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4 - Internet e fim da leitura
Reprodução
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Espectador chega ao festival de Woodstock, em 1969 |
Folha - Seu livro, então, tem alguma
coisa dessa intenção pedagógica, de
ensinar a juventude a ler poesia?
Paglia - O que estou tentando, neste livro, é chamar a atenção para a
linguagem. Na era do computador,
as pessoas escrevem e-mails rápidos
e lêem tudo de modo muito apressado. Ninguém mais se senta para ler.
Simplesmente sentar-se e concentrar-se numa página impressa é uma
atividade que está desaparecendo
rapidamente. E eu me preocupo
bastante com o desenvolvimento intelectual da nova geração.
Minha geração, os cinqüentões de
hoje, de certo modo teve o melhor
dos mundos. Aprendemos a ler à
moda antiga, com todo o rigor de
uma educação conservadora, e
aprendemos a consultar obras de referência, na biblioteca. Aprendemos
a diferenciar boas e más fontes, ao
fazer uma pesquisa. Mas a mocidade
cada vez tem menos tempo para livros, porque há tantas outras formas
de consulta... E confiam demais na
internet -são muito inocentes em
relação à internet.
Folha - Quem te viu, quem te vê! Não
era você quem dizia [em 1995] que "a
internet é uma forma de guerrilha
contra o politicamente correto"?
Paglia - Sempre fui grande defensora da internet. Comecei a escrever
para o site "Salon" em 1995, no primeiríssimo dia. E continuei escrevendo por seis anos, até que tive de
parar para escrever este livro (que
me levou cinco anos de trabalho).
Nem por isso deixo de dizer para os
meus alunos: não se pode confiar na
internet. A não ser que sua fonte tenha o endosso de uma boa universidade, uma boa biblioteca ou algo do
gênero. E eles ficam espantados,
porque confiam, implicitamente,
em qualquer coisa que se lê na rede.
Não têm idéia da quantidade de lixo circulando. Também não sabem
lidar com obras de referência e muitos deles nunca entraram numa biblioteca.
A internet é maravilhosa como
instrumento; mas muito incompleta
como fonte confiável de trabalho. E
internet vicia. Cria dependência.
Não dá para saber que efeito terá sobre nossos hábitos, mentais e outros;
está muito cedo para isso. Mas dá
para ver a enorme perda dessa falta
de contexto geral. Vejo isso agudamente no caso das maiores e melhores obras de arte do passado. E é por
isso que estou ansiosa para acompanhar os serviços relativos à eleição
do novo papa, em Roma.
Folha - A eleição do papa?
Paglia - Sim, porque será uma educação e tanto para o público norte-americano o fato de poder ver a arquitetura e a escultura romanas e as
obras de arte do Vaticano. Será um
curso rápido de introdução à arte
para milhões de pessoas. Verão coisas que jamais tiveram chance de
imaginar. Os EUA são um país muito isolado, voltado para si mesmo. O
Canadá já é outra coisa, mas nós,
aqui, estamos absurdamente isolados do resto do mundo, nesse ambiente midiático avassalador.
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