São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 2000


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LITERATURA
Poeta tem livro reeditado e dossiê especial na revista "Inimigo Rumor'; filho prepara CD com composições do pai
Prateleiras voltam a ter lirismo de Cacaso

FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REDAÇÃO

O poeta Antônio Carlos Ferreira de Brito -que ninguém chamava assim, mas de Cacaso- morreu em 1987, aos 43 anos.
Um de seus seis livros de poesia, "Beijo na Boca" (75), volta a São Paulo esta noite, junto com as revistas literárias "Inimigo Rumor", de poesia, e "Ficções", de prosa, todos da editora carioca 7 Letras (leia texto ao lado). A reedição é ilustrada pelo poeta -que também dava aulas, era crítico literário e letrista.
O último livro de Cacaso em vida foi "Mar de Mineiro" (ele era de Uberaba, MG), de 1982. Depois disso, só o póstumo "Beijo na Boca e Outros Poemas", editado em 1985 pela Brasiliense, veio encher o buraco nas prateleiras deixado pelo infarto que matou Cacaso.
Pensando nesse vácuo de 15 anos, Carlito Azevedo, 37, editor das duas revistas literárias que a 7 Letras publica, decidiu dedicar o oitavo número de "Inimigo Rumor" à obra de Cacaso.
"Desde o primeiro número eu queria, mas não sabia como, porque não conhecia ninguém da família", conta. Por uma coincidência, um amigo seu, ao saber da dificuldade, o apresentou a Pedro Landim, 29, filho do poeta.
Landim, por sua vez, se diz o grande "culpado pelo silêncio" em torno da obra do pai. Há tempos, conta, queria contatar o crítico literário Davi Arrigucci Jr., amigo de Cacaso e detentor dos cadernos originais do poeta, com a idéia de lançar um volume de obras completas. "Faltavam aparecer o Carlito e o Jorge (Viveiros de Castro, 33, dono da editora)."
Apesar de interessado em reunir todo o trabalho do pai, Landim deixou-se convencer quando Carlito, que selecionava textos para a "Inimigo Rumor", sugeriu relançar "Beijo na Boca". "Foi uma "sacação" muito boa do Carlito, porque é a obra mais atemporal de meu pai", conta Landim.
Enquanto não lê todos os cadernos do pai para, assim, organizar a compilação de sua obra como pretende, Landim trata de preparar um CD com regravações de composições de Cacaso.
Ele diz que o CD é fundamental para a redescoberta da obra de seu pai. "Não dá para reeditar Cacaso sem falar de música. O mais forte da obra dele, para mim, são as canções", compostas com parceiros como Jards Macalé, Sivuca, Edu Lobo e Tom Jobim.
Já Carlito Azevedo considera a simplicidade e o registro do cotidiano as maiores qualidades da obra de Cacaso, tanto nos poemas como nas letras.
Ele enxerga uma mudança nos rumos da poesia brasileira, que estaria saindo de um momento "verborrágico" para outro, "que resgata a linhagem modernista, a lição de Bandeira, de Drummond", referências confessas de Cacaso, o que faria o momento oportuno para o relançamento.
"Cacaso para mim era um refinador, trabalhava com a fala quase bruta, mas com um retoque que torna a poesia inesquecível. É aquela poesia que você olha e fala: "Eu queria dizer isso e não sabia como". Cacaso sabia como."


Lançamento: "Beijo na Boca", "Inimigo Rumor" n� 8 e "Ficções" n� 5 Editora: 7 Letras Quando: hoje, às 20h Onde: bar Balcão (r. Melo Alves, 150, tel. 0/xx/11/280-4630) Quanto: R$ 15 (revistas)


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