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Crítica
Diretora busca estilo sem imitar grandes mestres
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Nas cenas de abertura
de "A Religiosa Portuguesa", os personagens olham para a câmera como se ela fosse o interlocutor.
Lembra os filmes de Yasujiro
Ozu, claro, mas a tendência é
perguntar o que de Ozu está sobrando ou faltando nisso.
Não é Ozu, em todo caso. Em
vários outros momentos, o filme de Eugène Green lembra os
de Robert Bresson, sobretudo
na direção de atores, mas falta-lhe a firmeza que em Bresson
vinha de décadas de luta com as
convenções do cinema.
O argumento retoma uma
prática corrente de (bons) roteiros atuais, em que duas histórias se superpõem. No caso,
Julie, atriz francesa (Leonor
Baldaque), vem a Lisboa rodar
cenas de um filme em que faz,
precisamente, o papel de uma
religiosa portuguesa.
Julie explora Lisboa. Seus
passeios são encontros variados: com um quase suicida, um
menino para quem busca pais
adotivos etc. O centro: ela sente
a vida escapar-lhe, não importa
o quanto estabelecer relações
sexuais lhe seja fácil.
Todo o tempo, a direção parece tatear em busca de um estilo que expresse a espiritualidade do enredo sem imitar os
grandes mestres desse estilo. O
grande momento é o do encontro entre a atriz e uma verdadeira religiosa. Ali muitas coisas vão se esclarecer para a
atriz. Mas trata-se também de
uma conversa tão explicativa
que, às vezes, tendemos a nos
perder dentro dela. É um ponto
delicado, em que, de tanto investir nesse encontro, o filme
ameaça sucumbir a ele.
Se isso não se dá é, em boa
medida, graças a certas réplicas
notáveis, como esta em que Julie explica sua atividade à freira: "Sou atriz, tento mostrar a
verdade através de coisas irreais". A freira: "Deus fez o
mesmo ao criar o mundo".
A RELIGIOSA PORTUGUESA
Quando: hoje, às 22h, no Unibanco
Arteplex 4 (12 anos)
Avaliação: bom
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