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Volta sem revolta
Lan�ando novo disco, Emicida fala de como mudou a abordagem de suas letras depois da pris�o em BH e faz cr�ticas ao p�blico de hip-hop
"E agora, que eu tenho carro, casa e comida, vou cantar que n�o d� para vencer na vida?", pergunta Leandro Roque de Oliveira, 28, o Emicida, � reportagem da Folha, em seu escrit�rio na zona norte de S�o Paulo.
� que do primeiro single, "Triunfo", de 2008, a "O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui", disco de estreia que ser� lan�ado hoje, �s 16h, no YouTube, a vida do rapper deu uma virada.
No lugar do barraco e da fome na periferia h� uma carreira consolidada, uma agenda de shows lotada, uma produtora que agencia outros rappers e, claro, dinheiro e melhores condi��es de vida. Sua m�sica tamb�m foi arrastada pelas mudan�as.
"Em 2011, parei de escrever. Comecei a achar as coisas que eu fazia todas iguais: texturas, met�foras, ideias. Fui estudar, ler, voltei a ouvir m�sica direito", diz.
O hiato durou at� dezembro do ano passado, quando ele retomou os cadernos onde anota os t�picos que podem se tornar letras. Mas n�o foi s� a melhoria financeira que o fez repensar as pr�prias composi��es.
PROTESTO
Em mar�o de 2012, Emicida foi detido em Belo Horizonte (MG), acusado de desacato � autoridade por cantar "Dedo na Ferida", m�sica inspirada na desocupa��o da comunidade de Pinheirinho, no interior de S�o Paulo.
"Fodam-se voc�s, fodam-se suas leis", diz o refr�o.
"Depois de levantarmos o tema, percebi que muita gente s� queria um refr�o que falasse um palavr�o. Ningu�m lembrou do que a letra tratava. N�o renego a m�sica, mas comecei a ach�-la apelativa."
Na busca por um novo modo de vocalizar o protesto pol�tico que � intr�nseco � cultura hip-hop, nasceram coisas como "Cris�ntemo", que tem a participa��o de Dona Jacira, m�e do cantor.
Na faixa, ela narra a morte de Miguel, pai do rapper, assassinado numa briga de bar quando ele ainda era crian�a. "Falar disso � muito mais dedo na ferida do que Dedo na Ferida'", diz ele, justificando a nova embocadura.
Al�m de Dona Jacira, o disco tem participa��o de Pitty, Tulipa Ruiz, Jussara Mar�al, Wilson das Neves e MC Guime, este �ltimo uma das novas estrelas paulistas do chamado "funk ostenta��o".
Arrebanhar nomes t�o distintos � tamb�m um sintoma de como o rap se entranhou na m�sica pop nos �ltimos anos no Brasil. O que n�o impede as cr�ticas do artista ao modo desconfiado como parte da comunidade rapper ainda v� a ascens�o dos seus expoentes.
FAVELA E ASFALTO
"Incutiram o pensamento na periferia de que as coisas legais n�o s�o para voc�s, seu lugar � na favela'. Mas se eu vejo um rapper que h� cinco anos rimava numa cal�ada e hoje est� na TV, e isso me ofende, estou de certo modo fomentando o preconceito de que somos v�timas."
O tal "entranhamento" tamb�m se d� em quest�es mais s�rias. No m�s passado, Emicida foi ao Senado com artistas como Roberto Carlos e Caetano Veloso para defender um projeto de lei que definia a fiscaliza��o do Ecad, entidade que arrecada direitos autorais no Brasil.
"O meu posicionamento foi motivado pela falta de transpar�ncia do Ecad. O que recebo de direitos autorais oscila violentamente e nunca � 100% claro", diz.