São Paulo, Sábado, 15 de Janeiro de 2000


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A última do Chatô

Cleo Velleda/Folha Imagem
A pianista Marlys Gatto segura máscara mortuária de Assis Chateaubriand, o Chatô



Máscara mortuária de Assis Chateaubriand é encontrada na casa de ex-funcionário do jornalista; ninguém, nem o biógrafo Fernando Morais, sabia da existência do objeto


CASSIANO ELEK MACHADO
IVAN FINOTTI
da Reportagem Local

1968. Morre Assis Chateaubriand, em São Paulo.
1986. Morre Nelson Gatto, ex-repórter policial dos jornais de Chateaubriand, também em SP.
1999. A viúva de Gatto resolve abrir a biblioteca do marido, que permaneceu trancada por 13 anos. O que encontra, embaixo de uma batina de padre empoeirada, lhe dá o "maior susto da vida": a máscara mortuária de Chateaubriand, uma peça de bronze esverdeado com a inscrição "Darwin - 4-4-1968 - n� 5" no verso.
Esse é o provável último capítulo da saga de uma das maiores personalidades da imprensa brasileira. Um episódio desconhecido, que aconteceu entre a morte de Chatô, às 21h30 de 4 de abril de 68, e seu enterro, às 18h do dia 6.
Em algum momento dessas 44 horas e meia, um pintor chamado Darwin Silveira Pereira esteve frente a frente com o corpo de seu ex-chefe. Ali, ele preparou uma massa especial à base de gesso, aplicou no rosto de Chateaubriand, esperou 30 minutos, retirou a máscara e sumiu.
Sumiu mesmo, já que nem o jornalista Fernando Morais, que ao longo de sete anos entrevistou 164 pessoas para compor a biografia "Chatô - O Rei do Brasil" (Companhia das Letras), ouviu falar uma vez ao menos nessa máscara. "Nunca vi, li ou ouvi falar nada sobre essa máscara mortuária", diz Morais.
Nas 732 páginas de seu livro, o biógrafo descreve como o paraibano Assis Chateaubriand construiu, a partir de 1924, um império de 90 empresas, com dezenas de jornais e emissoras de rádio, e como implementou a televisão no Brasil, com a TV Tupi, em 1950.
Muitas das pessoas que poderiam ter alguma informação sobre a máscara -como o local e o momento exato em que ela foi feita ou a possível existência de outros exemplares- estão mortas.
São os casos do próprio Darwin Pereira (leia texto nesta página), de José de Souza Fortes (um dos médicos de Chatô) e de Pietro Maria Bardi (um de seus melhores amigos, com quem criou o Masp, Museu de Arte de SP).
Outros não puderam esclarecer o mistério do objeto mortuário: Cássio Ravaglia (chefe da equipe médica), Emília Arauna (enfermeira que acompanhou o jornalista em seus últimos anos) e Gilberto Chateaubriand (filho de Chatô) afirmaram jamais ter ouvido falar na peça. "Não tenho a menor idéia dessa máscara", exprime Paulo Cabral, atual presidente dos Diários Associados. No ano em que Chateaubriand morreu, ele era diretor do grupo em Minas Gerais.
A julgar pelo local onde a máscara foi encontrada, é provável que o repórter policial Nelson Gatto tivesse alguma coisa a ver com sua feitura. Mas, se teve, levou o segredo para o túmulo, há 14 anos. Sua viúva, Marlys, jamais ouvira falar nela.
"Há alguns meses, fui mexer na biblioteca dele. Não abria há 13 anos. Havia, num canto, em uma caixa de papelão, uma batina de padre que o Nelson tinha usado uma vez para enganar o pessoal do Dops. Lá estava a máscara, sobre duas bandeiras que ele tinha no escritório dos Diários, a de São Paulo e a do Brasil", conta Marlys, que mora em um sobrado na Cidade Vargas, bairro na zona sul de São Paulo.


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