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1 - Anos 60 e drogas
Folha - Podemos começar, quem sabe, com sua leitura da canção de Joni
Mitchell, "Woodstock". Ela parece fechar as coisas de um modo crucial, como se o livro inteiro ganhasse outro
sentido. Não seria legítimo dizer que
você, nesse ponto, está reagindo às
"esperanças frustradas e energias
tragicamente perdidas" da geração
que viveu a juventude na década de
1960 -derrocada que, para você, já
se anuncia nessa canção?
Camille Paglia - Jogar o foco nesse
capítulo me parece muito justo, pois
foi um texto que escrevi com o coração. Minha geração me parecia tão
talentosa, dotada de tamanhas promessas, parecíamos estar fazendo
nada menos que uma revolução cultural. E tudo aquilo deu em desastre.
Um desastre que se deve, em primeira instância, aos efeitos das drogas.
Veja bem: foram os indivíduos
mais avançados, mais aventurosos,
mais prontos a romper com os limites tradicionais, foram eles os que
mais consumiram drogas, acreditando ingenuamente num atalho
para o paraíso. O resultado foi esse
desastre, que levou embora um número incomensurável de pessoas. E
um resultado disso, então, foi que as
figuras mais convencionais, mais
conformistas, acabaram tomando
conta das universidades. Tomaram
conta e têm a audácia, agora, de dizer que são herdeiros dos anos 60, o
que é uma calúnia.
Folha - Você se sente representando
os ideais da geração?
Paglia - Tenho um sentimento
muito forte, um sentido elegíaco
dessa geração que agora se vê caricaturada, reduzida a um período exótico do passado, quando se usavam
roupas coloridas e cabelo comprido,
quando se tocava violão na calçada e
dançava pelado no parque. Um outro lado dessa mesma imagem são
os protestos contra a guerra, como
se fossem tudo o que de mais radical
nossa geração foi capaz de fazer.
O fato é que havia uma grande revolução artística em curso. A integração de poesia, artes visuais, música, cinema etc. na criação de um novo tipo de performance artística. Tudo isso se movendo na direção de
uma verdadeira Renascença norte-americana -algo que nos anos 70 já
tinha se rebaixado ao simbolismo
cru da cultura das discotecas. Um
cultismo, um artificialismo fácil
(embora eu também adore música
de discoteca). Uma grande perda da
visão mística, das percepções cósmicas da geração anterior.
As drogas tiveram esse efeito terrível. E logo veio a Aids, que destruiu
uma geração inteira de homossexuais talentosíssimos.
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