SÉRGIO DÁVILA
Editor da Ilustrada

No primeiro dia do ano, numa cidadezinha pacata coberta de neve, que poderia ser Fargo, Quelquepart ou Gramado, três amigos saem para passear.
No caminho, acham um avião caído, com o piloto morto, e US$ 4,4 milhões numa sacola. Os três decidem ficar com o dinheiro. Começa "Um Plano Simples" ("A Simple Plan"), com elementos de Shakespeare e da "Bíblia", o mais próximo de uma ópera que um filme comercial poderia chegar.
Os amigos são os irmãos Jacob (Billy Bob Thornton, soberbo) e Hank Mitchell (Bill Paxton) mais Lou (Brent Briscoe). Jacob é casado com Sarah (Bridget Fonda, encarnando sua Lady Macbeth rural com maestria), que está grávida.
O quarteto é de gente como a gente, com os mesmos problemas familiares e de falta de perspectiva que qualquer um, então você passa a achar natural, até justificável, que eles comecem a enganar a polícia, a roubar e a assassinar. Daí virá seu primeiro susto.
O maestro, Sam Raimi, um dos melhores diretores a surgir na safra dos anos 80 e talvez o menos reconhecido, perpetrou os já clássicos "Evil Dead" e "Evil Dead 2", que viriam a ser pais naturais do ainda inédito aqui "A Bruxa de Blair". Pouca gente sabe, mas ele formou no começo da carreira um triunvirato bastante criativo com os irmãos Coen ("Fargo") -Joel dirigia, Ethan produzia e Sam escrevia.
O filme caiu em suas mãos depois de vários diretores desistirem (John Boorman, também conhecido como John "Boring", entre eles); Raimi bateu o pé por Billy Bob Thornton e gastou cerca de US$ 50 milhões (algo como cinco guilhermes fontes).
O suspense baseou-se no excelente livro "Um Plano Simples", de Scott B. Smith (Companhia das Letras, 1993, 344 págs, R$ 24), também o autor do roteiro, indicado ao Oscar. Smith fez pós-graduação em escrita criativa na universidade Columbia (NY), parece estar em bloqueio criativo, mas o mercado aguarda ansioso seu próximo livro.
Voltando ao filme, o último susto, entre os vários que você terá (e ficará grudado na cadeira), é descobrir que nem sempre o crime compensa -e isso será o mais estranho à platéia brasileira.

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