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Homenagens são criticadas na França
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
As homenagens oficiais ao papa, incluindo luto e bandeiras a
meio pau, parecem algo natural
para os brasileiros. Na França
-país orgulhoso de sua laicidade-, contudo, elas suscitaram
uma controvérsia a respeito da separação entre a igreja e o Estado.
"Desde 1905, quando foi adotada a lei que estabelece a estrita separação entre a igreja e o Estado,
trata-se de um "tema sagrado" para os franceses. Nenhuma religião
pode ser privilegiada em detrimento de outras. Para muitos em
nossa sociedade laica, o que ocorreu em relação ao papa foi contrário à nossa legislação", disse à Folha Marc Sadoun, do Centro de
Estudo da Vida Política Francesa.
O debate começou no domingo
passado, um dia depois da morte
do papa, quando Christophe Girard (Verdes), assessor da Prefeitura de Paris, se disse "preocupado" com a situação, pois o presidente Jacques Chirac ordenara a
demonstração oficial de respeito
pela morte de João Paulo 2�.
No dia seguinte, o senador socialista Jean-Luc Melanchon e
Yves Contassot, também dos Verdes, expressaram descontentamento com o luto oficial e a colocação das bandeiras a meio pau.
Para ambos, tratava-se de um
atentado à separação entre a igreja e o Estado e um privilégio concedido a uma religião específica.
O senador socialista Michel
Charasse afirmou, ainda na segunda-feira, que estava "perturbado" com as homenagens oficiais a João Paulo 2� na França. "A
República Francesa não deveria
descer a tal nível. Se o dalai-lama
morresse amanhã, nós também
colocaríamos as bandeiras a meio
pau?", questionou Charasse.
Ademais, o prefeito comunista
de Aniane, no sul do país, se recusou a colocar as bandeiras a meio
pau "em nome da secularidade",
de acordo com seu gabinete.
"Depois da entrada em vigor da
lei que proíbe o uso de símbolos
religiosos nas escolas públicas, no
ano passado, o modo como o Estado lida com a religião se tornou
um tema bastante sensível. E a deferência oficial à morte do papa
foi muito malvista pelas outras
comunidades", analisou Sadoun.
O premiê Jean-Pierre Raffarin
se defendeu, imediatamente, das
acusações. Um de seus porta-vozes frisou que, em 1989, quando
da morte do imperador Hirohito,
do Japão, e, em 1991, quando
morreu o rei Olaf 5�, da Noruega,
também houve luto oficial e as
bandeiras ficaram a meio pau.
"A defesa do governo não é desprovida de sentido, visto que o
papa é o chefe do Estado do Vaticano. É inevitável, no entanto, que
haja uma confusão generalizada,
pois, além disso, João Paulo 2� era
o chefe da Igreja Católica. Mas,
mesmo assim, a controvérsia é
exagerada e pode ter um cunho
político", explicou Sadoun.
"A França vive um momento de
agitação política, em que alguns
importantes projetos do governo,
como a reforma do sistema educacional, são atacados por uma
parcela significativa da população. Assim, nenhuma hipótese
deve ser descartada."
De fato, os membros do partido
governista -UMP (União por
um Movimento Popular)- foram mais discretos e evitaram tecer críticas à atitude do governo.
Vale lembrar que, atualmente, o
governo de centro-direita e boa
parte da oposição socialista fazem
campanha pela aprovação da
Constituição da União Européia e
que, por ora, as pesquisas de intenção de voto mostram que seu
esforço não tem surtido efeito positivo -entre 52% e 54% apóiam
o "não". A propósito, Melanchon
e Contassot não são favoráveis à
adoção da Carta européia.
Com o jornal "Le Monde"
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