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CRÍTICA
John Cale despreza status de velho ícone no Sesc
da Reportagem Local
Experimente ir ao show de John
Cale -hoje é a última chance-
para ficar comparando-o com velhos ícones em geral. Há muito
pouco em comum. Não há, num
show de John Cale, nenhum impulso exibicionista, nenhuma necessidade extramusical, nada a
provar depois de mais de três décadas de serviço. Pode até parecer
frio por causa disso, mas não é.
Cale, desde sempre desinteressado pela cultura pop de multidão, conta apenas com a música.
Alterna, entre violão, piano e teclado, a voz áspera, às vezes alcoólica, insinuando-se para caber
dentro do amor com que os toca.
Tem na platéia Marianne Faithfull, que foi para beijá-lo no camarim e ouvir três músicas -e ficou
dando sopa no salão-, mas age
discretamente, não amplia o mito
pelo contato com outro mito.
O espírito é blues/country/balada, num retrospecto de carreira
solo de roteiro parecido com o do
álbum ao vivo "Fragments of a
Rainy Season" (92). Passando por
"Child's Christmas in Wales"
(73), "Ship of Fools" (74), "Buffalo Ballet" (74), "Dying on the Vine" (85, linda, linda, linda) e até
"Heartbreak Hotel" (do repertório de Elvis Presley), Cale conduz
um infra-acústico, um espetáculo
de minimalismo, quase de torpor.
O espírito se corrompe quando
Adam Dornblum entra nas programações. Começa a viagem ao
moderno -Cale sempre foi artista de vanguarda-, entre sons eletrônicos, poemas recitados, vozes
sampleadas ("garotas más vão
para o inferno", em "Hallellujah",
"roubada" de Leonard Cohen),
climas pesados, "Gun" (74), toda
retrabalhada. É nesse segmento,
em "A Dream" (90), que o show
vai ao ápice.
Trata-se de arranjo eletronizado
para o tema em que ele e Lou
Reed simulavam, usando a primeira pessoa, serem Andy Warhol, para lembrar histórias do
Velvet Underground.
Aliás, nisso Cale até se parece
com qualquer outro velho ícone
-se é para lembrar o passado,
que seja via novas canções; precisa provar que é melhor do que
quando era jovem. E a gente ficou
sem ouvir qualquer coisa do Velvet Underground.
(PAS)
Avaliação:
Show: John Cale
Quando: hoje, às 21h
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141,
tel. 5080-3147)
Quanto: entrada franca
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