|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
'Poesia É Risco', um convite irresistível
CARLOS RENNÓ
especial para a Folha
Embora a poesia esteja no centro
de tudo o que ocorre no palco (onde só a presença do poeta já é atração e novidade), é notável como,
em "Poesia É Risco", palavras,
sons e imagens dialogam, sem que
música e vídeo desempenhem papel de mero acompanhamento.
Dessa interpenetração resulta a
poesia do espetáculo.
Um exemplo. Enquanto a leitura
de "Canção Noturna da Baleia",
de Augusto de Campos, termina,
na maior das três telas do fundo do
palco, começa a sequência do mar
em "Limite", de Mário Peixoto.
As imagens se mantêm, em seguida, durante a vocalização de
"Barco Bêbado", a aventura poético-marítima de Rimbaud.
Entre palavras e sons, então, a
relação tecida por pai e filho se faz
íntima, fluida, espontânea. Assim,
ao final de "Cidade City Cité",
ambos improvisam. Cid cria dissonâncias agressivas na guitarra, e
na voz de Campos podem ecoar referências a Walter Franco ou Arrigo Barnabé.
Dirigido pelo poeta e videoartista Walter Silveira, o espetáculo
apresenta o mesmo repertório do
CD homônimo, lançado pela Polygram: poemas de Campos e traduções suas -principalmente de
Rimbaud, mas também de Cummings, Joyce e, claro, do pré-multimídia visionário William Blake.
Uma das apresentações mais
aplaudidas é a de "SOS", de AC.
De implicação tanto física quanto
metafísica, o poema já impressionava pela sua carga de angústia
existencialista, ao tratar da solidão
cósmica do homem e também indagar sobre o pós-vida.
Tem aumentado seu impacto pela dimensão da tela em que é projetado e pela surpreendente animação em vídeo, com seus versos girando em círculos concêntricos ao
redor do SOS nuclear.
A animação de "Poema Bomba" se destaca pela sofisticação e
resulta de árduo trabalho no Laboratório de Sistemas Integráveis da
Escola Politécnica da USP.
"Poesia É Risco" nos convida a
mergulhar olhos e ouvidos livres
nas imagens e nos sons de seus
poemas. Para modernos curtidores da arte em geral, é irresistível o
convite.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|