São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 2002

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POLÍTICA CULTURAL

Ministro da Cultura diz que fez "mais do que imaginam" e que falta de comunicação foi ponto fraco

Para Weffort, faltou propaganda dos feitos

Sérgio Lima/Folha Imagem
O ministro da Cultura Francisco Weffort em seu gabinete, durante entrevista na terça passada


IVAN FINOTTI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Após oito anos na chefia do Ministério da Cultura, o cientista político Francisco Weffort considera que realizou um bom trabalho.
Tão bom que acha que os pontos fracos de seu mandato foram a falta de dinheiro, de pessoal e de propaganda das realizações conquistadas. Também acha que o novo governo vai seguir sua política cultural. "Todas as políticas de cultura no Brasil, dos anos 30 para cá, têm sido de estilo democrático. É a política de cultura que, provavelmente, o PT vai seguir", afirmou Weffort à Folha na terça-feira passada, enquanto fumava um charuto nacional. A seguir, trechos da entrevista.

Folha - Alguns colunistas de grandes meios de comunicação, como Elio Gaspari, da Folha, e Diogo Mainardi, da "Veja", criticaram muito seu trabalho. Disseram que o senhor foi um ministro irrelevante e omisso. O senhor foi?
Francisco Weffort -
Nós fizemos 25 mil projetos, eu não considero isso irrelevante. Em oito anos, isso significa 3.000 projetos por ano. Se você calcular 300 dias de trabalho, significa dez projetos por dia.

Folha - E o senhor consegue ler tudo isso?
Weffort -
Eu não tenho que ler tudo isso. Isso foi feito pelo ministério. Agora, chamar isso de irrelevante eu acho que é indicação de ignorância de quem escreveu. Eu acho que toda crítica, em princípio, vale, mas as pessoas precisam se informar melhor, não é? Está se fazendo muito mais do que algumas pessoas imaginam.

Folha - Quais o senhor considera os pontos fortes do Ministério da Cultura nesses oito anos?
Weffort -
Um é a consolidação do ministério. No segundo ponto, eu colocaria o patrimônio, que tem dois projetos muito importantes: o Projeto Monumenta, feito com financiamento do BID, e o Projeto Resgate da Documentação Histórica Brasileira, relativamente barato em termos de custo. Um terceiro ponto é a retomada do cinema. E também as grandes exposições. Há uma revitalização no Brasil e, evidentemente, o ministério é parte disso.

Folha - O senhor falou quatro pontos fortes. Saberia nomear quatro pontos fracos?
Weffort -
Um: seria necessário aumentar o pessoal. À medida que crescia o número de projetos, nós tivemos carência de funcionários. Segundo ponto: uma representação nacional mais adequada. Nós temos delegados só em São Paulo, Rio, Minas e Pernambuco. Precisaríamos ter delegacias não necessariamente em cada Estado, mas em mais regiões do país. Outro ponto: curiosamente, você consegue fazer mais no poder público do que consegue comunicar. A comunicação é extremamente difícil, e eu digo que é um ponto que não foi bom. E finalmente, por mais que tenham aumentado os recursos, o dinheiro é pouco. E de 94 até 2002 aumentaram cinco vezes. Ainda assim é pouco.

Folha - Em relação ao cinema, que é um dos pontos mais bem comunicados pelo ministério, há críticas. Como, por exemplo, deixar o cinema depender das leis de mercado e a falta de filmes mais experimentais. O que o senhor acha disso?
Weffort -
Nós vamos ter a Ancine (Agência Nacional de Cinema), que vai se ocupar, sobretudo, do cinema para o mercado. E o ministério ficará com funções que serão precisamente ligadas a essas áreas, como a pesquisa de linguagem, o documentário de caráter e formação cultural. Acho que o mesmo raciocínio deveria valer para outras áreas. O caminho para resolver essa questão não é tanto mudar a política, mas aumentar os recursos, tanto os que vêm das empresas quanto os recursos que vêm do orçamento direto do Estado. Agora, eu não acho que se deva entender que esse aumento tenha que se fazer em sacrifício de maior participação das empresas. As possibilidades de captação no mercado têm que continuar crescendo.

Folha - Se a retomada do cinema brasileiro foi associada ao MinC de forma positiva nesses anos, o fator negativo foi o problema dos filmes "Chatô" e "O Guarani"...
Weffort -
Não, o MinC não. O MinC foi colocado positivamente porque exerceu a sua função de fiscalização. Eu não vejo em que sentido você diz negativamente. Veja, em relação ao "Chatô" e "O Guarani" são dois casos em cento e tantos. Nós temos ainda um terceiro caso, de um produtor de São Paulo. Quer dizer, qualquer sistema de financiamento, por melhor que funcione, tem falhas e esse é um ponto de falha.

Folha - Como o senhor acha que vai ser o Ministério da Cultura no governo PT?
Weffort -
Em qualquer governo democrático, seja do PT ou de qualquer outro, a política de cultura é basicamente a mesma. A política de cultura foi decidida por Mário de Andrade e por Rodrigo de Melo Franco [defensor do patrimônio cultural brasileiro". Todas as políticas de cultura no Brasil, dos anos 30 para cá, têm sido de estilo democrático. É sempre o tema da identidade nacional, o tema da vinculação da cultura erudita com a cultura popular, que é muito tipicamente brasileira, não é isso? É sempre o tema de fazer com que a cultura trabalhe na contramão da desigualdade social. A cultura não pode refletir simplesmente as desigualdades sociais do Brasil, ela tem que ser uma atividade estrutural, que tenha consciência disso e que abra espaço para a crítica dessa desigualdade. Tudo isso é a política de cultura que, provavelmente, o PT vai seguir.

Folha - Se o senhor tivesse sido ministro por oito anos num governo PT teria sido a mesma coisa?
Weffort -
Olha, eu não sei se seria a mesma coisa porque depende de outra circunstância também, depende de dinheiro. Não muito, mas, em todo caso, um pouco mais de dinheiro ou um pouco menos. Depende de circunstâncias como o quadro político geral, da própria movimentação do país. Eu preferiria dizer o seguinte: que, com toda a probabilidade, o próximo período da administração do Estado no Brasil na área da Cultura vai seguir essas linhas que são básicas e que têm que ser desenvolvidas e ampliadas.


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