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ROCK IN RIO
QUEENS OF THE STONE AGE
Líder do grupo, o guitarrista e vocalista Joshua Homme concedeu entrevista de Los Angeles
"Sexo, drogas e rock por um mundo melhor"
LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Agora que o furacão Guns N"
Roses já foi embora e descontando que no caminho há o dia teen
(sem preconceito aqui), as atenções roqueiras vão estar voltadas
para a sexta, quando atrações do
rock pesado se revezam no Palco
Mundo do Rock in Rio 3.
Iron Maiden: tudo bem. Show
do Rob Halford: vai ser engraçado ver. Sepultura: banda brasileira digna de respeito, que vai tocar músicas do disco novo.
Mas as ditas "atenções roqueiras" se referem mesmo (ou pelo
menos deveriam) à apresentação
da banda Queens of the Stone
Age, mezzo californiana, mezzo
de Seattle, o mais incensado grupo do rock atual, na voz da cena
indie americana, britânica, japonesa e francesa.
Com dois álbuns e elogios rasgados de todo lado, seja publicações musicais ou artistas, o fenômeno indie QOTSA é guiado pelo guitarrista e vocalista Joshua
Homme, nome conhecidíssimo
no circuito americano do rock
desde que tocava na cultuada
Kyuss, na década passada.
Homme, em recente entrevista
à Folha por telefone, direto de
Los Angeles, não soube explicar
como é que a banda caiu na lista
de convidados do Rock in Rio.
Mas soube explicar, isso sim,
porque acha que sua banda é a
que mais combina com a ambição maior do festival: construir
um mundo melhor. Leia a seguir.
Folha - Vocês são mesmo o melhor grupo de rock a surgir nos últimos anos?
Joshua Homme - (Risos.) Isso
não é para eu decidir. A única
coisa que sei é que tocamos
rock'n'roll. E o que nós tocamos
é o que somos. Nossa música é
real. Eu não tento ser a melhor
banda de rock, apenas o tipo de
música que gosto.
Folha - O QOTSA é o novo Nirvana, assim como o disco "Rated R" é
o novo "Nevermind", e "Feel Good
Hit of the Summer" é a atual
"Smells Like Teen Spirit". É isso?
Homme - Isso é um grande erro.
É bem óbvio que não somos o
Nirvana. Não me sinto como se
fosse um "novo Nirvana". Acho
que a imprensa, a inglesa em particular, há tempos escolhe "novos Nirvanas" pela cor. Em uma
semana anunciam: "Este é o novo Nirvana". Depois diz: "Não.
Este aqui é que é o novo Nirvana". Isso enche.
Folha - Como uma banda novíssima e desconhecida como a sua
foi parar na lista de atrações deste
Rock in Rio? É verdade que foi uma
sugestão do Foo Fighters?
Homme - Não tenho a mínima
idéia. Um dia alguém da minha
gravadora me ligou e disse: "Vocês vão tocar em um festival no
Brasil. Tudo bem?". Amei a idéia.
Aceitamos na hora. Não sei por
que, mas sou um grande fã da
América Latina. Adoro o México, tenho amigos chilenos e muita curiosidade pelo Brasil.
Provavelmente vou estar mais
empolgado com o fato de estar
tocando aí do que as pessoas estarão em me ver. De qualquer
modo, tenho uma expectativa de
encontrar muita energia na hora
do show.
Acho que podemos surpreender bastante gente aí.
Folha - O Rock in Rio é vendido
pelos organizadores como um festival realizado para ajudar na
construção de um mundo social
melhor. Essa posição de paz e
amor e minutos de silêncio contrasta com a linha do Queens of
the Stone Age, cujas letras falam
de drogas e álcool. E aí?
Homme - Na minha opinião,
então, somos a banda que melhor se encaixa no perfil do festival. Rock'n'roll, drogas e sexo fazem um mundo melhor.
Embora concorde que o QOTSA não é exatamente uma banda
politicamente correta, em uma
primeira análise, a música é livre.
A gente está sempre à procura de
"escapes", e o escape é a mais valiosa coisa do mundo moderno.
Muita gente não gosta nem se
identifica com seu trabalho. O
que vale para essas pessoas são os
momentos de escape. Não tenho
nada com o que você faça das 9h
às 17h, só acho que é preciso tentar não se arrepender de viver o
que está vivendo. E aí entra uma
busca de liberdade, qualquer que
ela seja. É preciso em algum momento fazer o que gosta.
Não espere. Faça agora.
Folha - Vocês tocam na mesma
noite de Sepultura, Rob Halford e
Iron Maiden. O Queens of the Stone Age se sente bem em tal companhia?
Homme - Acho essas bandas
mais pesadas que a nossa, em um
estilo heavy metal. Tocamos sujo, pesado, mas mais rock'n'roll.
Mas gosto de tocar com o Sepultura, que já fez discos muito
bons. E Rob Halford é um sujeito
muito legal ("kick ass guy").
Mas não interessa muito com
quem vamos tocar. Só quero me
divertir e conhecer pessoas no
Brasil e em Buenos Aires.
Folha - O que você vê de diferente dos tempos em que tocava com
o Kyuss, na revolução grunge, e
agora, com a época do QOTSA?
Homme - Eu não sei. Toco as
músicas exatamente do mesmo
jeito que tocava naquela época.
Os caras são diferentes, o vocal é
diferente, as canções são mais variadas, mas a idéia é a mesma.
Folha - Qual a sua opinião sobre
a atual boa safra de bandas americanas, que inclui a sua, o At the
Drive In, o Trail of Dead...?
Homme - Adoro essas bandas e
não vejo nenhum problema do
pessoal da imprensa conectar esses grupos e o meu e amarrá-los
em uma cena. Há um mesmo
conceito que está por trás dessas
bandas que é tocar e se sentir
bem em fazer isso. Divertir-se,
não sentir culpa de alguma coisa.
Folha - É verdade que o nome
Queens of the Stone Age (Rainhas
da Idade da Pedra) vem de um
grande número de fãs gays de certa idade que seguia sua ex-banda
Kyuss por todo lugar?
Homme - (Gargalhada.) Não,
não é verdade. É uma lenda que
nosso produtor Chris Goss espalhou para encher nosso saco. Até
existia mesmo um fã-clube gay
do Kyuss, mas não é o caso.
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