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ANÁLISE
Sherlock Holmes e seus pastiches
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Puristas detestaram o "Sherlock Holmes" de Guy Ritchie,
em cartaz em circuito comercial. O cerebral detetive virou
um homem que distribui socos.
O filme foi comparado com "O
Código Da Vinci" pela trama
envolvendo magia. Já o violento Holmes foi comparado a Batman e a James Bond. Um crítico afirmou que o homoerotismo que perpassa o filme era "O
Segredo de Brokeback Mountain" sem sexo...
Os puristas esquecem que
Holmes ganhou vida própria. É
mais famoso que o criador, o
escritor escocês sir Arthur Conan Doyle (1859-1930). Tanto
que o detetive foi ressuscitado
pelo próprio por pressão popular (e um incentivo financeiro).
Outros escritores cometeram pastiches, roubando a dupla Holmes-Watson. O francês
Maurice Leblanc, por exemplo,
usou o detetive como adversário do seu principal personagem, o ladrão Arsène Lupin.
Deu empate, é claro.
Doyle escreveu quatro romances e 56 contos sobre Holmes e Watson. A maioria narrada pelo médico John Watson,
um veterano da intervenção
britânica no Afeganistão. O primeiro livro é de 1887, mas o sucesso começou com contos na
revista "The Strand Magazine",
em 1891.
No centenário da primeira
publicação, uma editora americana lançou um livro com contos escritos por autores atuais.
Stephen King fez o impensável:
uma história em que Watson
descobre o culpado antes.
Cansado do personagem,
Doyle quis matar o detetive em
1893. Ele teria morrido durante
uma briga com seu arquirrival,
professor Moriarty. Em 1901,
Holmes voltou com"O Cão dos
Baskerville", uma aventura
ocorrida antes da morte. O público queria mais e o detetive
voltou vivo da Suíça. A última
história foi publicada em 1927.
A "construção" de Holmes
começava já pelas ilustrações
dos contos publicados na
"Strand". O Holmes icônico
passou a ser o magro e alto desenhado por Sidney Paget.
Também eram importantes a
capa, o boné de pano de caçador
e o cachimbo -que aparecem
pouco por escrito. Assim como
não aparece o "elementar, meu
caro Watson".
Holmes foi interpretado por
mais de 70 atores no cinema e
na TV. A imagem que mais permanece é a de Basil Rathbone.
Ele estrelou filmes, nas décadas
de 30 e 40, com tramas mais
fantasiosas que a do filme atual.
Holmes combatia nazistas.
"Se a concepção original de
Conan Doyle tivesse sido totalmente realizada, nós teríamos
um personagem mais durão e
menos intelectual", escreveu o
escritor britânico Julian
Symons (1912-1994).
Holmes é lembrado por suas
deduções aparentemente sobrenaturais, mas baseadas em
fatos. Muitos esquecem que ele
lutava boxe, saía armado e,
quando voltou à vida, usou arte
marcial para vencer Moriarty.
O Watson bobalhão também
não está nos livros. Ele é, de fato, um colaborador efetivo. O
bobão se deve mais ao ator Nigel Bruce, que fazia o papel nos
filmes de Rathbone.
Ou seja, Ritchie não está tão
errado em colocar Robert Downey Jr. como um Holmes meio
dândi, meio boxeador, e um Jude Law como um Watson mais
bonito e mais homem de ação.
OK, o filme tem um excesso de
explosões e socos. Cada época
"constrói" seu Sherlock.
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