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"CASSINO"
CRISTIAN AVELLO CANCINO
free-lance para a Folha
"Não estou inventando nada. A
questão é que Las Vegas perdeu
todo o glamour desde que a Máfia
foi expulsa. Hoje aquilo lá parece
uma Disneylândia para a classe
média norte-americana. E não há
nada mais cafona do que isso."
Foi assim que o diretor Martin
Scorsese defendeu "Cassino"
quando acusado, em 1995 - ano
de lançamento da produção nos
cinemas norte-americanos -, de
glamourizar a Máfia.
O filme, contudo, demove a precoce impressão à medida que vai
exibindo - ao som de Muddy
Waters, Jimmy Smith, Cream etc.
- 22 assassinatos, cenas de pancadaria pesada, uma beleza de
Sharon Stone aspirando o pó maldito na frente do filho, um Robert
De Niro pretensamente elegante,
que veste cueca samba-canção e
meias brancas sob seus conjuntos
aprumadíssimos.
O que parece exacerbar a pancadaria em Las Vegas é a chegada
à cidade do arrivista Nicky Santoro (Joe Pesci), nas horas vagas
também assassino barato. Ele é
recepcionado pelo judeu Sam
"Ace" Rotsthein (De Niro), que
administra os detalhes do cassino
com exatidão matemática.
Muita grana correndo, Sam certa noite se depara com a bela vigarista Ginger (Sharon Stone). Bastou a visão da destreza empregada pela loira no golpe para que o
chefão do cassino se apaixonasse,
depositando nela confiança que
acarretará desajuste e convulsão
na sua comedida personalidade.
Nesse mundo de relações conservadas por intenções interesseiras, pragmáticas, ocultadas pela
simpatia plástica e corporativista
com que seus protagonistas desfilam pela rede de ilusões em Las
Vegas, Ginger e Sam destacam-se
no deserto como pedras isoladas.
A primeira delas diz respeito ao
inconsequente Nicky Santoro. É
ele quem vai atiçar o fim da relação e, ainda, chutar o último pilar
do castelo de Sam, indispondo-o
com os chefões da Máfia.
Mas a mais poderosa força catalisadora da violência estampada
no filme é a grana. Tudo no cassino é kitsch demais, soa falso, como propaganda publicitária despertando cobiça e uma virtude indubitável do tempo presente. A
montagem de Scorsese e a música
ajudam a sedimentar essa impressão. Não é isso o que sentimos também ao ver o trânsito livre de informações, a vertiginosa
caudalosidade de informações
sem entraves de circulação nesta
época de cassino global?
"Cassino" versa sobre a atualidade, relatando a corrupção de
nossos afetos, a trágica inversão
de valores com a mercantilização
das relações humanas.
Avaliação: ![](https://cdn.statically.io/img/www.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
DVD: Cassino
Título original: Casino
Legendas: português, inglês, espanhol,
chinês, coreano, tailandês
Tela: widescreen e standard
Extras: notas da produção
Produção: EUA/França, 95
Distribuição: Columbia
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