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29� MOSTRA DE CINEMA
Diretor com trajetória original e mista quebra convenções com temática homoerótica em faroeste vencedor de Veneza
Ang Lee subverte bela história de amor
CRÍTICO DA FOLHA
Se algum dia Clint Eastwood fizesse um faroeste gay, provavelmente ele se pareceria muito
com "Brokeback Mountain", de
Ang Lee, vencedor do Leão de
Ouro no último Festival de Veneza, que a Mostra de SP exibe apenas hoje, em duas salas. Evidentemente, entre Eastwood e Lee existe uma distância significativa em
termos de talento e experiência,
mas não são poucos os momentos em que "Brokeback Mountain" lembra, por exemplo, o belo
e subestimado "As Pontes de Madison", que Eastwood estrelou e
dirigiu em 1995.
Ambos lidam com a mesma
matéria bruta: um amor intenso,
podado pelas convenções sociais.
Ambos trazem em comum o fato
de terem cenários como títulos. A
montanha Brokeback de Lee e as
pontes cobertas de Eastwood são
imagens carregadas de simbologia e desejo lindamente enquadradas pela câmera -"leitos" do
nascimento e concretização desse
amor. Os dois filmes são, ainda,
afirmativos e tristes na medida
em que apostam em uma paixão
viva que se realiza, mas que é duramente minada pelo seu potencial subversivo.
Em "Brokeback Mountain", essa paixão acontece entre dois homens. Jack Twist (Jake Gyllenhaal) e Ennis del Mar (Heath
Ledger) se conhecem no verão de
1963, quando trabalham juntos
tomando conta de um rebanho de
ovelhas. Durante anos, cultivarão
um amor escondido das suas vidas oficiais, cada um com sua mulher e filhos.
Lee, como Eastwood, constrói
essa relação com tempo e delicadeza. Não tem pressa e, tampouco, medo da emoção ou das imagens belas, elementos tão mal utilizados hoje em dia. É corajosa a
falta de pudor do cineasta em trabalhar esses elementos. O homoerotismo está longe de ser tratado
com ironia e sublimação, como
em tantos outros faroestes (quem
não se lembra da clássica seqüência em que Montgomery Clift e
John Ireland comparando suas
armas em "Rio Vermelho", de
Howard Hawks?). Aqui há uma
rara e franca aproximação da
atração física e sentimental que
nasce entre dois homens, como
raramente se vê, também, em filmes que tratam de amores entre
um homem e uma mulher.
Por fim, o que dizer de um cineasta que vem de gêneros tão
distintos como o épico de artes
marciais ("O Tigre e o Dragão"), o
quadrinho em movimento
("Hulk") e agora essa recriação do
faroeste em novos termos? Esses
três filmes, cada um deles original
e pessoal, mostram como Ang Lee
vem traçando uma trajetória interessante, procurando contrabandear sutis e significativas subversões para o interior do cinema
mais convencional. "Brokeback
Mountain" corre o risco de ser
desprezado por sua maior qualidade: querer simplesmente contar uma história de amor da forma mais bonita possível.
(PEDRO BUTCHER)
Brokeback Mountain
Direção: Ang Lee
Quando: hoje, às 22h, em duas salas do
Frei Caneca Unibanco Arteplex
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