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Igreja Católica lança campanha para ficar menos dependente do Estado
DE BUENOS AIRES
Em rota de colisão com o governo Néstor Kirchner, a Igreja Católica argentina lançou ontem campanha para arrecadar fundos e ficar "independente" financeiramente do Estado -7% de seu orçamento sai dos cofres públicos.
"A igreja necessita de seus dons
e também do seu aporte econômico", diz a carta assinada pelos bispos argentinos que seria lida ontem nas missas de todo o país, segundo publicou o diário argentino "La Nación".
A campanha é impulsionada
pelo influente cardeal de Buenos
Aires, Jorge Bergoglio, eleito presidente da Conferência Episcopal
Argentina no começo do mês
-segundo jornais argentinos, ele
seria um dos possíveis sucessores
de João Paulo 2�. É também uma
resposta da igreja à crise que atravessa com o governo argentino.
O mais recente momento tenso
dessa relação foi há duas semanas,
quando Kirchner comparou a
igreja a "um partido político" e
cobrou dos bispos que olhassem a
própria instituição. Fez também
referência à riqueza da igreja.
O discurso foi uma resposta a
um documento da cúpula católica, que apontava um "crescimento escandaloso" da desigualdade
social na Argentina e questionava
a visão "maniqueísta" do governo
sobre a última ditadura do país
(1976-83).
A igreja não respondeu ao ataque, mas demonstra agora querer
se desvincular do Estado, de
quem recebe 11,2 milhões de pesos anuais (cerca de R$ 8,3 milhões), e dar mais transparência
ao seu caixa.
A tensão entre a igreja e o Estado ganha relevo na Argentina por
dois motivos: além da ampla
maioria católica no país e de sua
influência política, há uma ligação
legal. Pela Constituição, o Estado
tem como dever "sustentar o culto" católico, daí o aporte que vai
principalmente para o pagamento dos bispos. Até 1966, os religiosos eram considerados funcionários públicos do Estado.
Numa preocupação com sua
imagem, a igreja ampliou a seção
em sua página na internet que explica como se mantém. Uma das
perguntas é "A igreja é rica?".
A principal crise entre a cúpula
católica e Kirchner envolveu o orçamento. Neste ano, o presidente
destituiu o bispo militar Antonio
Baseotto e cortou seu salário, sem
a licença do Vaticano. O religioso
sugerira "lançar ao mar" o ministro da Saúde, que defendeu a descriminalização do aborto - expressão que lembrou os "vôos da
morte" operados na ditadura.
No documento do começo do
mês, a igreja considerou o caso
uma "interferência" e disse que
"nem sempre é respeitada" a liberdade da instituição. Também
está na rota de colisão o projeto de
educação sexual, em tramitação
no Congresso. Um bispo chegou a
pregar "desobediência civil" caso
sejam aprovadas regras contra a
moral cristã.
(FM)
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