![]() |
![]() |
![]() |
Próximo Texto
| Índice | Comunicar Erros
Not�cias de Paris Livro re�ne cartas trocadas entre o escultor Victor Brecheret e o escritor M�rio de Andrade, �cones do modernismo brasileiro
DE S�O PAULO De Paris, Victor Brecheret escreveu a M�rio de Andrade elogiando os versos da "Pauliceia Desvairada" que o amigo enviara por correio, reclamando da pen�ria em que vivia, contando como uma de suas obras rachou no frio do inverno e ainda extasiado com o "turbilh�o" daquele "pandem�nio de cidade". Era a d�cada de 1920, os anos loucos da capital francesa, epicentro da produ��o art�stica global, e Brecheret era o bolsista do governo paulista que tentava modernizar seu tra�o convivendo com artistas como Brancusi e L�ger e o arquiteto Le Corbusier. Essa correspond�ncia breve e ao mesmo tempo intensa entre duas figuras centrais do modernismo brasileiro est� agora num livro editado no marco dos 90 anos da Semana de Arte Moderna de 1922. Em "Victor Brecheret e a Escola de Paris", Daisy Peccinini narra o triunfo que o escultor -nascido em Farnese, na It�lia, e morto aos 61 em S�o Paulo, em 1955- atingiu na capital francesa. Ali, Brecheret foi parar num ateli� perto do cemit�rio de Montparnasse, ent�o uma zona pobre e perif�rica de Paris. Um cr�tico que visitou o jovem artista chamou de "t�trico" o endere�o onde ele se trancava. "Sem repouso", como frisou em carta a M�rio de Andrade, para fazer suas esculturas. VIT�RIA Num portugu�s sofr�vel, Brecheret contava ao escritor que andava "sempre trabalhando". "Estou classificado aqui em Paris em primeira linha, tendo tido visitas de muitas pessoas not�veis", escreveu o artista em 1924. Isso foi depois da carta euf�rica que mandou um ano antes, come�ando com "vit�ria! vit�ria!", ao narrar o pr�mio que venceu no Sal�o de Outono de 1923 com a obra "O Sepultamento de Cristo". "Era um grupo de mulheres em p� e a Virgem sentada, segurando sobre as pernas a cabe�a e parte do tronco de Jesus", descreve Peccinini. "Ele instalou essa obra numa mureta da escadaria do Grand Palais, numa adequa��o da escultura � arquitetura, uma s�ntese das artes." Nesse ponto, por mais que a bolsa em Paris tivesse como foco um aprimoramento acad�mico do artista, era inevit�vel que os brasileiros que se aventuravam por Paris sofressem influ�ncia das vanguardas, como o "esprit nouveau", propalado por Le Corbusier e que est� por tr�s de vasta produ��o de Brecheret. Foi em Paris que o escultor suavizou o tra�o, chegando �s formas l�mpidas que aparecem no monumento �s Bandeiras e outras de suas obras cl�ssicas. No lugar da anatomia real e de uma organicidade �s vezes grotesca, Brecheret preferiu formas depuradas, prontas para um embate pl�stico com a luz. Brancusi, que o artista conheceu em Paris, � influ�ncia clara nessa simplicidade da forma. Mas Brecheret tamb�m teve como motor certa avers�o ao corpo de verdade. CAD�VERES Em Roma, onde estudou ainda adolescente, ele se horrorizava com as pr�ticas sanguin�rias do mestre Arturo Dazzi, que chegou a matar e dissecar um cavalo puro-sangue, presente do rei da It�lia, para estudar como desenhar veias, art�rias e m�sculos. Brecheret, que tamb�m ajudava o artista a encontrar cad�veres de indigentes para dissecar, parece ter se traumatizado com a experi�ncia. "Ele vai geometrizando cada vez mais suas esculturas, em c�rculos, espirais, par�bolas", analisa Peccinini. "Esse despojamento das formas, a limpidez do tra�o, vinha do grupo de Le Corbusier, que Brecheret frequentava." Fernand L�ger, mentor de Tarsila do Amaral, que ent�o tamb�m vivia na capital francesa, tinha um ateli� perto do de Brecheret e foi influ�ncia decisiva em sua obra. Talvez depois de ver as mulheres-engrenagem do artista franc�s, Brecheret tamb�m enveredou por "nus mecanicistas", nas palavras de Peccinini, pe�as como "Portadora de Perfume", de 1924, que serviram de embri�o para o monumento �s Bandeiras, que ele construiu no Ibirapuera entre os anos 30 e 50.
VICTOR BRECHERET E A ESCOLA DE PARIS |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |