São Paulo, segunda-feira, 08 de janeiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pinochet desafia Justiça e não faz exames

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Desafiando uma ordem judicial, o ex-ditador chileno Augusto Pinochet não compareceu ontem aos exames médicos a que se deveria submeter no Hospital Militar de Santiago a pedido do juiz Juan Guzmán Tapia.
O general permaneceu em sua casa de veraneio em Los Boldos de Bucalemu, a 120 km a sudoeste de Santiago, onde assistiu a uma missa com vários parentes.
Guzmán Tapia havia pedido os exames mentais e neurológicos para determinar se o ex-ditador estaria em condições de comparecer em juízo. Em caso positivo, Pinochet, 85, seria submetido a interrogatório amanhã para responder pelos assassinatos da chamada "Caravana da Morte".
Os advogados de acusação, liderados por Hugo Gutiérrez, pedem a prisão preventiva e domiciliar do ex-ditador para assegurar seu comparecimento ao interrogatório previsto para amanhã.
Para Gutiérrez, Pinochet "está querendo dilatar o processo a fim de buscar uma solução política para seu caso. Isso é o que ele deseja ao criar um clima de tensão no país, mas não vai conseguir".
Os advogados de defesa do ex-ditador alegam que Guzmán Tapia alterou as condições em que Pinochet deveria realizar os exames. O juiz determinou que as amostras de urina e sangue coletadas no Hospital Militar fossem analisadas em outro hospital, o que caracterizaria, para seus advogados, um insulto às Forças Armadas e ao próprio ex-ditador.
Guillermo Garín, porta-voz de Pinochet, afirmou que ele está disposto a submeter-se aos exames, desde que sejam realizados nas condições fixadas pela Corte de Apelações, que determinara que as análises fossem realizadas no próprio Hospital Militar.
Em agosto de 1999 a Suprema Corte do Chile cassou a imunidade parlamentar que Pinochet possuía por ser senador vitalício. Ele é acusado de ter sido o "autor intelectual" da Caravana da Morte, um grupo formado por oficiais do Exército chileno que fuzilou ou fez desaparecer ao menos 72 presos políticos em cinco cidades do país em outubro de 1973, um mês após o golpe militar que Pinochet liderou contra o presidente socialista Salvador Allende.
O crime pelo qual Guzmán Tapia acusa Pinochet não está coberto pela lei de anistia, aprovada em 1978, segundo a decisão tomada pela Justiça em agosto ao retirar a imunidade parlamentar da qual Pinochet gozava por ser senador vitalício. A lei de anistia incluía os crimes cometidos pelos militares entre 1973 e 1978, mas a Suprema Corte considerou que os crimes de sequestro e morte relacionados à Caravana da Morte não estavam contemplados.
Pinochet, que sempre alegou ser inocente das acusações de violações aos direitos humanos, é cultuado pela direita chilena como o homem que livrou o país do comunismo de Allende e abominado pela esquerda, que diz que seu regime matou mais de 3.000 pessoas, além de suspender por 17 anos as garantias democráticas.



Texto Anterior: Direitos humanos: Militares reconhecem abusos no Chile
Próximo Texto: Reunião no Cairo tenta pôr fim à violência
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.