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A última do Chatô
Cleo Velleda/Folha Imagem
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A pianista Marlys Gatto segura máscara mortuária de Assis Chateaubriand, o Chatô |
Máscara mortuária de Assis Chateaubriand é encontrada na casa de ex-funcionário do jornalista; ninguém, nem o biógrafo Fernando Morais, sabia da existência do objeto
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CASSIANO ELEK MACHADO
IVAN FINOTTI
da Reportagem Local
1968. Morre Assis Chateaubriand, em São Paulo.
1986. Morre Nelson Gatto, ex-repórter policial dos jornais de
Chateaubriand, também em SP.
1999. A viúva de Gatto resolve
abrir a biblioteca do marido, que
permaneceu trancada por 13
anos. O que encontra, embaixo de
uma batina de padre empoeirada,
lhe dá o "maior susto da vida": a
máscara mortuária de Chateaubriand, uma peça de bronze esverdeado com a inscrição "Darwin - 4-4-1968 - n� 5" no verso.
Esse é o provável último capítulo da saga de uma das maiores
personalidades da imprensa brasileira. Um episódio desconhecido, que aconteceu entre a morte
de Chatô, às 21h30 de 4 de abril de
68, e seu enterro, às 18h do dia 6.
Em algum momento dessas 44
horas e meia, um pintor chamado
Darwin Silveira Pereira esteve
frente a frente com o corpo de seu
ex-chefe. Ali, ele preparou uma
massa especial à base de gesso,
aplicou no rosto de Chateaubriand, esperou 30 minutos, retirou a máscara e sumiu.
Sumiu mesmo, já que nem o
jornalista Fernando Morais, que
ao longo de sete anos entrevistou
164 pessoas para compor a biografia "Chatô - O Rei do Brasil"
(Companhia das Letras), ouviu
falar uma vez ao menos nessa
máscara. "Nunca vi, li ou ouvi falar nada sobre essa máscara mortuária", diz Morais.
Nas 732 páginas de seu livro, o
biógrafo descreve como o paraibano Assis Chateaubriand construiu, a partir de 1924, um império de 90 empresas, com dezenas
de jornais e emissoras de rádio, e
como implementou a televisão no
Brasil, com a TV Tupi, em 1950.
Muitas das pessoas que poderiam ter alguma informação sobre a máscara -como o local e o
momento exato em que ela foi feita ou a possível existência de outros exemplares- estão mortas.
São os casos do próprio Darwin
Pereira (leia texto nesta página),
de José de Souza Fortes (um dos
médicos de Chatô) e de Pietro
Maria Bardi (um de seus melhores amigos, com quem criou o
Masp, Museu de Arte de SP).
Outros não puderam esclarecer
o mistério do objeto mortuário:
Cássio Ravaglia (chefe da equipe
médica), Emília Arauna (enfermeira que acompanhou o jornalista em seus últimos anos) e Gilberto Chateaubriand (filho de
Chatô) afirmaram jamais ter ouvido falar na peça. "Não tenho a
menor idéia dessa máscara", exprime Paulo Cabral, atual presidente dos Diários Associados. No
ano em que Chateaubriand morreu, ele era diretor do grupo em
Minas Gerais.
A julgar pelo local onde a máscara foi encontrada, é provável
que o repórter policial Nelson
Gatto tivesse alguma coisa a ver
com sua feitura. Mas, se teve, levou o segredo para o túmulo, há
14 anos. Sua viúva, Marlys, jamais
ouvira falar nela.
"Há alguns meses, fui mexer na
biblioteca dele. Não abria há 13
anos. Havia, num canto, em uma
caixa de papelão, uma batina de
padre que o Nelson tinha usado
uma vez para enganar o pessoal
do Dops. Lá estava a máscara, sobre duas bandeiras que ele tinha
no escritório dos Diários, a de São
Paulo e a do Brasil", conta Marlys,
que mora em um sobrado na Cidade Vargas, bairro na zona sul
de São Paulo.
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