São Paulo, quarta-feira, 03 de outubro de 2001

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ORIENTE MÉDIO

EUA divulgam proposta que pode ajudar na formação de coalizão

Bush admite Estado palestino

PHIL REEVES
DO "THE INDEPENDENT", EM JERUSALÉM

Os EUA planejavam apresentar uma nova proposta para resolver o conflito entre Israel e os palestinos à Assembléia Geral das Nações Unidas, mas a iniciativa foi suspensa devido aos ataques contra o país em 11 de setembro.
Os detalhes da iniciativa foram divulgados ontem, em parte para responder às críticas européias de que o governo de George W. Bush não está empenhado em resolver as questões do Oriente Médio, mas também para conquistar a simpatia de países árabes e islâmicos antes que os EUA lancem sua ação militar.
A divulgação das propostas também parece ser uma tentativa de pressionar o premiê israelense, Ariel Sharon, a afrouxar sua posição em relação a uma trégua com os palestinos. Ele exige o fim total dos ataques palestinos antes de retomar o diálogo.
Funcionários do governo norte-americano disseram que as novas iniciativas de paz do país teriam declarado apoio explícito à criação de um Estado palestino, a primeira vez em que um presidente republicano teria admitido o fato publicamente. O democrata Bill Clinton, antecessor de Bush, já havia admitido um Estado palestino dentro de um acordo final de paz com Israel, em janeiro.
O fato de que as propostas iriam ser expostas por Colin Powell, o secretário de Estado dos EUA, diante das Nações Unidas -uma instituição que Israel vê como pró-palestina- também é significativo. O "The New York Times" noticiou ontem que Bush estaria ainda disposto a encontrar pela primeira vez o líder palestino Iasser Arafat na ONU. Ele vem evitando recebê-lo na Casa Branca, tentando pressioná-lo a agir mais para conter a revolta palestina contra a ocupação israelense.
Jamais houve dúvidas de que os EUA vêem o processo de paz desembocando num Estado palestino que conviva com Israel. No entanto, sempre surge uma reação irritada da direita israelense -hoje no poder- quando a idéia é reconhecida abertamente.
Os líderes israelenses preferem a idéia de que a criação do Estado palestino continua aberta a negociações. Já houve saraivadas de insultos furiosos de parte de funcionários israelenses na semana passada quando a Chancelaria britânica colocou um artigo na imprensa iraniana, assinado pelo chanceler Jack Straw, que usava o nome "Palestina".
Bush manteve sua posição ontem. Um Estado palestino "sempre foi parte de uma visão, desde que o direito de Israel à existência seja respeitado", disse ele, acrescentando que a política dos EUA em relação a seu maior aliado no Oriente Médio não mudou.
Powell elaborou melhor a posição do governo ontem. "Sempre existiu uma visão nas nossas posições, assim como nas da administração anterior, de que um Estado palestino existiria. Esperamos que ele seja o resultado de negociações entre as duas partes". Powell disse que o próprio Sharon endossara esse conceito na semana passada. O porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, disse que Sharon teria dito: "Israel quer dar aos palestinos o que ninguém deu, a possibilidade de estabelecer um Estado".
Powell disse ainda que os EUA seguem defendendo que antes de mais nada os dois lados devem estabelecer um cessar-fogo duradouro e seguir as recomendações do relatório Mitchel, que prevê a retomada gradual das negociações de paz após uma trégua consolidada e medidas de boa vontade das duas partes.
O governo Bush sempre esteve dividido quanto a se aventurar no atoleiro do conflito árabe-israelense após o fracasso de Clinton.
O Reino Unido e os demais países europeus tentam convencer a Casa Branca de que será difícil para os países árabes e islâmicos enfrentar as conseqüências domésticas de um ataque liderado pelos EUA contra muçulmanos caso suas populações sigam vendo na TV soldados israelenses matando palestinos. As declarações do presidente Bush ontem indicam que ele acatou a sugestão.
Bush conquistou apoio imediato do premiê britânico, Tony Blair. Em discurso realizado durante uma conferência do seu Partido Trabalhista, ele enfatizou o direito de Israel a uma existência livre do terrorismo, mas disse que os palestinos precisam de "justiça, uma chance para prosperar e viver em sua terra como parceiros iguais de Israel".
Desde os ataques de 11 de setembro, os EUA vêm ampliando seu envolvimento no conflito. Funcionários do governo dizem que Bush e Powell fizeram dezenas de telefonemas pedindo respeito à trégua e negociações.


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