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LITERATURA
Poeta tem livro reeditado e dossiê especial na revista "Inimigo Rumor'; filho prepara CD com composições do pai
Prateleiras voltam a ter lirismo de Cacaso
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REDAÇÃO
O poeta Antônio Carlos Ferreira
de Brito -que ninguém chamava
assim, mas de Cacaso- morreu
em 1987, aos 43 anos.
Um de seus seis livros de poesia,
"Beijo na Boca" (75), volta a São
Paulo esta noite, junto com as revistas literárias "Inimigo Rumor",
de poesia, e "Ficções", de prosa,
todos da editora carioca 7 Letras
(leia texto ao lado). A reedição é
ilustrada pelo poeta -que também dava aulas, era crítico literário e letrista.
O último livro de Cacaso em vida foi "Mar de Mineiro" (ele era
de Uberaba, MG), de 1982. Depois
disso, só o póstumo "Beijo na Boca e Outros Poemas", editado em
1985 pela Brasiliense, veio encher
o buraco nas prateleiras deixado
pelo infarto que matou Cacaso.
Pensando nesse vácuo de 15
anos, Carlito Azevedo, 37, editor
das duas revistas literárias que a 7
Letras publica, decidiu dedicar o
oitavo número de "Inimigo Rumor" à obra de Cacaso.
"Desde o primeiro número eu
queria, mas não sabia como, porque não conhecia ninguém da família", conta. Por uma coincidência, um amigo seu, ao saber da dificuldade, o apresentou a Pedro
Landim, 29, filho do poeta.
Landim, por sua vez, se diz o
grande "culpado pelo silêncio"
em torno da obra do pai. Há tempos, conta, queria contatar o crítico literário Davi Arrigucci Jr.,
amigo de Cacaso e detentor dos
cadernos originais do poeta, com
a idéia de lançar um volume de
obras completas. "Faltavam aparecer o Carlito e o Jorge (Viveiros
de Castro, 33, dono da editora)."
Apesar de interessado em reunir todo o trabalho do pai, Landim deixou-se convencer quando
Carlito, que selecionava textos para a "Inimigo Rumor", sugeriu relançar "Beijo na Boca". "Foi uma
"sacação" muito boa do Carlito,
porque é a obra mais atemporal
de meu pai", conta Landim.
Enquanto não lê todos os cadernos do pai para, assim, organizar
a compilação de sua obra como
pretende, Landim trata de preparar um CD com regravações de
composições de Cacaso.
Ele diz que o CD é fundamental
para a redescoberta da obra de
seu pai. "Não dá para reeditar Cacaso sem falar de música. O mais
forte da obra dele, para mim, são
as canções", compostas com parceiros como Jards Macalé, Sivuca,
Edu Lobo e Tom Jobim.
Já Carlito Azevedo considera a
simplicidade e o registro do cotidiano as maiores qualidades da
obra de Cacaso, tanto nos poemas
como nas letras.
Ele enxerga uma mudança nos
rumos da poesia brasileira, que
estaria saindo de um momento
"verborrágico" para outro, "que
resgata a linhagem modernista, a
lição de Bandeira, de Drummond", referências confessas de
Cacaso, o que faria o momento
oportuno para o relançamento.
"Cacaso para mim era um refinador, trabalhava com a fala quase bruta, mas com um retoque
que torna a poesia inesquecível. É
aquela poesia que você olha e fala:
"Eu queria dizer isso e não sabia
como". Cacaso sabia como."
Lançamento: "Beijo na Boca", "Inimigo
Rumor" n� 8 e "Ficções" n� 5
Editora: 7 Letras
Quando: hoje, às 20h
Onde: bar Balcão (r. Melo Alves, 150, tel.
0/xx/11/280-4630)
Quanto: R$ 15 (revistas)
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