São Paulo, Segunda-feira, 20 de Dezembro de 1999


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"CASSINO"

CRISTIAN AVELLO CANCINO
free-lance para a Folha

"Não estou inventando nada. A questão é que Las Vegas perdeu todo o glamour desde que a Máfia foi expulsa. Hoje aquilo lá parece uma Disneylândia para a classe média norte-americana. E não há nada mais cafona do que isso."
Foi assim que o diretor Martin Scorsese defendeu "Cassino" quando acusado, em 1995 - ano de lançamento da produção nos cinemas norte-americanos -, de glamourizar a Máfia.
O filme, contudo, demove a precoce impressão à medida que vai exibindo - ao som de Muddy Waters, Jimmy Smith, Cream etc. - 22 assassinatos, cenas de pancadaria pesada, uma beleza de Sharon Stone aspirando o pó maldito na frente do filho, um Robert De Niro pretensamente elegante, que veste cueca samba-canção e meias brancas sob seus conjuntos aprumadíssimos.
O que parece exacerbar a pancadaria em Las Vegas é a chegada à cidade do arrivista Nicky Santoro (Joe Pesci), nas horas vagas também assassino barato. Ele é recepcionado pelo judeu Sam "Ace" Rotsthein (De Niro), que administra os detalhes do cassino com exatidão matemática.
Muita grana correndo, Sam certa noite se depara com a bela vigarista Ginger (Sharon Stone). Bastou a visão da destreza empregada pela loira no golpe para que o chefão do cassino se apaixonasse, depositando nela confiança que acarretará desajuste e convulsão na sua comedida personalidade.
Nesse mundo de relações conservadas por intenções interesseiras, pragmáticas, ocultadas pela simpatia plástica e corporativista com que seus protagonistas desfilam pela rede de ilusões em Las Vegas, Ginger e Sam destacam-se no deserto como pedras isoladas.
A primeira delas diz respeito ao inconsequente Nicky Santoro. É ele quem vai atiçar o fim da relação e, ainda, chutar o último pilar do castelo de Sam, indispondo-o com os chefões da Máfia.
Mas a mais poderosa força catalisadora da violência estampada no filme é a grana. Tudo no cassino é kitsch demais, soa falso, como propaganda publicitária despertando cobiça e uma virtude indubitável do tempo presente. A montagem de Scorsese e a música ajudam a sedimentar essa impressão. Não é isso o que sentimos também ao ver o trânsito livre de informações, a vertiginosa caudalosidade de informações sem entraves de circulação nesta época de cassino global?
"Cassino" versa sobre a atualidade, relatando a corrupção de nossos afetos, a trágica inversão de valores com a mercantilização das relações humanas.


Avaliação:    


DVD: Cassino Título original: Casino Legendas: português, inglês, espanhol, chinês, coreano, tailandês Tela: widescreen e standard Extras: notas da produção Produção: EUA/França, 95 Distribuição: Columbia


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