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FESTIVAL DE BERLIM
"Grass" abriu a noite da sessão Panorama Documento
Filme pesquisa o século da maconha nos EUA
AMIR LABAKI
enviado especial a Berlim
O canadense Ron Mann abriu
anteontem à noite a sessão paralela Panorama Documento com
uma divertida viagem por um século de maconha nos EUA.
"Grass" abarca do ingresso da erva por meio de imigrantes mexicanos do início do século 20 à política repressiva do não-tragador
Bill Clinton.
Mann não faz apologia da maconha, mas escancara sua simpatia por toda campanha favorável à
legalização de seu consumo. Seu
filme ilustra bem a evolução da
política oficial norte-americana
com uma extensa seleção de canções, filmes e telesséries que trataram da erva.
Cab Calloway, Peter Tosh e
John Lennon destacam-se entre
os intérpretes musicais. Um impressionante e hilário arsenal de
filmes educativos lidando com os
"perigos" da maconha foi desenterrado dos arquivos por Mann.
Do material televisivo, os mais
marcantes são um episódio ultraconservador do seriado policial
"Dragnet" e um esquete de rolar
de rir de Chevy Chase em "Saturday Night Live".
De forma sóbria e elegante, o
ator Woody Harrelson ("Assassinos por Natureza") empresta a
voz para a econômica narração.
Ron Mann prefere impulsionar o
filme por meio de trechos bem escolhidos e eficientes letreiros e
gráficos.
Seu grande personagem é
Henry Anslinger. Por mais de 30
anos, foi ele o grande xerife do Federal Bureau of Narcotics (Secretaria Federal de Narcóticos), sobrevivendo a cinco presidentes,
até sua aposentadoria já na breve
era Kennedy.
Anslinger liderou a equiparação
em termos legais da maconha a
drogas pesadas como heroína. Foi
decisivo para a extensão internacional dessa política por meio da
ONU. Merece um filme só dele.
Um bom título seria "O McCarthy
das Drogas".
A estréia européia de "Grass"
foi precedida pelo curta "Psycho
Path" (perdendo o trocadilho,
uma tradução seria "Caminho
para Psicose"). O making of da
homoerótica refilmagem de "Psicose", por Gus van Sant, é meia
hora de pura babação.
Há o de sempre: entrevistas
com diretor, equipe e intérpretes,
trechos de ensaios, depoimentos
de amigos elogiando o projeto
(Andrei Konchalovsky, Buck
Henry). Patricia, a filha de Hitchcock, garante que o pai estaria
"orgulhoso" dos "remakes". Mais
cético, o assistente do mestre, Hilton Green, adverte que Van Sant
trilha "terreno sagrado".
Mas o diretor, sinteticamente
batizado com DJ, marca alguns
pontos. Revela uma curiosa revisita ao assassinato no chuveiro dirigida por Gus van Sant já em
1979. Extrai ainda do roteirista Joseph Stefano uma declaração em
que, embora reconheça não ter
criado Norman Bates originalmente como um homossexual,
concede que "isso bem pode estar
lá". Gus agradece.
O jornalista Amir Labaki viajou a convite da
organização do festival.
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