a unidade. "Não é um
bispo acima dos outros. Minha
esperança é que haja uma descentralização", diz. (FV)
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