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Pinochet desafia Justiça e não faz exames
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
Desafiando uma ordem judicial, o ex-ditador chileno Augusto
Pinochet não compareceu ontem
aos exames médicos a que se deveria submeter no Hospital Militar de Santiago a pedido do juiz
Juan Guzmán Tapia.
O general permaneceu em sua
casa de veraneio em Los Boldos
de Bucalemu, a 120 km a sudoeste
de Santiago, onde assistiu a uma
missa com vários parentes.
Guzmán Tapia havia pedido os
exames mentais e neurológicos
para determinar se o ex-ditador
estaria em condições de comparecer em juízo. Em caso positivo, Pinochet, 85, seria submetido a interrogatório amanhã para responder pelos assassinatos da chamada "Caravana da Morte".
Os advogados de acusação, liderados por Hugo Gutiérrez, pedem
a prisão preventiva e domiciliar
do ex-ditador para assegurar seu
comparecimento ao interrogatório previsto para amanhã.
Para Gutiérrez, Pinochet "está
querendo dilatar o processo a fim
de buscar uma solução política
para seu caso. Isso é o que ele deseja ao criar um clima de tensão
no país, mas não vai conseguir".
Os advogados de defesa do ex-ditador alegam que Guzmán Tapia alterou as condições em que
Pinochet deveria realizar os exames. O juiz determinou que as
amostras de urina e sangue coletadas no Hospital Militar fossem
analisadas em outro hospital, o
que caracterizaria, para seus advogados, um insulto às Forças Armadas e ao próprio ex-ditador.
Guillermo Garín, porta-voz de
Pinochet, afirmou que ele está
disposto a submeter-se aos exames, desde que sejam realizados
nas condições fixadas pela Corte
de Apelações, que determinara
que as análises fossem realizadas
no próprio Hospital Militar.
Em agosto de 1999 a Suprema
Corte do Chile cassou a imunidade parlamentar que Pinochet possuía por ser senador vitalício. Ele é
acusado de ter sido o "autor intelectual" da Caravana da Morte,
um grupo formado por oficiais do
Exército chileno que fuzilou ou
fez desaparecer ao menos 72 presos políticos em cinco cidades do
país em outubro de 1973, um mês
após o golpe militar que Pinochet
liderou contra o presidente socialista Salvador Allende.
O crime pelo qual Guzmán Tapia acusa Pinochet não está coberto pela lei de anistia, aprovada
em 1978, segundo a decisão tomada pela Justiça em agosto ao retirar a imunidade parlamentar da
qual Pinochet gozava por ser senador vitalício. A lei de anistia incluía os crimes cometidos pelos
militares entre 1973 e 1978, mas a
Suprema Corte considerou que os
crimes de sequestro e morte relacionados à Caravana da Morte
não estavam contemplados.
Pinochet, que sempre alegou ser
inocente das acusações de violações aos direitos humanos, é cultuado pela direita chilena como o
homem que livrou o país do comunismo de Allende e abominado pela esquerda, que diz que seu
regime matou mais de 3.000 pessoas, além de suspender por 17
anos as garantias democráticas.
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