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ESTÉTICA
Filósofo trava debate acirrado sobre "O Jogo do Belo e do Feio" com os críticos Roberto Schwarz e Rodrigo Naves
Giannotti lança livro sobre pintura na USP
MAURICIO PULS
DA REDAÇÃO
O filósofo José Arthur Giannotti
lançou anteontem o livro "O Jogo
do Belo e do Feio" (Companhia
das Letras, R$ 39) em um debate
acirrado com os críticos Roberto
Schwarz e Rodrigo Naves no Centro Universitário Maria Antonia,
da Universidade de São Paulo.
Segundo Giannotti, devemos
pensar a pintura a partir do conceito de jogo de linguagem, de
Wittgenstein. Um quadro não é
uma cópia de um objeto, mas
uma proposição que substitui o
referencial ordinário da imagem
por um conjunto de significados.
Por isso uma obra de arte é sempre ambígua, pois pode ser vista
de perspectivas diversas. Um bom
retrato não é apenas a imagem de
um indivíduo, mas um quadro
cujos significados vão além desse
indivíduo. A criação pictórica exige, portanto, um desvirtuamento
da referência usual da imagem.
Assim, a pintura não reproduz o
real, mas o possível: "A arte plástica é uma invenção de mundos, ela
é uma expansão do nosso mundo". Em vez de pensar o mundo
como ele é, os quadros criam
mundos diferentes, e essa criação
é racional, já que consiste num
processo de racionalização que
amplia o mundo tal como é dado.
Roberto Schwarz, por sua vez,
criticou o colega por declarar
Adorno "um pensador nulo" e
por dizer que Walter Benjamin
não foi capaz de ver a redefinição
da arte na sociedade moderna.
Em seguida, questionou o título
do livro: "Por que chamar jogo o
processo pelo qual as sociedades
modernas vão escolhendo e definindo o seu visual?". Jogo é um
termo que, na tradição filosófica,
está ligado à busca da liberdade.
Ora, o que caracteriza o capitalismo é uma fusão de produção e
publicidade que afeta nossas noções de belo e feio -as quais, segundo Schwarz, Giannotti entende de maneira um tanto ingênua.
Segundo o crítico, um objeto
pictórico nos mostra uma imagem e os meios com os quais ela é
construída. O problema é que esses meios não existem apenas na
imagem, mas também fora dela.
Giannotti, porém, achata essa historicidade da obra -embora reconheça que o espectador é um
habitante do mundo, cuja percepção é condicionada por sua vida.
Schwarz destacou as semelhanças entre Giannotti e Benjamin,
pois ambos defendem uma relação distanciada com a arte, que
não deve ser um objeto de veneração, mas um estímulo para a reflexão. Ele observou porém que esse
distanciamento crítico em relação
à obra era válido na época de Benjamin, mas não hoje, pois passou
a integrar a lógica da publicidade.
Ele criticou Giannotti por não
considerar a obra de arte como
portadora de um saber: "Machado de Assis não nos ensinou nada
sobre a sociedade brasileira?".
Giannotti respondeu que sempre discordou de Schwarz sobre
estética e que várias páginas de
seu livro se voltavam diretamente
contra ele: "É uma tese anti-Roberto". Afirmou que sua noção de
imagem não era a de Benjamin, "a
imagem como presença da coisa
ausente", pois esta supõe uma semelhança entre a obra e o real.
Ora, uma obra não é necessariamente um discurso verdadeiro,
pois os quadros são ambivalentes.
Giannotti afirmou que, em oposição a Schwarz, sua preocupação
não é a gênese das obras de arte,
mas sua estrutura, sua gramática:
a gênese explica como uma obra
surgiu, e não se ela é boa ou não.
Por fim, Rodrigo Naves considera que a teoria de Giannotti não
é aplicável à pintura abstrata, pois
pressupõe uma bipolaridade entre o "ver algo" e o "ver". Se não
há um "algo" visível, a argumentação do filósofo não se sustenta.
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