São Paulo, segunda-feira, 08 de janeiro de 2001

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UNIÃO EUROPÉIA
Na presidência do bloco, país apóia adesão de poloneses e tchecos
Suécia defende a expansão da UE

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

A Suécia (2,4% da população européia com pouco menos de 9 milhões de habitantes) assumiu, em 1� de janeiro, a presidência rotatória da União Européia (UE) e definiu seus três objetivos principais para o mandato de seis meses: expansão, busca do pleno emprego e proteção do ambiente.
Entretanto analistas políticos são unânimes em afirmar que, junto com o Reino Unido, o país é o menos entusiasta em relação à integração européia. Segundo pesquisas de opinião recentes, menos de 40% da população sueca é favorável à sua participação na UE.
O país, que é neutro e não é membro da Otan (aliança militar ocidental), só passou a fazer parte do bloco europeu a partir de 1� de janeiro de 1995.

Ecologistas e ex-comunistas
O governo sueco, comandado pelo social-democrata Goran Persson, minoritário no Riksdag (o Parlamento sueco), sustenta-se graças ao apoio de dois grupos tradicionalmente contrários à UE: os ecologistas e os ex-comunistas.
Além disso, o país não pertence à zona do euro -a moeda comum européia- nem pretende aderir a ela tão cedo. Embora seu governo seja oficialmente favorável à entrada da Suécia na zona, boa parte de sua população se opõe veementemente à idéia de abandonar sua moeda, a coroa.
"Os suecos são particularmente frios em relação à UE. Temo que a presidência sueca seja um período de transição, no qual muitos assuntos deixarão de ser discutidos", disse à Folha um funcionário do Ministério das Relações Exteriores da França, que pediu para não ser identificado.
Na prática, essa situação faz com que a presidência do Eurogrupo, o governo econômico da zona do euro, seja ocupada pela Bélgica em 2001, pois ela também responderá pela presidência da UE a partir de 1� de julho. Porém, além do euro, a prioridade dos países europeus para esta década é a ampliação da UE para os países do leste do continente.
"Paradoxalmente, os suecos não estão certos de que desejem ver seu próprio país dentro da UE, contudo são favoráveis à adesão dos países do Leste Europeu", afirmou à Folha, por telefone, Anne-Marie Le Gloannec, diretora-adjunta do Centro Marc Bloch, um instituto de pesquisas franco-alemão situado na Universidade Humboldt, em Berlim, e autora de diversos livros sobre a Europa.
Na verdade, trata-se de um dos poucos temas que concernem à UE que não geram controvérsia na Suécia. Mesmo os partidos antieuropeus são favoráveis à expansão para o leste.
Assim, a presidência sueca deve marcar a data de entrada dos primeiros novos membros, como Polônia e República Tcheca. "A Europa não deve nunca mais ser dividida", escreveu Persson recentemente.
No que diz respeito ao desemprego, tema que será discutido na cúpula européia informal de Estocolmo, que ocorrerá em 23 e 24 de março deste ano, a Suécia pretende privilegiar a formação de jovens e adultos e as inovações tecnológicas para combater o problema, seguindo, portanto, a linha definida na cúpula de Lisboa, realizada em março de 2000.
O ambiente, por outro lado, é um dos raros assuntos para os quais o país escandinavo admite discutir decisões supranacionais. Afinal, os suecos preferem uma abordagem intergovernamental a uma maior integração política.
"Os suecos são, tradicionalmente, contra uma maior integração política, pois, apesar de ser um gigante regional, o país tem uma influência muito pequena sobre o continente e teme que uma maior integração possa minar suas estruturas político-sociais", analisou Le Gloannec, de Berlim.
Assim, dificilmente, Estocolmo trabalhará no sentido de intensificar essa integração. Também não deverá realizar as reformas institucionais necessárias para isso. Na Suécia, a "Europa política" é considerada uma ameaça à democracia participativa e à coesão social "de estilo escandinavo".

Euro
Em março de 2000, em um congresso extraordinário do Partido Social-Democrata, da Suécia, ao qual pertence o premiê Persson, ficou decidido que o partido apoiará a entrada do país na zona do euro se a população, por meio de um referendo, aprová-la.
No programa para seus seis meses de presidência da UE, a Suécia saúda a moeda única e afirma que ela é "benéfica para a estabilidade e a integração econômica" e que seu sucesso "é um interesse vital da UE".
Falta agora que os governantes convençam a maioria da população sueca, que continua fundamentalmente "eurocética".


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