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"IRMÃOS DE FÉ"
Padre Marcelo retorna no papel de si mesmo
CRÍTICO DA FOLHA
Em "Irmãos de Fé", sua nova
incursão fílmico-evangélica,
padre Marcelo propõe associar a
história de são Paulo, narrada nos
"Atos dos Apóstolos", com a de
um jovem marginal paulistano.
Paulo, como se sabe, foi uma
conversão-chave no desenvolvimento do cristianismo. O menino, que tem o mesmo nome, é
preso após uma tentativa de assalto e, graças à intercessão de sua irmã, recebe na cela a visita do padre Marcelo em pessoa, que lhe
presenteia com uma Bíblia.
Como Paulo, o apóstolo, o menino torce o nariz, mas começa a
ler a história do xará, que antes da
conversão era um violento. A leitura o seduz pouco a pouco.
Ao contrário de "Maria, Mãe do
Filho de Deus", desta vez o filme
toca em uma questão controversa, na medida em que diversos
momentos opõem cristãos e judeus -estes últimos na condição
de vilões, claro.
Para limpar a barra, o padre
Marcelo faz uma visita a Jerusalém, no final do filme, quipá na
cabeça, canônico, pregando a paz
entre cristãos, judeus e muçulmanos. Fica um certo mal-estar, nada que se pareça com o que fez
Mel Gibson em sua "Paixão de
Cristo", em todo o caso.
O certo é que o problema aqui,
assim como na discussão que
opõe Paulo a Tiago, é, por assim
dizer, "intracristão".
Nela, Paulo defendia que se
evangelizassem os gentios, inclusive dando-lhes o direito de serem
circuncidados, comerem carne de
porco etc. (em suma, de não seguirem a lei de Moisés). Da mesma forma, o padre Marcelo propõe, hoje, formas heterodoxas de
vínculo ao catolicismo.
Elas não são universalmente
aceitas, é fato sabido (e não será
por acaso que logo no início podemos ver o padre cantando e fazendo cantar, numa seqüência
documental). Essa história de padre popstar encontra resistências
em setores laicos e provavelmente
também no clero. Não esqueçamos que a pregação do padre
Marcelo é de natureza bem mais
política do que possa parecer-se
opõe à parte esquerdista da Igreja
no Brasil, por exemplo.
Com isso, é possível que embole
um pouco o meio de campo do
evangelismo cinematográfico.
"Maria" era um tema que calhava
bem aos católicos e não suscitava
polêmicas. São Paulo é um tanto
controverso e, no mais, leva o filme para discussões até interessantes, porém abstratas.
Moacyr Góes desta vez contenta-se em empacotar a mercadoria,
sem nenhum empenho em especial (ao contrário do que acontecera em "Maria"). Ainda assim, a
proximidade de "Irmãos de Fé"
com uma tradição popular do cinema brasileiro (que nada tem a
ver com o "povo" dos shopping
centers de agora) volta a ser reatada, o que é interessante.
Quem se sai melhor da aventura
é, no fim das contas, o padre Marcelo: faz o papel de si mesmo e fala
frases que certamente deve falar
no dia-a-dia. Não faz o papel ridículo que fez em "Maria".
(INÁCIO ARAUJO)
Irmãos de Fé
Produção: Brasil, 2004
Direção: Moacyr Góes
Com: Thiago Lacerda, padre Marcelo Rossi
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco 8, Continental, HSBC Belas
Artes/Sala Aleijadinho, Interlagos 2 e
circuito
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