Di�rio de Paris
O MAPA DA CULTURA
Com a coleira no pesco�o
Os dilemas do pitbull da imprensa francesa
"C'est reparti!" [recome�ou]. A manchete do primeiro n�mero do jornal "Charlie Hebdo" p�s-"edi��o dos sobreviventes" � mais assertiva do que qualquer progn�stico sobre o futuro da publica��o.
O seman�rio retomou sua periodicidade na �ltima quarta (25) projetando-se, no cartum da capa, como "cachorro irrespons�vel" atr�s do qual correm figuras como o papa, o ex-presidente Nicolas Sarkozy, a l�der da extrema-direita Marine Le Pen e um jihadista --todos igualmente c�es, mas "submissos", na explica��o do desenhista Luz.
Na fase de convalescen�a, no entanto, o pitbull do laicismo talvez n�o possa ser t�o inconsequente quanto gostaria. A como��o causada pelo assassinato de 12 pessoas no ataque � Reda��o se reverteu num aporte de mais de 12 milh�es de euros (R$ 39 mi) � conta banc�ria da empresa.
Uma cifra exorbitante, ainda mais tendo em vista que, antes do epis�dio fat�dico, o jornal tinha apenas 8.000 assinantes e vendia 24 mil exemplares. "Faz�amos um fanzine, um gibi do Mickey... Como desenhar neste 'Charlie' idealizado que nos submerge?", indagou Luz, enquanto preparava a "edi��o dos sobreviventes".
O "Le Monde" listou outros dilemas: como repor o banco de cartunistas da Reda��o, quando boa parte dos sondados pergunta se poder� trabalhar em casa? Que modelo gerencial adotar, visto que os jornalistas articulam a cria��o de cooperativa com participa��o acion�ria no "Charlie"? Voltar�o as acusa��es de islamofobia? O "cachorro irrespons�vel" tem uma baita coleira estorvando-lhe a corrida.
CIN�MA V�RIT�
Dois temas que voltaram � ordem do dia ap�s os ataques de janeiro, a liberdade de express�o e o fosso entre a Fran�a ber�o do humanismo e o pa�s de oportunidades vari�veis segundo a etnia do cidad�o, reverberam no cinema.
Ao primeiro se dedicam os document�rios "Caricaturistes, Fantassins de la D�mocratie" (caricaturistas, soldados da democracia), em que desenhistas de 12 pa�ses narram maus bocados com a censura; e "C'est Dur d'�tre Aim� par des Cons" (� duro ser amado por idiotas), que acompanha o processo de que o "Charlie" foi alvo por publicar caricaturas do profeta Maom�. Ambos retornaram �s salas depois dos atentados.
J� a fic��o "Qu'Allah B�nisse la France" (que Al� aben�oe a Fran�a) mostra a ascens�o, pela via do rap, de um jovem negro sobre quem pesam estigmas (filho de imigrantes morador da periferia, mu�ulmano) mais prop�cios a lev�-lo � delegacia do que �s paradas de sucesso.
A cr�tica, no entanto, desaprovou o tratamento heroico e o discurso apaziguador, na linha "se voc� se esfor�ar de verdade, vai achar seu espa�o neste pa�s".
DESAFINA��O
O arquiteto-superstar Jean Nouvel est� processando os administradores da rec�m-inaugurada Filarm�nica de Paris, megacomplexo de salas de concerto, ensaio, espa�os expositivos e gastron�micos erguido no parque La Villette, na regi�o nordeste, a um custo de 350 milh�es de euros (R$ 1,1 bilh�o) --tr�s vezes o previsto inicialmente.
Ele diz que, na �nsia de encerrar as obras, os clientes ignoraram 26 pontos de seu desenho original, como detalhes da fachada e dos foyers. Enquanto isso n�o for corrigido, Nouvel renegar� a cria.
A contenda por ora desvia o foco da interessante programa��o de abertura da Filarm�nica, que intercala o c�none erudito a espet�culos de voca��o mais popular, concebidos, por exemplo, a partir do cancioneiro de David Bowie ou das composi��es do violonista Paco de Luc�a (1947-2014).
CRIME DE LUX�RIA
Mais de um ano depois de ser aprovado pelos deputados franceses, o controverso projeto de lei que prev� a penaliza��o dos clientes de prostitutas(os) deve ser votado no Senado no fim deste m�s. Se institu�da, a multa ser� de 1.500 euros (R$ 4.900).
Os defensores da iniciativa dizem que a repress�o enfraqueceria as redes de tr�fico de pessoas e lembram que o projeto prev� tamb�m a destina��o de uma "mesada" �quelas(es) que quiserem deixar a atividade. Por outro lado, h� quem diga que a lei simplesmente estimularia a prostitui��o "indoor", mais distante do radar dos servi�os p�blicos de assist�ncia m�dica e psicol�gica.