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TELEVISÃO
Quem globaliza quem?
ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha
A compreensão
dos tecidos sociais
que vão emergindo
com a globalização
acelerada, as novas
tecnologias, os fluxos de imigração que geram colônias de populações desterritorializadas e o enfraquecimento dos estados nacionais desafiam a imaginação dos pensadores contemporâneos.
Bem situado na literatura que
tateia os mistérios de realidades
que fogem aos esquemas holísticos das teorias existentes, o novo
livro de John Sinclair oferece evidências empíricas para os que a
partir de disciplinas diversas, como a economia, a ciência política,
as comunicações, a sociologia, a
antropologia e os estudos culturais pesquisam conceitos que
dêem conta das "complexidades"
contemporâneas.
"Latin American Television, a
Global View" sistematiza o conhecimento da indústria de televisão de línguas portuguesa e espanhola acumulado ao longo dos
últimos 20 anos pelo conhecido
especialista.
O professor de comunicação internacional da Universidade Victoria de Tecnologia, em Melbourne, Austrália, explora as injunções
específicas que indústrias televisivas da América Latina estabelecem entre si e com corporações
multinacionais, em seus países de
origem, mas também fora deles,
para sugerir o conceito de "regiões geolinguísticas" como instrumento para a compreensão de
processos que extrapolam as
fronteiras nacionais e as relações
coloniais.
A noção proposta pelo autor está perfeitamente desenvolvida na
estrutura do livro que se inicia
com capítulos que sintetizam e
comparam a história político-institucional das televisões mexicana
e brasileira. O desenho de cada
perfil pode não trazer muita novidade, e às vezes, até alguma imperfeição.
Mas a comparação sistemática
dos dois casos revela semelhanças
que dão o que pensar especialmente porque sedentos por marcar a artificialidade de um rótulo
geográfico que artificialmente
anularia suas diferenças, os latino-americanos evitam se pensar
como tais.
Globalização
O livro concretiza a sua promessa inovadora quando relaciona as indústrias de base local ao
sul do Equador com suas extensões na TV hispânica nos Estados
Unidos e nas ex-metrópoles coloniais, Portugal e Espanha.
A questão é, pergunta Sinclair,
quem está globalizando quem.
Mais do que concluir ou arriscar
previsões definitivas, o autor especula sobre o potencial e as fragilidades de indústrias que até agora demonstraram capacidade de
explorar mercados definidos por
afinidades linguísticas e culturais,
mas que não se propuseram a
competir diretamente com a indústria norte-americana.
Sinclair conclui demonstrando
que o instrumental teórico da indústria cultural, utilizado por
pensadores anglo-saxões para demonstrar a força inexorável do
imperialismo cultural, serve para
mostrar a lógica de crescimento
da indústria latino-americana.
Atento à "complexidade" das
redefinições em curso, o autor
oferece um panorama provocativo e rico em dados empíricos
muito útil à compreensão da rede
de relações que vai surgindo da sinergia entre processos mais ou
menos simultâneos, mas que
ocorrem de maneira específica
nas diferentes partes do globo.
Avaliação: ![](https://cdn.statically.io/img/www.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
Livro: Latin American Television, a
Global View
Autor: John Sinclair
Editora: Oxford University Press
Quanto: US$ 9,95 (187 págs.)
Onde encontrar: www.amazon.com
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