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Biblioteca básica
Macunaíma
ENEIDA MARIA DE SOUZA
ESPECIAL PARA A FOLHA
A
escolha de um livro entre outros que compõem
uma biblioteca básica não deixa de ser um gesto
de exclusão e de recorte pessoal. O que me agrada, contudo, é a oportunidade de serem estampadas opiniões diversas sobre o tema, o que resulta na
construção babélica e infinita dessa biblioteca. "Macunaíma, o Herói sem Nenhum Caráter", rapsódia brasileira moderna publicada em 1928 por Mário de Andrade, é
mais um tomo que, de modo gaiato e malandro, ocupa
lugar de destaque nessa prateleira. E não se avexa, não.
Eu o colocaria ao lado de "Grande Sertão: Veredas", de
Guimarães Rosa, pela revolução de linguagem iniciada
com o modernismo brasileiro, responsável pela revitalização do discurso oral e pela leitura do imaginário nacional, abolindo, de vez, com a fronteira rígida entre o erudito e o popular.
Na construção de um conceito inaugural de cultura
brasileira, Macunaíma se notabiliza pelo artefato simbólico de uma linguagem sem nenhum caráter. A invenção
e o improviso emblematizam a figura desse herói malandro e tupiniquim. De complexa caracterização, o personagem se comporta na estante da biblioteca de modo errante e sujeito a redefinições conforme o momento da
leitura. É esta, talvez, sua maior qualidade: incapturável
como símbolo fixo de nacionalidade, passeia pra lá e pra
cá, num banzo solitário e em permanente mobilidade
significativa.
Eneida Maria de Souza é crítica literária e professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais. .
A obra
"Macunaíma", de Mário de Andrade, 480 págs. Ed. UFSC (esgotado). Ed. Villa Rica (tel. 0/xx/31/3212-4600). 175 págs., R$ 22.
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