São Paulo, sábado, 21 de maio de 2005

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ESTÉTICA

Filósofo trava debate acirrado sobre "O Jogo do Belo e do Feio" com os críticos Roberto Schwarz e Rodrigo Naves

Giannotti lança livro sobre pintura na USP

MAURICIO PULS
DA REDAÇÃO

O filósofo José Arthur Giannotti lançou anteontem o livro "O Jogo do Belo e do Feio" (Companhia das Letras, R$ 39) em um debate acirrado com os críticos Roberto Schwarz e Rodrigo Naves no Centro Universitário Maria Antonia, da Universidade de São Paulo.
Segundo Giannotti, devemos pensar a pintura a partir do conceito de jogo de linguagem, de Wittgenstein. Um quadro não é uma cópia de um objeto, mas uma proposição que substitui o referencial ordinário da imagem por um conjunto de significados.
Por isso uma obra de arte é sempre ambígua, pois pode ser vista de perspectivas diversas. Um bom retrato não é apenas a imagem de um indivíduo, mas um quadro cujos significados vão além desse indivíduo. A criação pictórica exige, portanto, um desvirtuamento da referência usual da imagem.
Assim, a pintura não reproduz o real, mas o possível: "A arte plástica é uma invenção de mundos, ela é uma expansão do nosso mundo". Em vez de pensar o mundo como ele é, os quadros criam mundos diferentes, e essa criação é racional, já que consiste num processo de racionalização que amplia o mundo tal como é dado.
Roberto Schwarz, por sua vez, criticou o colega por declarar Adorno "um pensador nulo" e por dizer que Walter Benjamin não foi capaz de ver a redefinição da arte na sociedade moderna. Em seguida, questionou o título do livro: "Por que chamar jogo o processo pelo qual as sociedades modernas vão escolhendo e definindo o seu visual?". Jogo é um termo que, na tradição filosófica, está ligado à busca da liberdade. Ora, o que caracteriza o capitalismo é uma fusão de produção e publicidade que afeta nossas noções de belo e feio -as quais, segundo Schwarz, Giannotti entende de maneira um tanto ingênua.
Segundo o crítico, um objeto pictórico nos mostra uma imagem e os meios com os quais ela é construída. O problema é que esses meios não existem apenas na imagem, mas também fora dela. Giannotti, porém, achata essa historicidade da obra -embora reconheça que o espectador é um habitante do mundo, cuja percepção é condicionada por sua vida.
Schwarz destacou as semelhanças entre Giannotti e Benjamin, pois ambos defendem uma relação distanciada com a arte, que não deve ser um objeto de veneração, mas um estímulo para a reflexão. Ele observou porém que esse distanciamento crítico em relação à obra era válido na época de Benjamin, mas não hoje, pois passou a integrar a lógica da publicidade.
Ele criticou Giannotti por não considerar a obra de arte como portadora de um saber: "Machado de Assis não nos ensinou nada sobre a sociedade brasileira?".
Giannotti respondeu que sempre discordou de Schwarz sobre estética e que várias páginas de seu livro se voltavam diretamente contra ele: "É uma tese anti-Roberto". Afirmou que sua noção de imagem não era a de Benjamin, "a imagem como presença da coisa ausente", pois esta supõe uma semelhança entre a obra e o real. Ora, uma obra não é necessariamente um discurso verdadeiro, pois os quadros são ambivalentes.
Giannotti afirmou que, em oposição a Schwarz, sua preocupação não é a gênese das obras de arte, mas sua estrutura, sua gramática: a gênese explica como uma obra surgiu, e não se ela é boa ou não.
Por fim, Rodrigo Naves considera que a teoria de Giannotti não é aplicável à pintura abstrata, pois pressupõe uma bipolaridade entre o "ver algo" e o "ver". Se não há um "algo" visível, a argumentação do filósofo não se sustenta.


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