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Persona livre
CAMILLE PAGLIA
FALA DO NOVO LIVRO, EM QUE ANALISA
43 POEMAS DA LÍNGUA INGLESA,
DE SHAKESPEARE A JONI MITCHELL,
DIZ QUE AS DROGAS DEVASTARAM SUA GERAÇÃO E AFIRMA QUE A ARTE
PRECISA VOLTAR A
CONVERSAR COM
AS MASSAS
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
Camille está doente e não vai
poder fazer a entrevista
amanhã." Para quem tinha
ido aos EUA só para isso, o
recado não podia ser pior. Ou podia,
sim, porque a tentativa de adiar o
encontro por 24 horas também se
viu frustrada. Às vésperas de uma
maratona de lançamento do seu novo livro, "Break, Blow, Burn" [Quebrar, Estourar, Queimar, ed. Pantheon Books, 272 págs., US$ 20 (R$
53), ainda sem previsão de lançamento no Brasil], incluindo 14 palestras em 11 cidades, pelos quatro cantos do país, Camille Paglia estava de
cama, com febre, com tosse e sem
condição de receber ninguém.
Ao contrário do gigantesco, majestoso, arrojado tratado estético-literário-feminista "Personas Sexuais" (Cia. das Letras), que catapultou a desconhecida professora da
modesta Universidade das Artes, na
Filadélfia (onde dá aula até hoje), para a fama mundial; e diferente, também, das duas coletâneas subseqüentes de ensaios, "Sexo, Arte e
Cultura Americana" (Cia. das Letras) e "Vampes & Vadias" (Francisco Alves), que confirmaram sua posição muito especial de crítica da
cultura popular norte-americana, o
novo livro tem forma mais simples e
escopo bem definido: são 43 pequenos ensaios sobre 43 poemas de língua inglesa, começando no século
16, com um soneto de Shakespeare, e
terminando na década de 1970, com
a letra de uma canção de Joni Mitchell, "Woodstock".
É um livro "para o público em geral", escrito numa prosa elétrica, que
não facilita nada, a despeito de sua
transparência quase clássica, inteiramente livre de jargão. Ao mesmo
tempo, é o mais pessoal da personalíssima autora: "43 Retratos de Camille" ou "O Sentido da Vida", iluminações fulgurantes sobre mais ou
menos tudo, por poemas selecionados de autores como John Donne
(de quem vem o título do livro), William Blake, Walt Whitman e Emily
Dickinson, para ficar nos antigos, e
chegando a contemporâneos pouco
conhecidos fora dos EUA, como o
artista, editor e curador de arte
Ralph Pomeroy e a poeta feminista
negra Wanda Coleman.
Depois da viagem, fazer a entrevista de São Paulo parecia o cúmulo da
frustração, mas um minuto de conversa com ela é o bastante para qualquer um se animar. Sentada no carro, nalgum lugar da histórica cidade
dos patriarcas dos EUA, falando por
telefone celular, Camille Paglia não
deixa um segundo vazio e não gasta
nem meio minuto sem uma frase
memorável. Sempre muito simpática e muito rápida, dando-se ao direito e ao prazer da indignação contra
os males do mundo em geral e do
contexto americano em particular,
dando-se também ao direito e às euforias da palavra e da arte, ela nunca
soa menos do que tudo de si e faz
brilhar, para ela mesma e para o resto de nós, o que pode ser a vida da
mente, nestes tempos sombrios.
Onde encomendar
"Break, Blow, Burn" pode ser encomendado,
em SP, na livraria Cultura (tel. 0/xx/ 11/
3170-4033) e, no RJ, na Leonardo da Vinci
(tel. 0/xx/ 21/ 2533-2237) ou no site
www.amazon.com
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