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DIREITOS HUMANOS
Presos políticos foram "jogados ao mar, em rios, sobre montanhas ou incinerados" durante ditadura
Militares reconhecem abusos no Chile
Associated Press
![](https://cdn.statically.io/img/www1.folha.uol.com.br/../images/e0801012001.jpg) |
Presidente Ricardo Lagos (à dir.) entrega relatório sobre desaparecidos ao presidente da Suprema Corte, Hernán Alvarez (centro) |
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
Militares chilenos confirmaram
que cerca de 200 presos desaparecidos durante o governo do ex-ditador Augusto Pinochet foram
"lançados ao mar, em rios, sobre
montanhas da cordilheira dos
Andes ou incinerados".
Os dados estão contidos em um
relatório que as Forças Armadas
do Chile entregaram anteontem
ao presidente Ricardo Lagos e à
Mesa de Diálogo (formada por
militares, advogados de direitos
humanos e representantes da sociedade) que há 11 meses investiga
uma das mais dolorosas facetas
do regime militar (1973-1990).
Ao entregar o informe, compilado nos últimos seis meses, as
Forças Armadas cumpriram um
acordo firmado com a Mesa de
Diálogo. Relatos semelhantes envolvendo outras centenas de casos de presos políticos desaparecidos durante a ditadura foram
entregues por representantes de
igrejas, sinagogas e da maçonaria.
Segundo o jornal chileno "La
Tercera", boa parte dos casos reconhecidos pelo Exército ocorreu
entre setembro de 1973 e março
de 1974, nos primeiros meses do
governo Pinochet, que assumiu o
poder depois de derrubar o presidente socialista Salvador Allende,
eleito em 1970.
O Exército chileno reconhece,
de acordo com o jornal, que, nos
dias posteriores ao golpe militar,
182 corpos de pessoas mortas pelos serviços de segurança foram
incinerados num cemitério de
Santiago. Os militares também
disseram que 27 corpos foram
lançados ao mar por helicópteros
do Exército.
O número de vítimas revelado
por outras instituições das Forças
Armadas é menor que o do Exército. A Marinha, segundo o jornal,
reconhece o envolvimento em 14
desaparecimentos.
Os relatos das Forças Armadas,
das igrejas e da maçonaria sobre o
destino de centenas de desaparecidos foram entregues, anteontem, por Lagos ao presidente da
Suprema Corte, Hernán Alvarez.
Lagos pediu a Alvarez que designe um grupo de juízes especiais
para investigar os casos.
A Mesa de Diálogo vem reunindo informações sobre violações
aos direitos humanos há 11 meses,
e, segundo o "La Tercera", formou uma base de dados com
mais de mil casos de desaparecidos, dos quais apenas 62 haviam
sido solucionados.
A lista definitiva da Mesa de
Diálogo sobre os desaparecidos
inclui 985 casos. Desses, 359 foram atribuídos à polícia secreta de
Pinochet (Dina), 304 aos policiais
militares, conhecidos como "carabineros", 177 ao Exército, 14 à
Marinha, 17 à Força Aérea, 16 a investigadores policiais, 21 ao Comando Conjunto, 11 à Central Nacional de Informações (CNI) e 66
a agentes de segurança agindo por
conta própria.
"Buscou-se elaborar uma lista
final com os 200 casos em que se
obteve informação sobre o paradeiro dos presos desaparecidos",
informou o diário.
Ao deixar o Palácio de La Moneda, anteontem, o presidente da
Suprema Corte, Hernán Alvarez,
disse que as informações compiladas pela Mesa de Diálogo são
muito valiosas.
"Creio que os organismos que
proporcionaram essa informação
contribuíram para fazer conhecer
o que realmente ocorreu neste
país", afirmou.
Alvarez disse, ainda, que as informações permitirão determinar
"o que ocorreu com os presos desaparecidos ou pelo menos vão
ajudar a esclarecer onde eles estão, e, se não os encontrarmos, o
que aconteceu com eles".
Segundo dados oficiais, 3.197
pessoas foram mortas ou desapareceram durante a ditadura, incluindo cerca de 90 policiais e militares ligados ao regime mortos
em atentados ou confrontos.
O presidente Lagos marcou para ontem às 22h (23h em Brasília)
um pronunciamento à nação, em
cadeia de rádio e TV, sobre os relatórios entregues a ele e as medidas que serão tomadas a partir de
agora para esclarecer o paradeiro
dos presos políticos desaparecidos durante o regime militar.
"Caravana da Morte"
Uma das primeiras ações que
Pinochet teria comandado se refere à Caravana da Morte, em outubro de 1973, pouco depois do
golpe de 11 de setembro liderado
pelo general. Um grupo de oficiais
e soldados de elite teria sido responsável pelo sequestro, assassinato e desaparecimento de ao menos 72 presos políticos.
De acordo com seu comandante, o ex-general Sergio Arellano
Stark, a Caravana da Morte cumpria uma missão ordenada por Pinochet, então chefe da junta militar: "apressar" o julgamento dos
presos logo depois do golpe. O
objetivo não era matar, afirmou.
Os militares percorreram de helicóptero cinco cidades do Chile, e
muitas vítimas foram jogadas em
covas clandestinas, descobertas
só em 1990 -18 corpos nunca foram encontrados.
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