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Morre o poeta carioca Bruno Tolentino, 66
Vencedor de dois prêmios Jabuti, intelectual publicou em inglês e francês e ficou conhecido no país como polemista
Tolentino negava a tradição modernista de concisão e coloquialidade, adotando formas clássicas para tratar de temas contemporâneos
DA REPORTAGEM LOCAL
Vencedor de dois prêmios
Jabuti e eleito intelectual do
ano de 2003 pela Academia
Brasileira de Letras, o poeta carioca Bruno Tolentino morreu
ontem, em São Paulo, aos 66
anos. Segundo o boletim emitido pelo Hospital Emílio Ribas,
onde ele estava internado havia
um mês, a causa da morte foi falência múltipla dos órgãos.
Nos últimos cinco anos de vida, Tolentino publicou dois livros: "O Mundo como Idéia" e
"A Imitação do Amanhecer".
No primeiro, desenvolvido
ao longo de 40 anos, Tolentino
se debruçou sobre uma filosofia da forma.
Já "A Imitação do Amanhecer" dramatiza, numa história
contada em 538 sonetos alexandrinos, as obsessões que
permearam sua vida como poeta. Por ele, Tolentino foi indicado neste ano entre os finalistas
ao 49� Prêmio Jabuti.
Conservador, Tolentino fazia
por meio de poesia uma crítica
às pretensões modernas de
compreensão total e racional
do mundo.
Nascido em 12 de novembro
de 1940, Bruno Lúcio de Carvalho Tolentino Sobrinho conviveu desde de criança com os
grandes nomes da intelectualidade brasileira, entre eles Cecília Meirelles, Manuel Bandeira,
Carlos Drummond de Andrade
e João Cabral de Melo Neto.
Na década de 60, saiu do Brasil e, posteriormente, ensinou
literatura em Oxford e Bristol,
no Reino Unido. Assumiu a direção da editora de poesia Oxford Poetry Now em 1973. Ainda na Europa, o poeta publicou
"Le Vrai le Vain" (Actuels) e
"About the Hunt" (OPN).
No Brasil, Tolentino lançou,
entre outros livros, "Anulação
& Outros Reparos" (Topbooks), "As Horas de Katharina
(Companhia das Letras) e "Os
Deuses de Hoje" (Record). Foi
agraciado com os prêmios Jabuti 1995, Cruz e Souza 1996 e
Abgar Renault 1997. "O Mundo
como Idéia", lançado pela editora Globo em 2002, recebeu os
prêmios Jabuti e Ermírio de
Moraes. O poeta foi elogiado
por W.H. Auden e Saint-John
Perse, entre outros.
Polêmico
Tolentino era um conhecido
polemista. Em 1994, o poeta
fez, no jornal "O Estado de S.
Paulo", críticas à tradução feita
pelo concretista Augusto de
Campos de um poema de Hart
Crane (1899-1932), publicada
no suplemento "Mais!", da Folha. Em 1996, depois de morar
30 anos fora do Brasil, manifestou em entrevista à revista "Veja" sua preocupação por ver o
filho mais novo estudando em
escolas que ensinavam as obras
de letristas da MPB -como
Caetano Veloso- ao lado de
Machado de Assis, Camões e
Fernando Pessoa.
"É preciso botar os pingos
nos is. Cada macaco no seu galho, e o galho de Caetano é o
showbiz. Por mais poético que
seja, é entretenimento. E entretenimento não é cultura."
O filósofo Olavo de Carvalho,
seu amigo e aliado nas polêmicas, afirma que Tolentino foi "o
maior poeta da língua portuguesa desde Camões".
"Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo
Neto são apenas aprendizes
perto dele. Infelizmente a mídia cultural não lhe deu oportunidade de ser o grande professor de literatura de que o Brasil
precisa", declarou.
Para o crítico e colunista da
Folha Manuel da Costa Pinto,
"Bruno Tolentino conjugava
em sua poesia elementos modernos e antimodernos". "Era
antimoderno em relação ao
modernismo brasileiro, pois
recusava suas soluções formais
de coloquialidade e concisão",
diz. Por outro lado, se aproximava de certo modernismo europeu, inglês, que associava
formas clássicas à voz das ruas.
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