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6 - Arte sem rumo
Folha - Não é um problema só do
rap.
Paglia - A poesia sofre de falta de
comunicação, as artes visuais também. Está cheio de gente talentosa e
produtiva por aí. Mas não capazes
de produzir alguma obra específica,
de qualidade tamanha, de visão tamanha que perdure pelas gerações.
A turma do rap me diz que não está
preocupada com isso. E eu respondo
que, sendo assim, estão fracassando
no seu meio, fracassando na arte.
O modelo, para mim, é a poesia
grega antiga. Os fragmentos de poesia grega que chegaram até nós.
Lembro de ler os gregos na faculdade e ficar muito comovida com a força daquelas vozes individuais, as vozes de poetas de 500 ou 600 anos antes de Cristo, ainda vivas depois de
milênios. Sinto vontade de dizer para cada artista: faça sua arte como se
fosse a única que vai sobreviver.
Folha - Um artista não pode levar essa responsabilidade o tempo todo.
Paglia - Claro que não. Tanta gente
se dedica aos "processos", aos esboços, às "notações". É uma atitude
egocêntrica, mas perfeitamente
aceitável num determinado momento. "Não quero fazer obra-prima nenhuma." Tudo bem.
Mas esse tempo já se foi, pelo amor
de Deus! Minha vontade agora é dizer: Acordem! Estamos no século 21
e as artes estão perdendo seu lugar,
mal conseguem sobreviver no domínio da mídia. Estamos num outro
ambiente, e vocês têm de brigar pela
arte. O jeito de brigar é fazer coisas
que durem, querer fazer coisas que
durem. E que falem a todo mundo.
Precisamos repensar as coisas, começando por descartar o receituário
pretensioso da vanguarda. Pelo menos aqui nos EUA, onde ainda é possível um artista como [o inglês] Damien Hirst exibir pedaços de vaca
cortados num museu. Teria sido
muito interessante há 70 anos, no
dadaísmo. Hoje não faz sentido. É
adolescente. John Cage e tantos outros já fizeram sua obra há décadas.
Acordem! Vocês estão perdendo o
curso das coisas. Estão pelo menos
40 anos atrasados. Já é hora de redescobrir a beleza, redescobrir o
prazer, coisas que têm de voltar ao
centro da arte, se se quer falar de novo ao público não-especializado.
Quem não aceita isso é gente muito
pequena, de imaginação pequena.
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