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TRAGÉDIA NA ÁSIA
Para ativistas, governos se comprometem para ter evidência, mas se "esquecem" da verba quando o tema morre
Ajuda prometida nunca chega, dizem ONGs
DA REDAÇÃO
Grupos de ajuda humanitária e
ONGs fizeram o alerta de que, a
exemplo do que ocorreu em desastres anteriores, a ajuda internacional aos países atingidos pelo
tsunami no sudeste da Ásia pode
ficar muito aquém do prometido
pelos doadores.
Segundo levantamento desses
grupos, em alguns casos, apenas
um terço das doações prometidas
para vítimas de desastres se transformou em dinheiro vivo.
Dos US$ 32 milhões que a comunidade internacional se comprometeu a enviar imediatamente após o terremoto que destruiu
Bam, no Irã, em 2003, apenas US$
17,7 milhões haviam chegado ao
local um ano depois, de acordo
com o grupo Christian Aid.
Já as vítimas do furacão Mitch
na América Central, em 1998, receberam a promessa de mais de
US$ 9 bilhões de governos e instituições ao redor do mundo. Um
ano depois, menos de um terço
desse valor havia aparecido.
Mais de US$ 450 milhões deveriam ter chegado para ajudar na
reconstrução de Moçambique,
devastado por enchentes há quatro anos, mas, até hoje, menos da
metade da promessa foi honrada.
A comunidade internacional até
agora se comprometeu a enviar
cerca de US$ 4 bilhões às vítimas
do tsunami.
Anteontem, o secretário-geral
da ONU, Kofi Annan, instou os
governos a cumprir a promessa.
Segundo Annan, US$ 977 milhões
são necessários para ações de
emergência nos países atingidos
pelos próximos seis meses.
"Houve muitas ocasiões no passado em que governos internacionais prometeram ajuda e simplesmente não cumpriram. Todos os
países têm sua parcela de culpa
nisso", disse Judith Melby, da
Christian Aid.
"Freqüentemente, descobrimos
que, um ano depois [do desastre],
sobreviventes ainda estão vivendo em campos temporários e governos de repente ficam relutantes em aumentar impostos para
pagar o dinheiro prometido."
"A história tem nos mostrado
que as promessas são consistentemente subvalorizadas pelos governos, que acabam entregando
cerca de metade do que prometeram", disse Max Lawson, conselheiro de caridade do grupo humanitário britânico Oxfam.
"Uma das razões é que os governos querem ganhar evidência e,
depois, quando o assunto morre,
perdem o interesse. Há uma lacuna real entre a retórica e a realidade", afirmou.
ONGs afirmam que a União Européia - que já prometeu mais
de 465 milhões em ajuda de
curto e longo prazos para a região- aparece como um dos
principais descumpridores de
promessas em termos de ajuda
humanitária em desastres.
Os EUA são outro exemplo.
"Com os EUA, o problema é que a
ajuda não só chega tarde mas
também, muitas vezes, nunca se
materializa. O que o presidente
diz tem de ir ao Congresso, e isso
não necessariamente acontece.
Os EUA prometeram US$ 450 milhões para o Afeganistão em 2004,
mas entregaram apenas US$ 200
milhões", disse Lawson.
Dívida
Ontem, os ministros das Finanças dos países do G7 (as nações
mais industrializadas do mundo)
anunciaram um acordo para congelar os pagamentos das dívidas
externas dos países atingidos pelo
maremoto. A maneira como isso
deve ocorrer será discutida entre
G7, Clube de Paris e outros credores.
"Não vamos esperar pagamentos das dívidas dos países afetados
que o peçam até que o Banco
Mundial e o FMI [Fundo Monetário Internacional] completem
uma avaliação sobre as necessidades para sua reconstrução e requerimentos de financiamento,
reconhecendo que alguns países
podem ser incapazes de fazer pagamentos da dívida", afirmou o
G7 em comunicado.
Com o "Independent"
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