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EM BUSCA DO PAPA
Segundo a igreja, não se trata de uma proibição de falar, mas sim de um "convite" aos jornalistas a não solicitarem entrevistas
Cardeais fazem voto de silêncio até eleição
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
Os cardeais que elegerão o sucessor de João Paulo 2� decidiram, "por unanimidade", decretar um total blecaute informativo
até que escolham o novo papa:
não concederão mais entrevistas.
A informação foi dada pelo
porta-voz do Vaticano, Joaquín
Navarro-Valls, para quem não se
trata de um blecaute nem de uma
"proibição de caráter jurídico", e
sim de "um convite" aos jornalistas (para que não solicitem entrevistas).
Navarro-Valls disse que o período até o conclave, que se abre
na segunda-feira, dia 18, é "de intensas orações", razão pela qual
os prelados teriam decidido calar-se. A decisão foi tomada na
reunião de ontem da Congregação Geral, que responde pelo governo da igreja na transição até a
eleição de um novo papa.
"Todos temos visto que não
passa dia sem comentários ou
entrevistas dos cardeais. Ainda
ontem (sexta-feira, o dia do enterro do papa), havia até um cardeal [falando] na televisão".
É só metade da verdade: de fato
alguns (poucos) cardeais têm dado entrevistas, mas nunca falaram sobre nomes para suceder
João Paulo 2�, que é, afinal, o objetivo único do conclave.
Falam, acima de tudo, sobre a
vida e a obra do papa morto e, secundariamente, de temas que
preocupam a igreja. Neste último
ponto, cabe a interpretação de
que estão falando sobre questões
do conclave, na medida em que
há virtual consenso entre os "vaticanistas" de que, antes de pensar em nomes, os prelados estabelecerão prioridades temáticas.
Ou seja, definirão primeiro que
tipo de igreja querem para o futuro. Depois, sim, verão que cardeal é mais apto para tornar realidade a igreja desenhada.
O blecaute informativo em tese
é desnecessário, na medida em
que cada cardeal que vive em Roma ou que chega à capital italiana
presta o seguinte juramento:
"(juro) manter escrupulosamente o segredo sobre tudo que, de
qualquer forma, tenha relação
com a eleição do Pontífice Romano ou que, por sua natureza,
exija o mesmo sigilo".
Exemplo claro
Um exemplo muito claro do tipo de declarações que alguns cardeais estão dando é a entrevista
que o primaz da Bélgica, o papável Godfried Danneels, deu ao
jornal "La Repubblica", publicada anteontem.
Danneels em nenhum momento sequer tangenciou a questão de nomes para suceder João
Paulo 2�. Mas falou bastante sobre temas que preocupam a igreja.
Primeiro tema, que parece
prioritário entre os cardeais: o
que o jargão da igreja batizou de
"colegialidade".
Em linguagem leiga: uma
maior democratização no processo de tomada de decisões, devolvendo poderes e funções que
os bispos e, por extensão, as conferências episcopais nacionais
perderam durante o período
João Paulo 2�, em favor da Cúria
Romana, o governo do Vaticano.
Danneels cobrou um "papa
forte e um episcopado forte", típica solução intermediária. Sua
declaração é apenas o reconhecimento do óbvio: "Na Igreja, não
se verifica uma descontinuidade". Não há que esperar que o
novo papa comece do zero.
De todo modo, o tema da colegialidade não é uma questão de
interesse apenas interno da igreja. Invade todos os outros campos em debate, do que dá prova
ainda Danneels, ao constatar que
continentes diferentes oferecem
desafios diferentes para a igreja.
Ao apontar os problemas locais, Danneels automaticamente
sinaliza que uma maior democracia interna levará a discussões
de temas que a Cúria mantém soterrados. Um deles, citado pelo
belga: "Deixando de lado o sacerdócio das mulheres, é preciso dar
responsabilidades a elas. Devem
estar no governo da igreja".
Nesse ponto, Danneels coincide com dom Cláudio Hummes,
igualmente papável, embora use
tom mais enfático. d. Cláudio defende, sim, "um diálogo colegiado" sobre vários temas, entre eles
o da participação da mulher, sem
chegar no entanto a pedir que estejam "no governo da igreja".
Esse tipo de discussão se tornará mais forte antes mesmo do
conclave, na medida em que, na
semana que vem, a Congregação
Geral, que se reúne obrigatoriamente todos os dias, discutirá a
situação atual da igreja.
Cada continente, por seus cardeais, relatará problemas específicos (aqueles que Danneels já listou e outros), exatamente as
questões que o próximo papa será chamado a responder.
O problema é que essa discussão não chegará ao público em
conseqüência do blecaute decretado por seus participantes.
Santidade prorrogada
Além de enunciar o blecaute, o
Vaticano arrecefeu os apelos populares para que João Paulo 2�
seja declarado santo imediatamente -"santo subito!" [santo
agora] gritaram os fiéis no funeral. Segundo o porta-voz da Santa Sé, qualquer decisão sobre o
processo de beatificação de João
Paulo 2� ficará a cargo do próximo papa.
Ontem foi anunciada mais uma
baixa no grupo de 117 cardeais
que possuem direito a voto no
conclave que escolherá o próximo
papa: segundo o Vaticano, o cardeal Antonio Suárez Rivera, arcebispo emérito de Monterrey, no
México, não irá comparecer, por
razões de saúde.
Com agências internacionais
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