São Paulo, segunda-feira, 08 de janeiro de 2001

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PREGÃO
Ao investir em ações, veja antes a nova composição da carteira do Ibovespa, que foi alterada na semana passada
Ações com liquidez garantem negócios

PAULA PAVON
DA REPORTAGEM LOCAL

Investidores que aplicam diretamente em Bolsa devem ficar de olho na nova composição da carteira do Ibovespa (Índice da Bolsa de Valores de São Paulo). Analistas recomendam observar o novo índice de participação das ações, pois quanto maior o peso delas no ranking, maior a liquidez do papel.
A dica vale ainda para aqueles que não investem em ações, mas que se animaram a aplicar depois da queda dos juros nos Estados Unidos e da perspectiva de redução das taxas no Brasil (leia no texto ao lado).
Mas, afinal, por que é importante saber a composição do índice? "O peso da ação no Ibovespa é fator determinante para saber a negociabilidade do papel no mercado", explica Gregório Mancebo Rodriguez, gerente de corporate da corretora Socopa.
Suponhamos que você esteja entrando em Bolsa hoje com perspectiva de investimento de médio prazo. Mas, ao longo dos meses, um aperto financeiro ou algum outro imprevisto o obriga a vendar as ações antes do período determinado.
Aí chegou a hora de colocar a teoria em prática: se você tiver ações em carteira que façam parte do Ibovespa e que tenham um peso significativo na sua composição, maior será a facilidade de venda do papel.
O investidor Claudio Gaiotti, 36, afirma que, no ano passado, investiu somente em ações consideradas "blue chips" do mercado. "Investi em ações com boa liquidez. Neste ano, estou usando a mesma estratégia", diz.
A composição do Índice Bovespa muda a cada quatro meses. O cálculo é feito com base no volume financeiro e de negócios dos papéis nos últimos 12 meses.

Mudanças
"A boa liquidez da ação hoje acaba gerando um círculo vicioso", diz Rodriguez. Segundo ele, quanto mais líquida a ação, mais chance ela terá de se tornar um papel com grande peso no índice porque mais investidores irão comprá-la. "Isso explica o fato de o índice ser muito concentrado em alguns setores", diz.
Para se ter uma idéia do grau de concentração dos papéis do Ibovespa, a Economática, a pedido da Folha, calculou o quanto representa cada setor na carteira teórica da Bolsa. Resultado: o setor de telecomunicações representa 37,69% do total. O segundo lugar, que fica com as ações do setor de energia elétrica, vem muito abaixo, com 13,32% de participação no índice (veja tabelas ao lado).
Na composição atual do Ibovespa, o setor de telecomunicações e o de holdings ganharam um peso maior. Já os setores de energia elétrica e bancos perderam espaço no novo índice teórico de ações. O setor bancário representava 12,44% do índice. Com a mudança, passou a responder por 9,01%.
Mas há uma explicação para o tamanho da queda. Embora a maioria das ações de bancos tenham perdido participação no índice, a principal responsável pela redução foi a ação do Bradesco, cuja participação passou de 6,2% para 3,7%.
Essa queda foi provocada pela cisão entre Bradesco e Bradespar, que passou a fazer parte do setor de holdings. Com isso, as holdings tiveram sua participação aumentada de 2,37% para 3,74% na nova composição.
"Num ano volátil, como foi o de 2000, é natural que haja concentração de liquidez", diz Mauro Morelli, superintendente de fundos derivativos do Itaú. "Já num ano em que a possibilidade de alta para a Bolsa é mais visível, a tendência é que haja uma melhor distribuição da liquidez entre empresas e setores devido à procura maior", afirma.
Jorge Misumi, diretor de renda variável da HSBC Asset Management, observa que a carteira teórica do Ibovespa privilegia somente ações com boa liquidez. Diferentemente do índice IBX (Índice Brasil, que abrange as cem ações mais negociadas na Bolsa), que leva em consideração a liquidez e também o valor de mercado da empresa.
"É por isso, por exemplo, que a Globo Cabo sozinha tem uma participação no Ibovespa muito próxima da do setor bancário como um todo", afirma Misumi.
Jorge Kotani, analista de investimentos da Lafis Consultoria, diz que costuma alertar os pequenos e médios investidores que privilegiar ações com liquidez é o primeiro passo para ter sucesso em Bolsa. "É a porta de saída num mercado volátil", diz.


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