|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
7 - Esgotamento feminino
Folha - Sem querer soar irônico, depois dessa sua frase, podemos falar
um pouco de feminismo? Existe alguma autora feminista que lhe interesse
hoje em especial?
Paglia - Quinze anos atrás, meu livro "Personas Sexuais" causou muita controvérsia. Naquela época, o
debate estava contaminado pelo
pós-estruturalismo e pelas vertentes
francesas do feminismo. Mas a certa
altura, pouco tempo depois, eu me
dei conta de que tinha vencido a batalha. Quer dizer: meu lado ganhou a
guerra, pelo menos nos EUA. O feminismo pró-sexo, oprimido e silenciado desde os anos 60, subitamente se ergueu de novo -graças a
Madonna. Foi ela quem criou as bases, na década de 80, para uma tal reviravolta.
Os anos 70 e 80 foram um período
de feminismo reacionário, que se esforçava para suprimir qualquer voz
mais individual, suprimir qualquer
interesse pela beleza ou pela moda e
que não cansava de castigar os homens ou de reclamar deles, vendo a
história inteira da humanidade como a história da vitimização das
mulheres. E lá vinha eu dizendo que
a moda era expressão do desejo de
beleza dos seres humanos, que a
pornografia era uma forma de arte,
que as mulheres não têm de pedir
proteção a ninguém (nem à polícia
nem ao reitor), que cada indivíduo
tem direito à liberdade e que cada
um se defenda por si.
Naquele momento, essas idéias ganharam ressonância; e meu lado
saiu por cima. E, de lá para cá, não
parece ter surgido alguém de outra
vertente.
Mas o feminismo, para mim, parece ter se esgotado como movimento
nos EUA. Continuo me vendo como
feminista, claro; continuo defendo
oportunidades iguais para todos, independentemente de gênero, ao
mesmo tempo em que insisto que o
feminismo tem de reconhecer as diferenças sexuais.
É preciso reconhecer que a enorme maioria das mulheres sente atração pelos homens, por exemplo, e
nem quer outra coisa para si. Assim
como a enorme maioria das mulheres pensa em ter filhos, como uma
forma de realização pessoal.
A atitude do velho feminismo, que
olhava de cima a mulher heterossexual e mãe e punha a figura da advogada de terninho num pedestal, era
um modo muito venenoso de ver a
existência humana. Quando se fizer
uma reavaliação do movimento como um todo, seremos capazes, espero, de imaginar um feminismo mais
amplo do que tem sido até aqui.
Texto Anterior: 6 - Arte sem rumo Próximo Texto: 8 - EUA hoje Índice
|