São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2000


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Cinema nacional entrega hoje seu primeiro 'Oscar'


Em crise, setor faz festa em meio a denúncias e discussão de auditoria em filmes



DANIEL CASTRO
da Reportagem Local

Desfocado por denúncias de supostos desvios de verbas públicas, o cinema nacional faz hoje sua primeira grande celebração desde a chamada "retomada" da produção, a partir de 1994.
O Grande Prêmio Cinema Brasil pretende ser o "Oscar" do cinema brasileiro e deverá contar com a presença do presidente Fernando Henrique Cardoso. Acontece num momento em que o cinema nacional -em crise pelas irregularidades de "Chatô, o Rei do Brasil" e "O Guarani"- discute mudanças nas duas leis de incentivo fiscal à cultura que sustentam a produção nacional.
Cineastas e produtores do Rio de Janeiro promoveram encontros quase todos os dias desta semana. Ontem, foram ouvidos pelo ministro da Cultura, Francisco Weffort, no Rio de Janeiro.
A Folha apurou que cineastas e o ministério já produziram mais de 20 páginas de propostas de mudança na legislação. A idéia central é fundir as leis Rouanet e do Audiovisual em uma nova.
Além de mais recursos, a virtual nova lei criaria mecanismos rígidos de fiscalização das verbas captadas via renúncia fiscal.
As mudanças, no entanto, devem acontecer antes da nova lei. Já está pronta uma minuta de portaria do Ministério da Cultura (MinC) criando auditorias externas em todas as produções audiovisuais. Os orçamentos dos filmes teriam de prever gastos com empresas especializadas em auditorias contábeis.
O pivô da crise, "Chatô", que seria o filme mais caro da história nacional, R$ 12 milhões, acabou sofrendo intervenção do MinC nesta semana. Inacabado, faltando 15% das cenas, o filme foi dado como "completo" pelo MinC.
Os prazos para captação de recursos -Fontes queria mais R$ 2 milhões- e para apresentação do filme acabaram em dezembro. Agora, Fontes terá de terminá-lo com recursos próprios ou entregá-lo para uma produtora, a ser nomeada pelo MinC, finalizá-lo. Enquanto isso, Fontes continua sob investigação da Comissão de Valores Mobiliários, que fiscaliza o mercado financeiro.
Nos bastidores do mercado cinematográfico também se discute o que teria ocorrido com Norma Bengell, agora investigada pelo Tribunal de Contas da União.
O Ministério da Cultura encontrou duas notas fiscais de empresas fantasmas na prestação de contas do filme, lançado em 96, após consumir US$ 2,5 milhões.
Uma das hipóteses é que as notas frias seriam para cobrir comissões a intermediários -pessoas que negociam a venda de cotas a patrocinadores. Dois cineastas confirmaram à Folha que receberam recentemente propostas de atravessadores. A um deles, o intermediário disse que arrumava R$ 600 mil para o filme, mas exigia metade como comissão.
Isso ocorre porque o cinema nacional depende das leis Rouanet e do Audiovisual, que permitem que empresas invistam em filmes e descontem o aplicado no Imposto de Renda a pagar. Sem elas, o cinema brasileiro ficaria restrito a dois ou três filmes por ano.

A festa
Mudanças, "Chatô" e "O Guarani" devem dominar os bastidores da festa de hoje, para cerca de mil convidados, no hotel Quitandinha, em Petrópolis, Rio de Janeiro, com transmissão ao vivo pelas TVs públicas (Cultura em São Paulo), a partir das 20h.
Serão premiadas -apenas com troféus, não haverá dinheiro- 17 categorias (veja quadro). O prêmio também abrange TV e vídeo.
Uma comissão de 25 pessoas escolheu os cinco finalistas de cada categoria. Dos filmes, concorreram todos os lançados entre outubro de 98 e outubro de 99.
Essa mesma comissão irá decidir o vencedor de 11 categorias. A escolha do melhor filme brasileiro, estrangeiro, diretor, ator, atriz e série de TV caberá a um colegiado de 295 pessoas, a "academia".
Os filmes que concorrem ao título de melhor obra nacional são "Orfeu", "Amor & Cia.", "O Primeiro Dia", "Por Trás do Pano" e "Um Copo de Cólera". "O Primeiro Dia" teve oito indicações.
O cine nacional comemora prêmios internacionais, crescimento de público (foram 5,2 milhões de espectadores em 99, contra 3,8 milhões em 98) e a produção de 116 longas nos últimos cinco anos.
Mas sofre com a queda de captação de recursos -foram R$ 51 milhões em 99, contra R$ 112 milhões em 97. Sofre também com a falta de estrutura para exibição e divulgação. Um estudo do próprio Ministério da Cultura revela que, na média geral, os filmes nacionais arrecadam nas bilheterias menos de 40% do que custam.

Acompanhe a premiação em tempo real no site www.uol.com.br/fol


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