Cr�tica literatura/mem�rias
Livro curto de Natalia Ginzburg condensa sabedoria enorme
Anos depois da publica��o de "Caro Michele" e "L�xico Familiar", ambos da cole��o Mulheres Modernistas, a editora Cosac Naify aposta em "As Pequenas Virtudes", reuni�o de textos de n�o fic��o da italiana Natalia Ginzburg (1916-1991).
Escritos entre 1944 e 1962, os textos t�m extens�o vari�vel e est�o divididos em duas partes. A primeira se at�m aos deslocamentos –como o per�odo em que a autora morou em Londres– e a dois afetos em particular.
Um deles � o poeta Cesare Pavese (1908-1950), de quem Ginzburg foi amiga, que emerge do retrato esbo�ado por ela como uma figura ind�cil e inapreens�vel. O segundo � Gabriele Baldini, segundo marido de Ginzburg, que surge, com suas implic�ncias e idiossincrasias, no inc�modo "Ele e Eu".
Na medida em que o texto avan�a, � poss�vel perceber o quanto a rela��o � desequilibrada e conflituosa –do que Ginzburg tem perfeita consci�ncia. O �ltimo par�grafo revela a extens�o da m�goa e da ingenuidade perdida.
A segunda parte cont�m o melhor do livro. "As Rela��es Humanas" � um estupendo relato autobiogr�fico com o foco na empatia: Ginzburg mostra como � dif�cil (e custoso) abandonar a atitude defensiva e desviar o olhar do pr�prio umbigo. (Leitores de fic��o contempor�nea sabem o quanto a discuss�o � atual.)
"O Meu Of�cio" ilustra a maneira pela qual essa mesma empatia interfere no processo de escrita, influenciando a concep��o e a movimenta��o dos personagens em um conto ou romance.
"As Pequenas Virtudes", que d� t�tulo ao livro, fala da import�ncia de se ensinar aos filhos a verdadeira grandeza (a generosidade, a franqueza, o amor ao pr�ximo) ao lado das atitudes mais pontuais e escorregadias (a prud�ncia, a diplomacia, a ast�cia). � uma aula de educa��o que tamb�m serve de gatilho para a autoan�lise.
Claro, Ginzburg � especialista em esmiu�ar a transi��o da inoc�ncia para uma maturidade serena, destacando o valor do aprendizado pelo sofrimento e pelas dificuldades –o que, no seu caso, foi representado pelo fascismo.
"Conhecemos a realidade em sua face mais terr�vel", escreve ela, cujo nome de batismo � Natalia Levi. � esse conhecimento que fica, e que � transmitido de forma t�o simples e direta. Ao falar de si sem vaidade ou autoindulg�ncia, Ginzburg j� deixa uma li��o preciosa para o leitor.
No fim das contas, h� mesmo uma sabedoria enorme contida em um livro t�o pequeno. A sensibilidade de Natalia Ginzburg � incomum, o que se mostra tanto em sua fic��o como, e sobretudo, nestes seus textos breves e encantadores.