São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2000


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ARTES PLÁSTICAS
Performance de Laura Lima na Arco é censurada; vendas surpreende galeristas brasileiros
Brasileiros são destaque em Madri

Otavio Dias de Oliveira/Folha Imagem
O artista Franklin Cassaro; uma de suas obras quase faz o rei Juan Carlos quebrar o protocolo


JULIANA MONACHESI
enviada especial a Madri


A arte brasileira está criando um auê na Arco, a feira de artes de Madri, na Espanha. Uma performance da artista Laura Lima foi censurada na noite de inauguração da feira e o rei Juan Carlos, por pouco, não quebrou o protocolo e ajoelhou-se para entrar na escultura inflável de Franklin Cassaro.
A censura foi a uma apresentação, que Laura prefere não chamar de performance porque não é ela quem executa, em que dois homens nus, unidos por um "capuz siamês", encenam um jogo de forças. Os seguranças da Arco, sob vaias do público, impediram que a apresentação continuasse.
O galerista Ricardo Trevisan, da Casa Triângulo, que representa a artista, foi reclamar com a organização da feira, explicando que aquele trabalho havia sido selecionado por um grupo de curadores para ser apresentado no "project room" da Arco. Só assim os performers puderam prosseguir.
Horas depois do episódio, logo no início da abertura, quarta-feira à noite, foi a vez de outro trabalho monopolizar as atenções na feira. Foi quando o rei Juan Carlos, acompanhado de um vasto cerimonial, deteve-se diante da sala de Franklin Cassaro e fez menção de entrar no inflável -foi desaconselhado por seus seguranças.
Eliane Senna e Maria José Baró, donas da galeria Baró Senna, ficaram exultantes. A obra, um convite à interação, está na mira de instituições estrangeiras. Segundo as galeristas, vários representantes de instituições demonstraram interesse, e a galeria já fechou um acordo com o Sintra Museu de Arte Moderna, em Portugal, para expor o trabalho do artista.
Na quinta-feira, Laura Lima apresentou outra performance: a de uma garota a quem ela dá um comprimido para dormir e que fica em sono profundo com um tubo na cabeça, colado na estrutura arquitetônica.
As vendas estão surpreendendo os brasileiros. A galeria Camargo Vilaça vendeu, em um único dia de feira, 14 obras e teve outras 12 reservadas, segundo sua nova consultora, Isabella Prata.
A Casa Triângulo recebeu vários pedidos de reserva de obras, inclusive por parte da Fundação Arco, e vendeu desenhos de Sandra Cinto e Laura Lima, além de sete obras de Albano Afonso ao colecionador brasileiro José Olympio Pereira.
As galerias brasileiras no segmento "cutting edge", que apresenta galerias novas, também têm motivos para comemorar. A Baró Senna vendeu quatro obras nos dois primeiros dias de feira.
A Brito Cimino vendeu obras de Ana Maria Tavares, Rochelle Costi e Nazareth Pacheco. Fábio Cimino acredita que isso seja resultado da visibilidade que as artistas conquistaram em outras edições da Arco e mostras internacionais.
No ano que vem, a participação brasileira deve se alargar. Rejane Cintrão, curadora-assistente do MAM de São Paulo, afirmou, em visita à Arco, que o museu tem planos de colocar um estande institucional na feira. Essa participação terá como objetivo divulgar e ampliar o Conselho Internacional do MAM e o Conselho Contemporâneo, em formação.
A curadora está em boa companhia nessa visão do papel cultural da feira. Na abertura da Arco, o crítico italiano Achille Bonito Oliva, responsável pela escolha das galerias italianas na feira, afirmou que alguns poucos museus no mundo monopolizam o gosto, o que terminará por matar o público, cabendo a artistas e galerias ter um papel mais ativo.


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