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Mercado

Marcelo Miterhof

Mitos sobre o BNDES

� um mito dizer que o banco escolhe vencedores; n�o h� ativismo na defini��o das opera��es a serem apoiadas

Na semana passada, a coluna tratou do papel geral do BNDES, em especial sua rela��o com o investimento. Hoje, o objetivo � discutir tr�s mitos que t�m sido criados em torno de sua atua��o.

Primeiro, o BNDES inibiria o mercado de capitais. O banco atua em renda vari�vel com um horizonte de longo prazo incomum no Brasil. Isso favorece que ele apoie empresas que, em raz�o de planos desafiadores, tendem a passar por per�odos de turbul�ncia. Essa estrat�gia --al�m de se mostrar rent�vel, pois o risco � recompensado quando os projetos florescem-- induz a entrada de empresas no mercado de capitais.

O BNDES atua com firmas em diferentes est�gios, desde o capital-semente at� as que buscam abrir seu capital. Nesse caminho, o fortalecimento da governan�a das investidas � sens�vel. Ao fortalecer a transpar�ncia corporativa, o banco favorece a forma��o de investidores.

O mesmo ocorre quando, na venda de pap�is, o BNDES usa ofertas p�blicas para atrair investidores menores, como foram os casos do PIBB, o primeiro fundo brasileiro baseado num �ndice de mercado (Ibovespa), e das ofertas de a��es do BB, que o fez o primeiro grande banco nacional a participar do Novo Mercado.

Assim, al�m de mitigar a defici�ncia da economia brasileira no financiamento de longo prazo, tema da coluna passada, o BNDES tem a��o indutora do mercado de capitais.

O segundo mito � o de que o BNDES escolheria vencedores, refor�ando a atua��o de setores tradicionais e pouco inovadores.

Isso � um mito porque n�o h� ativismo na defini��o das opera��es a serem apoiadas. O BNDES n�o aponta projetos a serem feitos. S�o as empresas que os estruturam e buscam o banco, que os avalia.

Como banco p�blico, o BNDES est� aberto a analisar todos os projetos que lhe s�o apresentados. H� prioridades em termos das condi��es de taxas, participa��o, prazos etc., algo expresso em suas pol�ticas operacionais. Por�m, se o demandante tem risco de cr�dito aceit�vel, o pedido � considerado vi�vel e h� garantias adequadas, nenhum pleito � negado. Se boa parte dos projetos apoiados ocorre em setores tradicionais, � porque s�o os mais fortes da economia --e eles tamb�m precisam aumentar a produtividade.

Al�m disso, a inova��o tem um car�ter mais geral do que o aspecto tecnol�gico. Quando o BNDES suporta a internacionaliza��o de grupos brasileiros, h� inova��es ligadas � capacidade empresarial de dominar cadeias globais, buscando novos espa�os de valoriza��o e desenvolvendo as atividades corporativas centrais, como log�stica, marketing e inova��o. Os pa�ses ricos t�m grupos globais em diversos setores.

O BNDES sempre que poss�vel ap�ia grupos brasileiros em setores de tecnologia, como tem feito, por exemplo, com as empresas de softwares Totvs e Linx.

O terceiro mito � que os empr�stimos do Tesouro para refor�ar as capta��es do BNDES estariam recriando a "conta-movimento".

Extinta em 1986, ela propiciava acesso autom�tico, n�o contabilizado nos seus balan�os, do Banco do Brasil aos recursos do BC. Com isso, o BB tinha menos incentivos a usar bons crit�rios de concess�o de cr�dito e prejudicava a gest�o da pol�tica monet�ria pelo BC.

A compara��o � no m�nimo for�ada. O BNDES n�o toma recursos do BC nem busca sanar problemas de liquidez. Os empr�stimos s�o devidamente expressos no seu balan�o e na d�vida p�blica, sendo apenas uma fonte de capta��o.

Est� ausente no debate uma reflex�o estrat�gica. A compara��o que faz sentido � com o ac�mulo de reservas cambiais. Nos dois casos, ocorre eleva��o da d�vida p�blica bruta, sem impactar a l�quida, cada uma com seu custo fiscal (diferen�a entre o custo da d�vida p�blica e o rendimento da aplica��o).

A manuten��o de um alto n�vel de reservas mitiga a hist�rica vulnerabilidade externa. Os empr�stimos ao BNDES irrigam a economia com financiamento de longo prazo.

E, como a inadimpl�ncia no BNDES � baixa (hoje, � 0,06%) e as opera��es de renda vari�vel s�o no conjunto lucrativas, o risco da diferen�a entre o endividamento bruto e o l�quido � pequeno.

H� forte vi�s pol�tico e ideol�gico no debate sobre o BNDES. Por isso, n�o pretendo convencer os cr�ticos do banco, s� mostrar que h� uma vis�o alternativa bem fundamentada pautando a a��o do BNDES.

marcelo.miterhof@gmail.com


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