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ENTREVISTA - "QUERO SER JOHN MALKOVICH"
Pagaria pelo papel, diz Cusack
MILLY LACOMBE
especial para a Folha em Los Angeles
Não foi a invasão do corpo de
John Malkovich, nem ter de contracenar com um macaco, tampouco ver Cameron Diaz morena
com o cabelo arrepiado; para
John Cusack, o Craig Schwartz
de"Quero Ser John Malkovich", o
mais inconcebível foi o filme ter
sido financiado em Hollywood.
Em recente entrevista à Folha,
num hotel em Beverly Hills, o
ator confessou que quando leu o
roteiro teve certeza de que ele jamais sairia do papel.
"Era a história mais absurdamente sensacional que eu já tinha
lido, mas esse tipo de paradoxo
surreal e bizarro normalmente
não encontra financiamento."
Depois de ler apenas 40 páginas
do script, Cusack ligou para seu
agente e disse que se um dia, por
alguma razão que ele não conseguia ali conceber, aquele filme
saísse do papel, ele faria questão
de participar. "Eu disse que pagaria para trabalhar. E podem acreditar: se fosse preciso, teria pago."
Não foi preciso. Para surpresa do
ator, o filme conseguiu levantar
US$ 12 milhões e ser rodado.
Cusack, 32, filho de uma professora e de um escritor, nasceu em
Chicago e desde cedo começou a
atuar. Porque sua educação foi,
de certa forma, alternativa para
os padrões americanos (seu pai o
encorajava a questionar a autoridade e o sistema), ele trouxe para
a vida adulta uma avaliação mais
criteriosa da escolha dos papéis
que interpreta.
Talvez por isso Cusack seja
mais conhecido pelos filmes que
recusou ("Proposta Indecente",
"Dormindo com o Inimigo" e
"Apollo 13") do que pelos que ele
fez (como "Os Imorais" e "Além
da Linha Vermelha").
Mas é exatamente esse lado
mais político que faz de John Cusack escolha certa para filmes como "Malkovich". Interpretar
Craig -um marionetista desempregado que mora com sua mulher e vários animais num apartamento em Nova York e que, ao
encontrar trabalho como arquivista no sétimo e meio andar de
um prédio, concebido originalmente para anões, descobre um
portal para a cabeça do ator John
Malkovich, desencadeando assim uma série de acontecimentos
tão ou mais absurdos (impossível
encontrar descrição coerente para um filme tão cheio de esquisitices)- caiu como uma luva.
""Malkovich" é o roteiro mais
improvável que já vi, um filme
cheio de sutis genialidades; absolutamente fantástico", disse o
ator.
Mas Cusack diz que a idéia de
concretizar o filme continuou a
ser irreal mesmo nas filmagens.
"Não entrava na minha cabeça
em que circunstâncias Hollywood ia nos deixar sair ilesos com
um filme em que quase todas as
linhas ironizam a indústria. Todos os dias eu tinha certeza de
que alguma autoridade ia entrar
no estúdio e dizer: "Já chega, vamos acabar com essa palhaçada,
todos fora daqui agora'".
Não aconteceu. E o filme ainda
conseguiu três indicações para o
Oscar (roteiro, de Charlie Kaufman; atriz coadjuvante, para Catherine Keener, e diretor, Spike
Jonze). Quando questionado se
achava que "Quero Ser John Malkovich" tinha alguma chance de
arrecadar uma estatueta no próximo domingo, Cusack riu. "Depois que esse filme saiu do papel,
tudo é possível", emendou.
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