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POLÍTICA CULTURAL
Ministro da Cultura diz que fez "mais do que imaginam" e que falta de comunicação foi ponto fraco
Para Weffort, faltou propaganda dos feitos
Sérgio Lima/Folha Imagem
![](https://cdn.statically.io/img/www1.folha.uol.com.br/../images/i1612200201.jpg) |
O ministro da Cultura Francisco Weffort em seu gabinete, durante entrevista na terça passada |
IVAN FINOTTI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Após oito anos na chefia do Ministério da Cultura, o cientista político Francisco Weffort considera
que realizou um bom trabalho.
Tão bom que acha que os pontos fracos de seu mandato foram a
falta de dinheiro, de pessoal e de
propaganda das realizações conquistadas. Também acha que o
novo governo vai seguir sua política cultural. "Todas as políticas
de cultura no Brasil, dos anos 30
para cá, têm sido de estilo democrático. É a política de cultura que,
provavelmente, o PT vai seguir",
afirmou Weffort à Folha na terça-feira passada, enquanto fumava
um charuto nacional. A seguir,
trechos da entrevista.
Folha - Alguns colunistas de
grandes meios de comunicação, como Elio Gaspari, da Folha, e Diogo
Mainardi, da "Veja", criticaram
muito seu trabalho. Disseram que o
senhor foi um ministro irrelevante
e omisso. O senhor foi?
Francisco Weffort - Nós fizemos
25 mil projetos, eu não considero
isso irrelevante. Em oito anos, isso
significa 3.000 projetos por ano.
Se você calcular 300 dias de trabalho, significa dez projetos por dia.
Folha - E o senhor consegue ler
tudo isso?
Weffort - Eu não tenho que ler
tudo isso. Isso foi feito pelo ministério. Agora, chamar isso de irrelevante eu acho que é indicação de
ignorância de quem escreveu. Eu
acho que toda crítica, em princípio, vale, mas as pessoas precisam
se informar melhor, não é? Está se
fazendo muito mais do que algumas pessoas imaginam.
Folha - Quais o senhor considera
os pontos fortes do Ministério da
Cultura nesses oito anos?
Weffort - Um é a consolidação
do ministério. No segundo ponto,
eu colocaria o patrimônio, que
tem dois projetos muito importantes: o Projeto Monumenta, feito com financiamento do BID, e o
Projeto Resgate da Documentação Histórica Brasileira, relativamente barato em termos de custo.
Um terceiro ponto é a retomada
do cinema. E também as grandes
exposições. Há uma revitalização
no Brasil e, evidentemente, o ministério é parte disso.
Folha - O senhor falou quatro
pontos fortes. Saberia nomear
quatro pontos fracos?
Weffort - Um: seria necessário
aumentar o pessoal. À medida
que crescia o número de projetos,
nós tivemos carência de funcionários. Segundo ponto: uma representação nacional mais adequada. Nós temos delegados só
em São Paulo, Rio, Minas e Pernambuco. Precisaríamos ter delegacias não necessariamente em
cada Estado, mas em mais regiões
do país. Outro ponto: curiosamente, você consegue fazer mais
no poder público do que consegue comunicar. A comunicação é
extremamente difícil, e eu digo
que é um ponto que não foi bom.
E finalmente, por mais que tenham aumentado os recursos, o
dinheiro é pouco. E de 94 até 2002
aumentaram cinco vezes. Ainda
assim é pouco.
Folha - Em relação ao cinema, que
é um dos pontos mais bem comunicados pelo ministério, há críticas.
Como, por exemplo, deixar o cinema depender das leis de mercado e
a falta de filmes mais experimentais. O que o senhor acha disso?
Weffort - Nós vamos ter a Ancine (Agência Nacional de Cinema), que vai se ocupar, sobretudo, do cinema para o mercado. E
o ministério ficará com funções
que serão precisamente ligadas a
essas áreas, como a pesquisa de
linguagem, o documentário de
caráter e formação cultural. Acho
que o mesmo raciocínio deveria
valer para outras áreas. O caminho para resolver essa questão
não é tanto mudar a política, mas
aumentar os recursos, tanto os
que vêm das empresas quanto os
recursos que vêm do orçamento
direto do Estado. Agora, eu não
acho que se deva entender que esse aumento tenha que se fazer em
sacrifício de maior participação
das empresas. As possibilidades
de captação no mercado têm que
continuar crescendo.
Folha - Se a retomada do cinema
brasileiro foi associada ao MinC de
forma positiva nesses anos, o fator
negativo foi o problema dos filmes
"Chatô" e "O Guarani"...
Weffort - Não, o MinC não. O
MinC foi colocado positivamente
porque exerceu a sua função de
fiscalização. Eu não vejo em que
sentido você diz negativamente.
Veja, em relação ao "Chatô" e "O
Guarani" são dois casos em cento
e tantos. Nós temos ainda um terceiro caso, de um produtor de São
Paulo. Quer dizer, qualquer sistema de financiamento, por melhor
que funcione, tem falhas e esse é
um ponto de falha.
Folha - Como o senhor acha que
vai ser o Ministério da Cultura no
governo PT?
Weffort - Em qualquer governo
democrático, seja do PT ou de
qualquer outro, a política de cultura é basicamente a mesma. A
política de cultura foi decidida
por Mário de Andrade e por Rodrigo de Melo Franco [defensor
do patrimônio cultural brasileiro". Todas as políticas de cultura
no Brasil, dos anos 30 para cá, têm
sido de estilo democrático. É sempre o tema da identidade nacional, o tema da vinculação da cultura erudita com a cultura popular, que é muito tipicamente brasileira, não é isso? É sempre o tema de fazer com que a cultura trabalhe na contramão da desigualdade social. A cultura não pode
refletir simplesmente as desigualdades sociais do Brasil, ela tem
que ser uma atividade estrutural,
que tenha consciência disso e que
abra espaço para a crítica dessa
desigualdade. Tudo isso é a política de cultura que, provavelmente,
o PT vai seguir.
Folha - Se o senhor tivesse sido
ministro por oito anos num governo PT teria sido a mesma coisa?
Weffort - Olha, eu não sei se seria
a mesma coisa porque depende
de outra circunstância também,
depende de dinheiro. Não muito,
mas, em todo caso, um pouco
mais de dinheiro ou um pouco
menos. Depende de circunstâncias como o quadro político geral,
da própria movimentação do
país. Eu preferiria dizer o seguinte: que, com toda a probabilidade,
o próximo período da administração do Estado no Brasil na área
da Cultura vai seguir essas linhas
que são básicas e que têm que ser
desenvolvidas e ampliadas.
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