São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2000


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FESTIVAL DE BERLIM
"Grass" abriu a noite da sessão Panorama Documento
Filme pesquisa o século da maconha nos EUA

AMIR LABAKI
enviado especial a Berlim


O canadense Ron Mann abriu anteontem à noite a sessão paralela Panorama Documento com uma divertida viagem por um século de maconha nos EUA. "Grass" abarca do ingresso da erva por meio de imigrantes mexicanos do início do século 20 à política repressiva do não-tragador Bill Clinton.
Mann não faz apologia da maconha, mas escancara sua simpatia por toda campanha favorável à legalização de seu consumo. Seu filme ilustra bem a evolução da política oficial norte-americana com uma extensa seleção de canções, filmes e telesséries que trataram da erva.
Cab Calloway, Peter Tosh e John Lennon destacam-se entre os intérpretes musicais. Um impressionante e hilário arsenal de filmes educativos lidando com os "perigos" da maconha foi desenterrado dos arquivos por Mann.
Do material televisivo, os mais marcantes são um episódio ultraconservador do seriado policial "Dragnet" e um esquete de rolar de rir de Chevy Chase em "Saturday Night Live".
De forma sóbria e elegante, o ator Woody Harrelson ("Assassinos por Natureza") empresta a voz para a econômica narração. Ron Mann prefere impulsionar o filme por meio de trechos bem escolhidos e eficientes letreiros e gráficos.
Seu grande personagem é Henry Anslinger. Por mais de 30 anos, foi ele o grande xerife do Federal Bureau of Narcotics (Secretaria Federal de Narcóticos), sobrevivendo a cinco presidentes, até sua aposentadoria já na breve era Kennedy.
Anslinger liderou a equiparação em termos legais da maconha a drogas pesadas como heroína. Foi decisivo para a extensão internacional dessa política por meio da ONU. Merece um filme só dele. Um bom título seria "O McCarthy das Drogas".
A estréia européia de "Grass" foi precedida pelo curta "Psycho Path" (perdendo o trocadilho, uma tradução seria "Caminho para Psicose"). O making of da homoerótica refilmagem de "Psicose", por Gus van Sant, é meia hora de pura babação.
Há o de sempre: entrevistas com diretor, equipe e intérpretes, trechos de ensaios, depoimentos de amigos elogiando o projeto (Andrei Konchalovsky, Buck Henry). Patricia, a filha de Hitchcock, garante que o pai estaria "orgulhoso" dos "remakes". Mais cético, o assistente do mestre, Hilton Green, adverte que Van Sant trilha "terreno sagrado".
Mas o diretor, sinteticamente batizado com DJ, marca alguns pontos. Revela uma curiosa revisita ao assassinato no chuveiro dirigida por Gus van Sant já em 1979. Extrai ainda do roteirista Joseph Stefano uma declaração em que, embora reconheça não ter criado Norman Bates originalmente como um homossexual, concede que "isso bem pode estar lá". Gus agradece.


O jornalista Amir Labaki viajou a convite da organização do festival.


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