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MÚSICA
No Midem, feira da indústria fonográfica na França, produtores indicam que espaço para o país se diversifica no continente
Europa prova "sabores" musicais do Brasil
DIEGO ASSIS
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
De quando em quando, os ventos sopram a favor do Brasil. E é
em meio a uma dessas novas lufadas verde-e-amarelas, que arrasta
consigo sandálias Havaianas, novas promessas do futebol e supermodelos de biquínis, que o país
começa a construir uma outra
imagem de si mesmo.
Quem circulou pelos corredores
do Midem, maior feira mundial
anual da indústria fonográfica,
encerrada na última quinta-feira,
em Cannes, na França, não foi
servido (apenas) com o esperado
coquetel bossa nova e axé music.
Pelo contrário, na noite em que o
Brasil foi destaque e que abriu,
simbolicamente, o Ano do Brasil
na França, os franceses provaram
um pouco do exótico bandolim
de Hamilton de Holanda (que
não é choro), do samba vira-lata
de Seu Jorge e do tempestuoso
Cordel do Fogo Encantado.
Aplaudiram todos.
"Há um potencial enorme para
a nova música brasileira na Europa", sublinha o alemão Frank
Hessing, dono de uma agência de
consultoria, a MusiConsult, especializada em oferecer os aperitivos brasileiros para os cardápios
musicais de gravadoras e selos em
todo o mundo. "Durante muitos
anos, os europeus tinham uma
certa imagem do Brasil, que era
baseada apenas em certos fragmentos de bossa nova e samba,
mas que não dava conta da diversidade que existe no Brasil. Só
com [a turnê de 95 de] Chico
Science e Nação Zumbi, é que o
europeu passou a perceber que tinha mais, que tinha rock, que tinha música eletrônica", aponta.
A opinião de Hessing é quase
unânime entre os diversos personagens envolvidos nesse novo
quadro ouvidos pela Folha. "Tudo o que não é cantando em inglês
é world music. E a world music
moderna não é mais aquela coisa
hippie de antigamente. São artistas que, como a Björk, conseguem
romper as fronteiras do isolamento musical, mas usando sempre as raízes da sua cultura", defendeu Marc Hollander, proprietário da gravadora belga Crammed Discs, que, sob o selo Ziriguiboom, lança vários artistas brasileiros desde 1998.
Mais que uma ponte entre os
mercados, Hollander diz que faz
questão de produzir pessoalmente cada um desses álbuns, que incluem tanto nomes conhecidos
do público brasileiro, como Trio
Mocotó, Celso Fonseca e Bebel
Gilberto, que sozinha rendeu 1
milhão de cópias vendidas para a
Crammed, quanto outros mais
obscuros, como a cantora Cibele e
o grupo brasileiro-holandês Zuco
103.
No início de março, a Crammed
promove o lançamento mundial
do novo disco de DJ Dolores com
a Aparelhagem. Uma semana antes, vale destacar, de o álbum chegar às lojas do Brasil.
"A música brasileira acabou se
tornando uma das coisas mais
importantes da gravadora nos últimos cinco anos", afirma o belga,
que conta com a ajuda de Béco
Dranoff e dos próprios artistas
que contrata para o garimpo de
novas pepitas. "Não estou interessado em vê-los estourar. Quero
desenvolver suas carreiras de forma consistente. Qualquer superexposição acaba virando um
problema, as pessoas não querem
mais ouvir nem falar."
A idéia de superexposição também levanta os cabelos do inglês
David Buttle, diretor administrativo do selo Mr. Bongo, que licenciou internacionalmente o primeiro álbum de Seu Jorge e, atualmente, tem apostado todas as
suas fichas no funk carioca. "Sempre que vejo os DJs tocando [funk
carioca] nos clubes de tecno e
electro da Inglaterra me lembro
dos primeiros anos do punk, com
os Sex Pistols, e as pessoas pulando enlouquecidas sem saberem
direito o que era aquilo", disse
Buttle, que tem também no catálogo Marcelo D2, Marcelinho da
Lua e Black Alien, o qual ajudou a
emplacar num comercial de televisão da Nissan, no ano passado.
Por fim, não é só de remixes,
neo-sambistas e modernos afins
que é formada a nova safra de
brasileiros que vem desembarcando na Europa. Entre os nomes
que se apresentam na França entre março e dezembro deste ano
estão incluídos Coco Raízes de
Arcoverde, Heleno dos 8 Baixos,
Maciel Salu e o Terno do Terreiro
e outros representantes do tradicionalíssimo e ainda pouco divulgado folclore pernambucano.
"Não vai mais ser show para
brasileiro morando no exterior.
Essa gente que for esperando um
pagodinho ou um axé vai sair de
lá frustrada, com certeza", adianta
o produtor Paulo André Pires,
responsável pelas turnês de Dolores, Siba e Silverio Pessoa pelos
festivais de verão europeus.
O jornalista Diego Assis viajou à convite
da BM&A.
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