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3 - Poesia e romance
Folha - O que você diria que alguém
de 17, 18 anos deveria estar lendo
agora para ter uma noção do seu próprio tempo?
Paglia - Poesia. O pós-estruturalismo privilegiou o romance. É no romance que as técnicas da desconstrução funcionam melhor. Com a
poesia, não. E, para mim, o poema
-o curto, em especial- faz muito
mais parte da nossa época. O poema
curto equivale a uma canção, que se
escuta inteira no rádio, ou a uma
pintura, que se pode ver isolada. Já
um romance pode exigir duas ou
três semanas de leitura, com um esforço especial de atenção para a linearidade das idéias. E esse tempo e
essa atenção são cada vez menos disponíveis, mesmo para os jovens.
Eu adoro os romances do século
19, mas não tenho entusiasmo pelo
romance anglo-americano contemporâneo. Os últimos romances que li
a sério foram [três grandes obras do
modernismo europeu] "Rumo ao
Farol", de Virginia Woolf, "A Montanha Mágica", de Thomas Mann, e
"Ulisses", de James Joyce, romances
em que se percebe uma espécie de
fusão entre poesia e prosa. Já o romance anglo-americano atual... O
que é essa ficção, comparada à vitalidade que se vê por todos os lados, no
cinema, na TV, até na internet ou em
videogames?
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