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O GUERRILHEIRO
Jonas Savimbi diz não crer em saída militar para o conflito
Líder da Unita diz querer negociação com o governo
STEPHEN SMITH
do "Libération", em Andulo, Angola
Aos 65 anos, Jonas Savimbi,
chefe da rebelião angolana, é
um homem sozinho, proscrito
pela comunidade internacional,
que promulgou sanções para
cortar os suprimentos do movimento guerrilheiro Unita
(União Nacional pela Independência Total de Angola) e, sobretudo, para impedir que ele
venda seus diamantes, força
motriz da guerra.
Antigo aliado dos EUA e da
África do Sul dos tempos do
apartheid, Savimbi hoje é um
renegado com quem a ONU
rompeu qualquer contato há
um ano. Há nove meses seu movimento não dominava mais do
que quatro cidades de importância menor no planalto central de Angola, mas hoje já controla dois terços do país.
Um olhar sobre o mapa de
Angola revela o problema fundamental dessa ex-colônia portuguesa que, durante a Guerra
Fria, não passou de um teatro de
operações substituto: dos dois
lados em conflito, um tem presença maior nas cidades, estando implantado essencialmente
no litoral do país, enquanto o
outro domina o interior pouco
desenvolvido. O governo dispõe
do petróleo, extraído em plataformas marítimas por empresas
ocidentais. A Unita explora parte das minas de diamantes angolanas. Cada lado fica encerrado em seu próprio mundo, e Jonas Savimbi não falava com alguém de fora havia dois anos.
Pergunta - A ONU o considera o "principal responsável"
pela guerra civil em Angola.
Desde 1986, quando Ronald
Reagan o condecorou e o qualificou de "combatente da liberdade", seu prestígio internacional caiu muito.
Jonas Savimbi - Como os Estados não têm amigos ou inimigos, só interesses, deduzo que os
interesses de meus amigos de
ontem mudaram. Hoje em dia
sou boicotado, sou impedido de
viajar, sou tratado como pária.
Mas os interesses em conflito
em Angola não mudaram. E
meu prestígio junto à população
continua intacto. Aqui em Angola as pessoas riem muito do
que se diz e se decide lá fora.
Pergunta - Foi a mudança de
aliança dos EUA que levou a
comunidade internacional a
seguir o mesmo caminho?
Savimbi - Tudo indica que
sim. Até 1988, servíamos para
combater os cubanos e os russos
em Angola. E, sem falsa modéstia, quando comparados à Nicarágua e ao Afeganistão, éramos
os melhores "combatentes da liberdade" para o Ocidente.
Mas, quando os cubanos e os
russos foram embora, a Unita
deixou de ter utilidade para os
Estados Unidos. Desde a virada
americana, em 1992, só nos procuram para pedir que eu assine
a rendição da Unita, para que
consinta com sua liquidação
política, quando não física. O
acordo de paz de Lusaka, em
1994, foi uma armadilha. Dizia:
"Entregue suas armas, seu território, sua vida e, em troca, eu lhe
darei o Ministério do Turismo".
Pergunta - O governo voltou
a combater a Unita desde dezembro, mas sua ofensiva atolou. Definitivamente?
Savimbi - Nunca se sabe o que
o inimigo vai fazer. Mas tenho a
impressão que o presidente
Santos, não tendo conseguido
nos destruir, procura agora
criar uma relação de forças que
seja mais favorável para ele.
O problema é: onde e quando
vamos parar? Ele relançou sua
ofensiva e dispõe de meios militares consideráveis, apesar de
estar sendo prejudicado pelo alto número de deserções.
De nosso lado, também estamos empenhando nossas forças
na batalha. Acho que Santos já
foi longe demais. Ele pôs em risco seu próprio poder. Ele precisa ganhar terreno, para depois
poder negociar. Nós, pelo contrário, estamos prontos para negociar a qualquer hora, desde já.
Não existe solução militar para
o conflito angolano. É preciso
colocar os problemas sobre a
mesa. Para evitar a catástrofe,
precisamos negociar.
Pergunta - A ONU já fala de
uma catástrofe humana, e o
governo de Luanda acusa a
Unita de expulsar a população
civil das áreas que controla.
Savimbi - É um absurdo. O
governo procura esvaziar nossas zonas, retira a população à
força quando suas tropas são
obrigadas a recuar. O mundo vê
imagens de sofrimento, fome,
da dor dos refugiados.
Mas para onde vai a ajuda? Em
primeiro lugar, é enviada apenas para um lado no conflito,
sendo que nós controlamos entre 60% e 70% do país, onde vive
metade da população. Em segundo lugar, a ajuda alimentar é
muito desviada. Nas áreas sob
nosso controle não existe desnutrição. Em lugar de lançar
apelos à ONU, levamos nossas
responsabilidades a sério.
Pergunta - Mas o Programa
Alimentício Mundial afirma
que 1,5 milhão de angolanos
que vivem nas áreas controladas pela Unita passam fome.
Savimbi - Mas o que eles sabem sobre isso? Nunca vieram
para cá. Muita coisa nos falta devido às sanções, sobretudo medicamentos. Mas ninguém está
passando fome.
Pergunta - Dizem que o senhor é obcecado pela idéia de
tornar-se presidente de Angola. Mas aos 65 anos, 30 passados na mata, o senhor ainda
crê nessa possibilidade?
Savimbi - Minha motivação
profunda nunca foi chegar à
Presidência da República. Minha missão é conquistar alguma
coisa para aqueles que confiaram em mim. É por isso que
nunca puderam me comprar,
me corromper, me prometendo
uma aposentadoria numa bela
mansão em algum lugar do
mundo. Quero que as pessoas se
recordem do que eu disse, do
que escrevi, do que teimei em
fazer. E lhe confesso uma coisa:
quando a Unita tomar o poder
-e esse dia chegará, não duvido por um instante- será preciso que um jovem assuma o
trabalho enorme que será governar Angola. Tenho saúde ótima, mas não estou mais em idade para trabalhar 18 horas por
dia. Então ficarei por aqui, no
meu lugar, para servir de conselheiro. Não penso em mim, mas
na Unita, que tem o direito histórico de governar este país.
Tradução de Clara Allain
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